Sabemos que o desejo de ser santos não está no nosso coração por acaso, já que foi infundido em nós pelo próprio Senhor, ao nos criar. Tal vontade está intimamente conectada ao fim último para o qual fomos criados, que é a união definitiva com Deus. O passaporte que nos proporcionará este encontro é a via de conversão que deve culminar na santificação do nosso ser. Isto é o processo contínuo de descarte de tudo o que nos afasta de Deus, para que permaneça em nós apenas uma adesão sincera e total ao chamado divino de felicidade e plenitude que nos espera no céu. Em suma, Deus deseja que nós O desejemos e amemos com todo coração, alma, força e entendimento (cf. Dt 6,5).
Entretanto, por vezes, essa vontade por Deus pode se arrefecer em nosso coração, diante dos desafios que surgem no decorrer da caminhada, por causa dos pecados cometidos, das investidas do mal ou mesmo pela falta de oração. Não obstante, da parte de Deus, esse desejo nunca muda, mas é como um braseiro vivo que queima eternamente em ânsias de amor por cada um de nós. Portanto, este desejo inexaurível de Deus por nossas almas é como uma força motriz que nos arrasta até Ele, inclusive quando nos sentimos sem forças, funcionando como um incentivo da parte do Senhor para que recomecemos a caminhar, se acaso nos paralisarmos pelo caminho.
Por isso Carlo afirmou que é preciso desejar a santidade com todas as forças, ou seja, dispor a nossa vida para que a graça de Deus nos santifique, sem opor obstáculos a esta ação divina. E, caso a vontade esteja arrefecida, “tem que pedir ao Senhor com insistência”. Não desistir, como nos disse Jesus: “Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los?” (Lc 18,7).
Nos Escritos Shalom, encontramos um correspondente para este conselho de Carlo quando Moysés nos diz: “É necessário, antes de mais nada, que cada pessoa que o Senhor coloque diante deste chamado tenha desejo, queira, se disponha, se coloque como um formando, como alguém que quer crescer, que se deixa formar, que deixa fazer brotar a semente e a árvore que existem dentro de nós para compor o novo jardim do Senhor” (Escrito Obra Nova, §05).
Para crescer, para alcançar a santidade, é fundamental permitir que Deus aja, segundo a forma e o modo como a Ele aprouver, pois o Senhor nos conhece mais profundamente do que nós mesmos, por isso, somente Ele pode dizer qual caminho devemos trilhar, em qual área precisamos fazer morrer o que é velho, para deixar que a vida nova floresça em nós e gere frutos concretos de santidade em nosso dia a dia.
Isto é um trabalho para a vida inteira, porém, Deus nos chama a iniciá-lo hoje, sem perder tempo. Se nos sentimos desanimados, precisamos recorrer à oração, aos Sacramentos, ao Terço, à adoração ao Santíssimo, ao acompanhamento pessoal, ou seja, ir ao encontro de Deus através de todos esses meios que Ele mesmo nos concede, para que a nossa vontade se fortaleça cada vez mais, ao passo que experimentamos continuamente o Seu amor e o Seu desejo infinitos por nós.
No fim, vamos constatar, como Carlo descobriu, que é uma caminhada um tanto exigente, porém, como nos disse o Senhor, através do fundador da Comunidade Shalom, “Não é tarefa fácil, mas se Deus nos chama, é a nossa alegria e felicidade. Com nossos corações cheios de desejo, devemos responder dizendo: ‘Sim, Pai, não é fácil, mas eu desejo, eu quero, eu vou, amém!’” (Escrito Obra Nova, §12).
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