Formação

O desapego dos bens materiais

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A grande lição que o episódio do jovem rico oferece é o desapegototal que se deve ter dos bens materiais (Mc 10,17-30). Jesusdiagnosticou perfeitamente o quanto aquele rapaz, que por sinalobservava os mandamentos e desejava a salvação eterna, endeusava osbens que possuía. Tudo que Deus concede a cada um deve ser sempre uminstrumento para se realizar uma missão nesta terra, ajudando o próximo.

A Igreja ensina que o supérfluo dos ricos pertence aos pobres, dadoque esbanjar o que se tem, ignorando as necessidades alheias fere, defato, a sensibilidade cristã. É de se notar que a previdência comrelação ao futuro não fere a providência divina, nem a desambiçãoevangélica, pois o Criador deu inteligência ao ser pensante para bemgerir os bens que venha, licitamente, possuir. O grande erro é aobsessão de se acumular riquezas, o que denotaria um materialismogritante.

O que não se pode, além disto, é reduzir o cristianismo a umascetismo radical, mesmo porque a doutrina de Cristo deve ser observadano seu conteúdo global. Quando Jesus proclamou bem-aventurados ospobres, Ele não estava afirmando que quem é pobre é feliz pela falta dedinheiro, ou da privação de alguns bens, ou da renúncia ocasionada pelasituação financeira, mas é venturoso, isto sim, quem coloca suaconfiança unicamente em Deus, e não em algo material. Ora, istoindepende da posse de qualquer coisa.

A luta contra a pobreza, o combate pela justiça, o cuidadopermanente da misericórdia devem ser compreendidos não como um fim emsi mesmo, mas como um apelo à imitação do Pai celeste que éinfinitamente misericordioso. Tanto que o preceito de Cristo foi este:“Dou-vos um mandamento novo: que assim como eu vos amei, vós também vosameis uns aos outros” (Jo 13,34). Deste modo, o Espírito Santo estásempre indagando a cada um como está empregando os seus bens, jamaisignorando os mais pobres.

Com efeito, nunca o nosso pão é tão pequenino que não o possamospartir com o próximo. Há, porém, muitas maneiras de ajudar os outros,ou seja, não apenas colaborando com as entidades caritativas da Igrejacom ofertas generosas, como ainda estando a serviço na execuçãocompetente das obrigações cotidianas.

Como se vive hoje num contexto de uma sociedade do bem-estar e doconsumismo insensato, se abre um campo enorme para o desapego cristão oqual combate todos os gastos inúteis, para um auxílio oportuno a quemsofre. Segundo a doutrina de Cristo são pobres os pecadores, osenfermos, os indigentes, os estrangeiros. Ele reavivou naqueles que oseguem o esforço para eliminar a desgraça, a infelicidade, o sofrimentoou a indigência sob quaisquer formas através das quais se apresentem, eisto mediante a justiça social, o auxílio oportuno, o dom generoso epurificador.

O rico pode ser pobre vivendo a pobreza como dom do Espírito Santo,desinteressando-se pela riqueza entendida como capital acumulado, istoé, como exagero econômico, posse individual, poder pessoal, atitudesjactanciosas. Ser pobre no Espírito Santo proporciona a alegria deseguir Cristo com liberdade e daí a segurança, a certeza de que Deusenche sempre o vazio que se produz em alguém e em torno de alguém.

É isto que o moço rico, a que se referiu São Lucas, não entendia. Aamplitude das inspirações e das colocações da espiritualidade cristãsatinentes ao espírito de pobreza é sem limites. Um aspecto importante énão colocar o foco na quantidade do ter, mas, sim, na qualidade do ser.Quantas pessoas, com efeito, vivem felizes com o pouco que possuem e,um sem número, passa a vida no meio das torturas do tédio, na solidão,na depressão, mesmo possuindo muita riqueza.

O tema em tela deve sempre ser considerado no horizonte da fé e estaleva à liberdade interior, à paz íntima que valem mais do que todos osbens terrenos. É unicamente a confiança em Deus, a fé em Cristoressuscitado que jogam por terra critérios mundanos de avaliação e levaà verdadeira pobreza de espírito.


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