São dez da noite e meus olhos não estão mais aguentando de cansaço – minha única vontade era deitar na minha cama, me cobrir com o meu edredom e dormir, somente queria descanso! Mas isso seria impossível… até porque estava muito distante de casa e tinha um importantíssimo compromisso com um amigo, decidi então fazer isso por ele. Precisava permanecer acordado.
Poucos minutos depois deste meu pensamento, meu amigo finalmente chegou e percebi que ali era o meu momento, pois com a chegada dele tudo em minha volta simbolizava paz, desde o som do ventilador que provocava o balançado dos terços na livraria, ao velho odor da Bíblia um pouco desgastada e o singelo movimento das chamas das velas ao redor do altar. Sim, ali, naquele ostensório, em cima do altar, estava o meu Amigo! O Cristo me esperava.
E eu ali, diante dele, sentado a segurar um simples terço e a contemplar o último mistério doloroso do Rosário.
Eis que surge no meu rosto um sorriso convencido de que além de me trazer paz, a presença do meu amigo gerava também em mim a certeza de que meu coração não era nada mais do que um vaso de argila.
Um vaso de argila rachado.
Um vaso de argila ferido.
Um vaso de argila que está à procura de um Rei.
Não um Rei forte.
Não um Rei soberano,
Mas sim um Rei humilde.
Um Rei que se faz pequeno.
Um Rei que deixa as noventa e nove por uma.
Um Rei que sofreu até a última gota de sangue por amor.
Um Rei de paz.
(E então, finalmente descansei…)
Gabriel Couto
Esse é meu sobrinho👏👏👏👏