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O amor é como semente na terra: age misteriosamente…

Foi uma longa caminhada até o namoro. Um tempo de amizade e oração. Tempo de autoconhecimento e maturidade humana. Tempo de ofertas e renúncias. Tempo de decisão. Tempo de silenciar as paixões. Tempo de confiança e esperança.

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Muitos comparam o amor à semente. É uma metáfora conhecida e muito bela: a semente exige o cuidado de preparar a terra, a paciência de esperar o surgimento do broto, a constância de regar o broto já nascido, o desejo de ver a planta crescer e toda a labuta para que a semente dê frutos. Deve ser por isso que Jesus enxerga o Pai como um Agricultor (Jo 15,1), Aquele que amorosamente cuida de nós, um Deus zeloso.

Contudo, essas não são as únicas características da semente. No Evangelho de São Marcos, Jesus fala de um homem que lançou a semente na terra. O homem dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota e cresce, sem ele o perceber. A semente crescia sem o olhar do homem, sem a percepção do homem e isso acontecia, diz o Evangelista, pois a terra produz por si mesma. O mesmo acontece com o amor, pois ele é semente.

O amor tem uma dinâmica própria de desenvolvimento, uma espécie de força que age misteriosamente, sem alarde e chega a sua plena realização. Não que ele não exija doação de si, entrega, oblação. Pelo contrário, ele é tudo isso em plenitude. Justamente por isso, escapa ao cálculo e entendimento humano. O amor tem um impulso vital que foge a compreensão humana, é mistério. Um grande mistério, precisa-se frisar. E, como disse o Pequeno Príncipe, quando o mistério é grande demais, a gente não ousa desobedecer. Esse mistério foi contemplado e vivenciado pela via da obediência e esse próprio mistério impele o testemunho, um testemunho alegre de que vale a pena em tudo se submeter e a tudo se dispor.

Nós éramos núcleo do mesmo grupo de oração. A princípio, tínhamos uma relação um pouco distante, limitada a cumprimentos formais e reuniões, mas o Amor tem suas surpresas e nos aproximou de forma curiosa – misteriosa seria a melhor palavra, aliás. Tal como a semente, a nossa amizade foi crescendo despretensiosamente, sem que possamos ter percebido. Uma piadinha no aplicativo de conversa, um aceno de longe depois da missa, uma partilha sobre a Jornada Mundial da Juventude a 8.205 quilômetros de distância, uma carona, um souvenir de uma viagem, uma reunião que virou uma conversa de amigos e – voilà! – a semente começou a germinar. A semente, plantada por Deus, cresceu dia e noite e, um dia, nós percebemos o broto.

Foi uma longa caminhada até o namoro. Um tempo de amizade e oração. Tempo de autoconhecimento e maturidade humana. Tempo de ofertas e renúncias. Tempo de decisão. Tempo de silenciar as paixões. Tempo de confiança e esperança. Ah, o tempo… tantas vezes visto como inimigo, é também criatura de Deus e fruto de sua bondade conosco. Sem saber do sentimento do outro, mas a semente foi plantada por Deus e esperar foi fruto apenas da escuta da voz Dele. Para nós dois, Deus, de formas diferentes, tinha sido muito claro: “a aproximação de vocês é obra minha, Eu joguei essa semente que agora cresce”.

Assim, a vontade de Deus nunca tinha se apresentado tão cristalina. Foi Ele mesmo quem providenciou nossa aproximação. É perceptível o cuidado Dele em cada detalhe ao longo desse tempo. Esta certeza foi sempre essencial.

O medo foi se desfazendo e dando lugar à confiança no cuidado paterno de Deus. Acima dos padrões ou de valores fundamentados no que passa, a ótica do Senhor prevalece. Num mundo em que as relações são descartáveis, imediatistas e que reina o imperativo do prazer egoísta, submeter-se à espera, à obediência e desejar viver a castidade aparecem como um “nadar contra a corrente”.

Deus nos fez e faz viver situações que forjam a santidade em nós; de glória em glória, vai nos transformando e nos fazendo aderir cada vez mais aos Seus desígnios, mas as graças não se limitam a nós. Há uma multidão de jovens famintos que têm fome do amor verdadeiro – que tudo espera, tudo crê e tudo realiza – e que não o encontram. Nós somos testemunhas de que vale a pena tudo submeter a Deus porque Ele plenifica tudo em nós.

Como uma profecia, o Senhor nos impulsiona à com a nossa vida, com a nossa história e com as nossas lutas dar de comer, de nós mesmos, a estes jovens famintos. A semente não cresce para si mesma. Gera frutos e, quando estes estão no ponto, a hora da colheita chegou. Aquilo que que cresceu misteriosamente necessita ser alimento.

Tudo em nós é para a manifestação da glória de Deus. O nosso namoro também está inserido nessa dinâmica cheia de sentido. Amar dá trabalho, requer esforço, pressupõe decisão e agir, justamente por isso, é um caminho feliz! Que o nosso testemunho seja um convite a se lançar na radical aventura do amor verdadeiro, sustentado e forjado em Deus, do amor que tudo supera. Vale a pena. Vale a vida!

Shalom!

Francyjonison Custódio e Milena Rodrigues, postulantes da Comunidade de Aliança, em Natal/RN

 


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