O segundo, de cara, diz logo ‘não’ à vontade do pai, é falso, não cumpre o que diz, é daqueles que são pessoas de palavras bonitas, mas não de ações e decisões concretas. É daqueles de aparências, que diante de todos diz sim, mas quando bate a solidão, quando ninguém vê e a decisão de ser fiel é apenas sua, age como se não tivesse feito, outrora, um compromisso diante do Pai e diante dos homens. Este é, ainda, daqueles que, pelo entusiasmo, diz sim com todo o fervor, mas quando se depara com a distância da vinha, com o temṕo que gastará até lá, com as renúncias que terá que fazer ao longo do caminho, com o trabalho que haverá de empenhar, com as belezas que lhe roubam a atenção, ignora o seu sim, como se diz no nordeste, “se faz de doido”.
Já o primeiro, é daqueles pecadores públicos, daqueles que já não tem vergonha e dor no peito em dizer ‘não’. É daqueles que a gente olha e diz: “Esse não vai pra vinha, não adianta nem chamar”. Nem ele mesmo acredita mais em si, ele já sabe que não vai. Talvez até tentou ir algumas vezes e, como o segundo irmão, voltou atrás, por isso se põe a negar. Este é daqueles que, no impulso de suas fraquezas, não quer ao menos tentar outra vez. Porém, este é o primeiro que o Pai chama para confiar-lhe a vinha. O Pai conhecia bem os dois filhos, então por que ele chama o primeiro? Aquele que Ele sabe que dirá não, aquele que talvez já tenha dito “não”, tantas e tantas vezes. Talvez o filho tenha pensado: “Ele tá me chamando de novo? Eu já disse “não”! Não é não!” E, de fato, nós temos coragem de agir assim com a amorosa vontade do Pai para conosco e, descaradamente, dizemos: “não”.
Esta insistência é capaz de tocar aquela parte necrosada, sem vida, que já não consegue perceber a bondade do Pai que nos quer servos de sua vinha para sermos os primeiros a provar da colheita, do fruto mais saboroso, para sermos aqueles que lhes darão as primícias.
Mas a insistência misericordiosa de Deus por nós, é capaz de quebrar a dureza do nosso coração, ferido com os outros, ferido com os nossos próprios fracassos. Esta insistência é capaz de tocar aquela parte necrosada, sem vida, que já não consegue perceber a bondade do Pai que nos quer servos de sua vinha para sermos os primeiros a provar da colheita, do fruto mais saboroso, para sermos aqueles que lhes darão as primícias. Insistência que nos faz perceber sua constância em amar, mesmo em meio às nossas rebeldias. Insistência em acreditar, confiar, santificar, salvar. Insistência que inquieta lá dentro do peito, que nos faz, ao longo do caminho, despertar para o misterioso encontro entre a miséria e a Misericórdia, que nos faz mudar a rota vertendo lágrimas de arrependimento por tantos nãos, por tanto tempo perdido em outras vinhas, por tantas uvas não colhidas, por tanto vinho não provado.
O ímpio agora “viverá como resultado da justiça que passou a praticar”, e “aquele a quem muito foi perdoado”, agora, “demonstrará muito amor” e “cantará eternamente as misericórdias” dAquele que curou o seu coração.
Andreza Aires, Consagrada da Comunidade Católica Shalom.