“Jesus respondeu: ‘Nem todos são capazes de entender isso, a não ser aqueles a quem é concedido. Com efeito, existem homens incapazes para o casamento, porque nasceram assim; outros, porque os homens assim os fizeram; outros, ainda, se fizeram incapazes disso por causa do Reino dos Céus. Quem puder entender, entenda.’” (Mt 19,11-12)
É difícil para o mundo compreender a dinâmica da vida na Vocação do Matrimônio. Sim, porque o Matrimônio é verdadeiramente uma Vocação, assim como o Sacerdócio. E esse Evangelho me tocou muito.
Leia também| Curiosidades sobre matrimônio
Algumas pessoas realmente não nasceram para a vida comprometida no altar e por isso têm dificuldades de viver à dois, partilhando a vida. Outras pessoas não conseguem ao menos visualizar essa união, por conta de feridas profundas que sofreram. Mas, há aqueles que escolhem, livremente, não viver para si ou para um só: “Se fizeram incapazes disso por causa do Reino dos Céus.”
Se fizeram incapazes
Como é forte contemplar essa escolha tão abandonada que alguns irmãos fazem, de esquecer-se de si para consumir suas vidas pelo bem de tantos. Padres, freiras, religiosos, celibatários leigos, homens e mulheres que corajosamente compreenderam e acolheram em seu coração um Amor que não podia ser dividido com uma pessoa, mas que precisava ser multiplicado por uma humanidade tão carente de afeto; ofertando suas vidas a cada dia, para fazer a diferença, espalhando amor neste mundo ferido por tanto egoísmo.
No Matrimônio, o alvo do amor é mais nuclear: pai, mãe, filhos. No entanto, a grandeza de assumir “se fazer incapaz”, toma entendimento particular: homem e mulher abraçam o esquecimento de si para ser para o outro; permite-se mutuamente a pequenez de ser incapazes para que ambos cresçam juntos.
Em todo tempo (ou estado de vida), se fazer incapaz diante de Deus, é reconhecer Sua grandeza e senhorio. É permitir que Ele seja quem É, e que eu viva para o que sou: esposa, mãe, filha, irmã, pequena, dependente.
Isso não é fraqueza.
É liberdade, leveza, encontro, consciência de si, reconhecimento de Deus. Aquele que me faz ser mais EU quando estou com Ele. Ser incapaz de ser, nos permite exercitar a fé e a esperança; transforma nossa autossuficiência em confiança na Divina Providência. Faz olhar para quem está ao nosso lado e reconhecer aquilo que me falta e me completa.
Sou incapaz de ser só por mim. Mas, sou capaz de tudo na inteireza de Deus, pois só Ele me faz amar melhor para assim, com minha vocação, fazer o Reino dos Céus crescer já aqui na terra.
Girlaine Soares
Consagrada da Comunidade de Aliança
Shalom Rio de Janeiro