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O celibato potencializa a nossa capacidade de amar

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Sobre o celibato na Comunidade de Aliança Shalom

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Júnior Nogueira – Celibatário na Comunidade Aliança Shalom

Faz algum tempo que desejava partilhar, como fiz há alguns meses acerca da minha vivência na Comunidade de Aliança, sobre a realidade do celibato também na Comunidade de Aliança. Não pretendo fazer um relato cronológico do discernimento do meu estado de vida, mas uma breve partilha (e vai faltar muita coisa, eu sei) da experiência nessa forma de vida à qual sinto-me chamado por Deus.
Desejo, também, romper, com esse gesto, o que Amadeo Cencini chama de o “silêncio impuro”: aquele silêncio que muitos de nós, celibatários, mantemos acerca de nossa opção pela continência pelo Reino. Ou porque temos medo de afrontar a cultura sexista que nos cerca, ou porque não estamos bem seguros de nossa opção como sendo válida e feliz, e nem estamos convencidos de que ela seja capaz de saciar plenamente o coração humano, etc. Enfim, que “soem as trombetas” e se saiba que os celibatários pelo Reino não estão em extinção (ao menos os felizes), que não são seres de outro planeta (apesar de nossa pátria ser outra) e que a nossa forma de vida tem muito a falar (ou a gritar?) para o mundo atual.
Viver o celibato, como Comunidade de Aliança, no meio da família, do trabalho, da faculdade, é exatamente ser luz no mundo e, quanto mais coerente se é com esse chamado, mais fulgurante é a luz que irradia deste testemunho. Pessoalmente, considero que não existe outra fonte de coerência para se viver bem o celibato senão a vida de oração. Se Cristo me chamou a esta forma de vida foi, em primeiro lugar e acima de tudo, para pertencer-Lhe de uma maneira especial, por um dom gratuito do Seu amor. Se deixo de rezar, perco isso de vista, e meu celibato corre o risco de tornar-se meramente “funcional”: sou celibatário para fazer coisas, para ter mais tempo disponível para o Reino, ou seja, sou quase um “funcionário do sagrado”. A dimensão do fazer é importante, mas não esgota a riqueza profunda deste chamado, ainda mais quando se fala do celibato dentro de um Carisma como o nosso, cujo cerne é o Amor Esponsal.
Funcionalidade não é bem uma característica do celibato. Afinal, pra que serve um celibatário? É essa pergunta que vejo, às vezes, no rosto de algumas pessoas, quando digo que “não vou me casar, mas também não vou ser padre”, numa tentativa nem sempre fácil de explicar a minha forma de vida. Essa “imprestabilidade” do celibato é desconcertante para o mundo de hoje! Também tenho a opinião de que o celibato não serve mesmo para nada (dentro da lógica humana), senão para ser um sinal: o celibatário aponta, simplesmente, sinaliza, como uma placa. Aponta para o Céu, para a realidade definitiva da humanidade no futuro, onde “Cristo será tudo em todos”, como cantamos de coração e lábios cheios: Único amor, única paz, único bem…
E a estória de que celibatário não ama, ou que abdicou da própria sexualidade? Maior furada! A riqueza da experiência do celibato na Comunidade de Aliança, cheia de correria, de relações, de horários para tudo, mostrou-me justamente o contrário! Como a gente ama, até profundidades que não se suspeitam que possam existir no coração humano! Amamos sim! Temos família, irmãos, amigos! Sim, temos vários, muitos amores, mas somente UM único grande amor, ao qual todos os outros se submetem! O celibato potencializa a nossa capacidade de amar. Há sofrimentos, sem dúvida. Senão, não haveria amor. No entanto, tudo é fecundo, o deserto é fértil, e as fronteiras do coração são alargadas para amar (e sofrer) de modo cada vez mais “alto”, divino.
Quanta coisa ainda fica por dizer! Haveria tanto a se falar sobre a oração, a evangelização, a comunhão com o mistério da cruz… Creio, porém, que mais oportunidades virão de fazê-lo. Finalizo com um pequeno poema de Dom Pedro Casaldáliga, um dos meus preferidos, porque no celibato o “amor é amado a corpo inteiro.”

“Será uma paz armada, amigos,
Será uma vida inteira este combate;
Porque a cratera da carne só se cala
Quando a morte fizer calar seus braseiros.

Sem fogo no lar e com o sonho mudo,
Sem filhos nos joelhos a quem beijar,
Sentireis o gelo a cercar-vos
E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão.

Não deveis ter um coração sem núpcias
Deveis amar tudo, todos, todas
Como discípulos D’Aquele que amou primeiro.

Perdida para o Reino e conquistada,
Será uma paz tão livre quanto armada,
Será o Amor amado a corpo inteiro.”

Júnior Nogueira


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