Igreja

O legado do Papa Francisco: uma Igreja da alegria e da misericórdia em permanente saída

Por meio de seus escritos é possível identificar os traços fundamentais de seu pontificado, centrado na ação pastoral e na cultura do encontro

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Desde o momento em que foi anunciado ao mundo como novo Papa e revelou que o nome escolhido para seu pontificado era Francisco — inspirado no Pobrezinho de Assis — , Jorge Mario Bergoglio imprimiu na Igreja suas marcas pessoais: a humildade; um forte apelo à misericórdia; um olhar pastoral às periferias social e existencial; o amor aos pobres; o cuidado da Casa Comum; o chamado à cultura do encontro e à sinodalidade. 

Já se tornou costume dizer que ele foi um homem singular. Sim, ele foi, e surpreendeu as pessoas logo no anúncio de sua eleição, ao pedir a oração do povo antes de abençoá-lo, incluindo a todos em seu pontificado. Chamou a atenção do mundo ao enfatizar a necessidade da Igreja ser uma mãe, que acolhe e cuida de todos os seus filhos, sem distinções ou exclusões. Além disso, foi pioneiro em muitos pontos: primeiro Papa jesuíta, primeiro latino-americano e o primeiro a escolher o nome de Francisco.

Para sair do lugar comum e compreender de forma mais concreta o legado teológico e pastoral do Papa Francisco, um dos caminhos é o estudo dos documentos que escreveu: cartas encíclicas, exortações apostólicas e mensagens. O leitor encontrará em seus textos magisteriais um pastor comprometido com uma Igreja em saída, próxima dos pobres e profundamente enraizada no Evangelho de Cristo.

O legado do Papa Francisco é inseparável da proposta do Concílio Vaticano II: uma Igreja mais próxima, missionária, pobre com os pobres, aberta ao diálogo e fiel ao Evangelho. Sua teologia é, sobretudo, pastoral: não dissocia a doutrina da vida, nem fé da história. É uma teologia de olhos abertos, pés no chão e coração em Deus.

Além das encíclicas, bulas e exortações apostólicas, Papa Francisco se comunicou com os fiéis, e com a sociedade como um todo, através de mensagens anuais (como as de Quaresma, Dia Mundial da Paz, Dia Mundial do Pobre, Dia Mundial das Comunicações, entre outras) e, principalmente, por meio de seus gestos. O abraço aos refugiados em Lampedusa, as visitas às periferias e prisões, os passeios pela Praça São Pedro, as viagens apostólicas, os encontros com os pobres e doentes são sinais de uma teologia encarnada, vivida na prática.

Que cada batizado possa ser, como ensinou Francisco, uma Igreja em saída, com “cheiro de ovelhas”, transbordante de alegria e cheia do Espírito Santo.

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Uma Teologia da Alegria, da Misericórdia, da Amizade e do Encontro

Francisco escreveu sete Exortações Apostólicas e quatro Cartas Encíclicas, além de dezenas de mensagens, bulas, cartas e discursos, entre outros textos. Em cada um é possível identificar os traços fundamentais de seu pontificado, centrado na ação pastoral e na cultura do encontro. 

A seguir, um pequeno resumo de alguns dos principais documentos escritos por Francisco.

Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013): por uma Igreja em saída

A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (“A Alegria do Evangelho”) pode ser considerada o documento programático do pontificado de Francisco. Nela, o Papa convoca a Igreja a uma profunda conversão pastoral e missionária. É neste texto que encontramos a famosa frase:

“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja doente pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.” (EG, 49).

Francisco retoma no texto a centralidade do querigma como fonte da verdadeira alegria. A Igreja, para ele, só é fiel ao seu Senhor se está em constante saída missionária, especialmente para com os pobres e os que sofrem. A teologia pastoral se une aqui à espiritualidade missionária:

“A evangelização obedece ao mandato missionário de Jesus: ‘Ide, portanto, fazei discípulos’” (EG, 19).

📄 Leia na íntegra: Evangelii Gaudium – Vaticano

Misericordiae Vultus (2015): O Rosto da Misericórdia

Na bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa recorda que a misericórdia é o atributo supremo de Deus e o centro da revelação cristã.

“A misericórdia será sempre maior que qualquer pecado, e ninguém poderá colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” (MV, 3).

📄 Leia o documento completo

Laudato Si’ (2015): o cuidado da Casa Comum

A Carta Encíclica Laudato Si’ (“Louvado sejas”) une espiritualidade e ciência para chamar a atenção para a crise climática e suas implicações sociais.

“O grito da terra e o grito dos pobres não podem mais esperar” (LS, 49).

O Papa propõe uma ecologia integral, afirmando que o ser humano e a natureza fazem parte de uma única casa comum. Inspirado em São Francisco de Assis, o Papa propõe uma conversão ecológica, afirmando que “tudo está interligado” (LS, 91). Denuncia em seu texto a cultura do descarte.

📄 Leia o documento completo

Amoris Laetitia (2016): a alegria do amor na família

Fruto dos Sínodos sobre a Família, a Exortação Apostólica Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”) apresenta um olhar pastoral, compassivo e amoroso às famílias modernas. O Papa defende que o amor familiar é uma vocação e propõe um acompanhamento paciente, misericordioso e respeitoso das situações de fragilidade.

“Cada família é uma ‘luz na escuridão do mundo’” (AL, 66).

📄 Leia na íntegra: Amoris Laetitia – Vaticano

Christus Vivit (2019): aos jovens, o agora de Deus

Dirigida aos jovens e ao povo de Deus, o documento é fruto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional realizado em 2018. O coração da exortação é o anúncio de que Cristo vive e deseja estar presente na vida de cada jovem, que é chamado à santidade e a uma vocação específica, seja no matrimônio, na vida consagrada, no sacerdócio ou em outras formas de serviço.

“Deus é o autor da juventude e age em cada jovem” (CV, 135).

O Papa convida a Igreja a ser acompanhadora e não apenas instrutora dos jovens, a partir de um modelo de proximidade, escuta e empatia, como Jesus no caminho de Emaús. Os jovens devem ser protagonistas e não apenas destinatários da pastoral.

📄 Leia na íntegra: Christus Vivit – Vaticano

Fratelli Tutti (2020): a Fraternidade como Caminho de Paz

A Carta Encíclica Fratelli Tutti (“Todos Irmãos”) cunha o termo amizade social e o apresenta, juntamente com o diálogo, como fundamento de uma sociedade justa e fraterna. O Papa denuncia a indiferença globalizada e propõe o amor político como resposta evangélica aos desafios mundiais. “O amor que se estende além das fronteiras é a base de uma paz verdadeira” (FT, 99). Francisco clama por uma política a serviço do bem comum, pela superação das fronteiras e pela cultura do encontro:

“Ou nos salvamos todos ou ninguém se salva” (FT, 137).

📄 Leia o documento completo

Dilexit nos (2024): O amor humano e divino do Coração de Jesus

A Carta Encíclica Dilexit nos (Ele nos amou) apresenta o pensamento do Papa sobre o caminho do coração como um caminho de renovação pessoal, eclesial e social:

“O coração torna possível qualquer vínculo autêntico, porque uma relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo” (DN, 17).

Francisco denuncia a “sociedade sem coração”, dominada pelo narcisismo, pela superficialidade e por algoritmos que moldam decisões e desejos, tornando as pessoas previsíveis e manipuláveis. Propõe o amor gratuito de Cristo como antídoto espiritual e existencial.​

📄 Leia na íntegra: Dilexit nos – Vaticano

Gratidão que transborda, oração que nos une – Papa Francisco, o Papa da Misericórdia

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