Quando eu era pequeno, gostava do jeito que os pais dos meus amigos os tratavam e esperava que o meu pai me tratasse da mesma forma, porém ele era agressivo e autoritário. Com o tempo, fui vendo meu pai ser dominado pela bebida. Nunca nos faltou nada em casa, mas o vício dele me incomodava. Eu fazia de tudo para ter sua atenção, mesmo sabendo que iria apanhar, mas teria a presença do meu pai, ainda que fosse nos instantes das surras.
Fui crescendo e tudo o que vivi em minha infância gerou uma grande raiva dentro de mim, por nunca ter ouvido um “Eu te amo, meu filho”. Nem de “filho” ele me chamava. Distanciei-me da minha família, tornei-me uma pessoa má, não me importava com os outros, e não me importava fazer mal às pessoas.
Cada vez que me lembrava de algo que tinha vivido com o meu pai, mais me afundava nas coisas que me eram oferecidas pelo mundo. No mundo, encontrei pessoas que diziam me amar, encontrei atenção onde eu era motivo de “alegria”, e me destacava diante dos “meus amigos”. Fui me afundando cada vez mais e mais até que cheguei ao ponto de não me reconhecer. Ao passar dos anos, comecei a ter lembrança das maldades que tinha feito, do mal que gerei às pessoas em meus relacionamentos e na sociedade. Isso me atormentava. Comecei a querer mudar de vida, a não querer mais aquilo para mim, porém havia uma voz que ficava ressoando dentro de mim: “Você não consegue”, “Você não tem mais jeito”. Foi então que comecei a travar uma briga comigo mesmo. Percebi que tudo o que meus pais tinham feito em minha infância era um esforço para que eu não chegasse aonde estava.
Passei um tempo fora da minha cidade. Esse período me levou a questionar o porquê de todos aqueles atos cometidos. Retornei à minha cidade e fui convidado a participar de alguns retiros. Saía dos retiros achando que iria mudar o mundo, mas isso durava no máximo duas semanas. Voltava a fazer tudo com mais intensidade, porém já não era a mesma coisa. Eu sabia que aquilo era errado, mas diferentemente de muitos que no dia seguinte sentiam um vazio, uma “depressão”, eu queria fazer tudo de novo. Comecei a me questionar: “O que está acontecendo comigo?” Comecei a viver uma vida moderada, a ir à Missa e ir “pro mundo”. Conheci pessoas que viviam assim e, depois de um tempo, essa vida passou a me incomodar. Eu queria mais, comecei a mudar, comecei a ajudar as pessoas – o que não era um costume meu -, a querer levar as pessoas pra Deus. Mas, como levar as pessoas a viverem uma coisa que eu não vivia?
Veio a queda, fui com tudo na bebida, nas baladas, mulherada, brigas sem fim. Fui a outro retiro e nada mudou, até que tive uma experiência: comecei um caminho com Deus. Em meio às lutas e às dificuldades, passei a ter um olhar diferente. Comecei a pensar: “Eu posso, eu consigo”. Passei por um tempo em que não ouvia a Deus, era tudo muito barulhento. Então, fui ao Acamp’s e percebi que eu não lutava contra homens, mas que aquela era uma luta espiritual. Reconheci meus pecados, minha fraqueza. Diante disso, consegui ficar no Acamp’s, encontrei a Paz que tanto buscava, o silêncio necessário para fixar minha vida em Deus, tê-lo como meu pilar, pois quando estamos na graça, estamos preparados para os erros humanos, não estamos apegados a homens de carne. Assim, aprendo a amar, a perdoar não só o próximo mas a mim mesmo. Hoje lembro de tudo, mas sem sentir dor, porque perdoar nada mais é do que lembrar de algo que antes causava dor sem sentir a dor. Não existe amor sem perdão e jamais, jamais nenhuma dor e sofrimento será comparado com àquela Daquele que deu a vida por nós.
Eis-me aqui Senhor!
Jéferson jovem de 23 anos que participa da Obra Shalom de Araraquara (SP)