“O amor cobre uma multidão de pecados”. Sim. O amor tem esse poder, porque é santo. Vem de Deus, nos toca, nos olha. O amor é cúmplice, não precisa de palavras, mesmo necessárias. O amor denuncia-se por si só, porque já não cabe dentro, transborda, arrasta. Arrasta as mazelas, pecados, leva-nos à luz. Faz-nos ver a verdade de nós mesmos, arranca lágrimas de dor, mas também de uma alegria estonteante. Entrega-se porque está aqui, mas não é daqui. Veio com propósito.
Ortega Y Gasset, um clássico da literatura Espanhola, em seu livro Um Estudo Sobre o Amor, diz que a trajetória amorosa, marcada por aquilo que amamos, revela mais sobre nossa personalidade do que diz do objeto e das coisas amadas, diz no fundo de nossa visão de paraíso, de quem de fato somos.
Amor é também amizade e por isso é presença, mesmo distante. Não se perde nas distâncias e no tempo, porque está dentro, já venceu as provas do temperamento, da carne, das divergências, já se afeiçoou às esperas. Continuará enfrentando provas, mas estará mais paciente, manso, misericordioso, dócil, amável, compassivo. Terá aprendido ser com o outro porque já se alojou no coração. Onde era um, agora são dois, batendo em um só – amizade é isso, ter um coração batendo em dois. Como disse Pe. Fábio de Melo numa frase tão cara, amizade é comer junto um saco de sal.
O amor quando chega altera a realidade
O amor vai onde formos porque deixou de ser externo, fez-se gente da gente, chegou em casa, está confortável na alegre dor de amar. Desde que chega o amor, faz questão de ser lembrado, se anuncia por si só. Já não permite sombras, faz questão de reunir forças para manter a casa limpa, quer o bem junto de si, quer convite pra uma tarde agradável com o brilho do sol a cair na janela. É e faz-se humilde. Ouve e cala.
Quisera toda casa acolher hóspedes de tamanho calibre. As hospedarias da vizinhança se soubessem o valor desse tesouro, apressariam-se para vender seus bens. Diz um santo que nada santifica mais que o amor. Afinal, tem ele razão.
O amor quando chega altera a realidade, muda o curso das trajetórias, ensina a decidir por si e por outros. O amor ensina a sacrificar, “mata” o egoísmo a base de flores, faz jardins em solo abandonado. Traz pássaros, músicas da melhor qualidade, chama os amigos e tece prosas incomparáveis. Já não tem medo de se dar, porque sabe que se possui.
O amor arranca de nós o que outrora dormia, faz crescer, chama para fora o melhor de nós, traz a tona o que somos e por vezes desconhecíamos. Traz pérolas que nem sabíamos existir, mostra riquezas que só o amor é capaz de enxergar.
Sob os olhos do amor nos tornamos quem verdadeiramente somos. Ele nos capacita e desperta o melhor que ainda dorme. O amor pulsa e plenifica a vida. Amar é graça. É Deus que desce e se manifesta a nós, é Sua luz que brilha, é Seu rosto e Seu olhar que nos olham, Suas mãos que nos tocam. Sim, o amor vem de Deus e para ele volta porque é eterno. É experiência humano-divina.
Perguntas a visão do paraíso?! Arte, força, música, profundidade, beleza, autenticidade, inteligência, sensibilidade, leveza, verdade… E você qual sua visão de paraíso? O que entendes do amor? Quem és tu que amas?
O paraíso veio a terra nos braços do amor
E é Deus quem orquestra a sinfonia, a mais bela, sublime. Como diz o Prof. Felipe Aquino: Amar é construir o outro. Que sejamos inteiros para sairmos por aí realizando novas construções, pequenas e grandes. Esta é uma proposta audaciosa, mas passível de se realizar. É o desafio à conversão.
Temos impulsos: “O amor cura uma multidão de pecados”.
Que saiamos rumo a construir,
A vida nos espera!
Elisangela Assis