Josefa Alves
Missionária da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE
Interrogado sobre qual é o maior Mandamento da Lei, Jesusrespondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua almae de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro Mandamento. O segundoé semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus ensina-nos,portanto, que o amor é a plenitude de toda a Lei.
Sabemos, porém, que o amor não é sentimento, mas ato livreda vontade, fidelidade à aliança que tem em Deus a sua fonte e o seu modelo.
Poderíamos nos perguntar: “Por que o amor é apresentado comouma lei, um mandamento, algo que devemos obedecer?” A resposta a esta pergunta,segundo Santo Agostinho , é que existem dois modos de induzir o homem a fazerou não certa coisa: por constrição, com a ameaça do castigo, ou por atração. Oamor o induz do segundo modo. Somos atraídos por aquilo que amamos. Nestesentido, o amor é uma lei, um mandamento, que cria no homem um dinamismo que,espontaneamente, o leva a amar e a fazer a vontade de Deus, a amar tudo aquiloque Deus ama.
Eu sou o Senhor, teu Deus
Primeiro Deus libertou o povo da escravidão do Egito (Ex1-15), depois se revelou como o artífice daquele milagre fundamental e centralda história do povo eleito, selando com ele uma aliança (Ex 24,3-18); e deforma ainda mais admirável, única e definitiva, deu-se a conhecer por meio daEncarnação e da obra redentora do Filho. Diante desta incomparável doação deamor, a única resposta lógica que o homem pode dar a Deus é a fé, numa adesãolivre e total: “com todo o coração, com toda a alma e de todo o entendimento”.Portanto, ao Deus que se doa totalmente, a resposta mais completa do homem é adoação total de si por meio da fé, da esperança e da caridade.
As virtudes teologais como resposta ao primeiro mandamento
O primeiro mandamento “abrange a fé, a esperança e a caridade”, portanto, na vivência das virtudes teologais, o homem chega a Deus, seuprincípio e fim último, e dá a Ele a adoração que lhe é devida: “Ao Senhor, teuDeus, adorarás e só a Ele prestarás culto” (Mt 4,10). A adoração, por sua vez,não pode ser um ato privado, pois tem caráter de culto (latria) a Deus.
A fé, como resposta a Deus, é a fonte da nossa vidareligiosa, moral e espiritual (CIC 2087), e não devemos considerá-la como umsalto no escuro ou como conhecimento puramente intelectual de verdades reveladas.Ela é um dom de Deus, do Deus que ama, salva, cura e perdoa. O Catecismo nosensina que crer em Deus consiste em dar testemunho dele (cfr. CIC 2087).Devemos ainda, conhecer e nutrir a nossa fé, de forma afetiva e efetiva, pois avirtude da fé se manifesta e se fortalece em cada ato do cristão.
Em Mt 10, 32, Jesus nos diz que a fé deve ser confessada.Portanto, renegar a fé é, por si só, um pecado mortal.
“O primeiro mandamento manda-nos alimentar e guardar comprudência e vigilância nossa fé e rejeitar tudo o que se lhe opõe” .
O mesmo Deus a quem devemos amar é também o objeto da nossaesperança. Segundo São Paulo, o conteúdo da nossa esperança é a revelação daglória do Cristo Ressuscitado e a transformação do mundo . O primeiromandamento também visa os pecados contra a esperança, que são o desespero e apresunção; pois quando amamos a Deus acima de todas as coisas e o adoramos coma nossa vida, cremos no seu amor e Nele esperamos salvação, alegria, consolo,sabedoria, porque Ele é fiel e não permitirá que sejamos tentados além dasnossas forças .
Quanto à virtude teologal da caridade, que é a maior , ela éo fundamento de toda a nossa vida moral e, segundo S. Tomás de Aquino, o amor aDeus faz com que o homem viva a vida de Deus e, pelo amor, seja transformado noamado . O Catecismo expõe como pecados contra o amor de Deus, a indiferença, aingratidão, a tibieza, a acídia ou preguiça espiritual e o ódio a Deus.
Na primeira parte do primeiro mandamento, contemplamos Deuscomo nosso único Senhor a quem adoramos e servimos por meio das virtudesteologais. Na segunda parte contemplamos Deus como nosso único Senhor, o únicoa quem se deve o culto sagrado. A virtude da religião nos dispõe a talveneração. Esta virtude é o laço que liga o homem a Deus (religião vem dereligio = religar), fonte de todo bem; por meio dela o homem reconhece econfessa sua dependência de Deus através de atos interiores e exteriores.
O primeiro ato da virtude da religião é a adoração, ou seja,“reconhecê-lo como Deus, como Criador e Salvador, o Senhor e o Dono de tudo oque existe, o Amor infinito e misericordioso. “Adorarás o Senhor, teu Deus, esó a Ele prestarás culto” (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6,13)” .A adoração (cultus latriae) é devida somente a Deus e tem duplo aspecto: 1.deve ser exercitada em espírito e verdade, na humildade e em espírito dedependência de Deus. 2. aadoração liberta o homem de si mesmo, do pecado e do mundo .
A oração é uma das condições indispensáveis para podermosobedecer aos mandamentos de Deus e nasceda necessidade que o coração humano tem de estar unido ao seu Criador. De fato,como disse Santo Agostinho, o nosso coração estará inquieto enquanto nãorepousar em Deus .
Outros atos da virtude da religião são: o sacrifício, quedeve ser sempre uma expressão do sacrifício espiritual de quem o cumpre. Todosos nossos sacrifícios, se unidos ao único e definitivo sacrifício de Cristo nacruz, adquirem valor pleno e contribuem para a edificação do corpo de Cristo:as promessas, os votos, o dever social e o direito à liberdade religiosa.
Somente na obediência ao primeiro mandamento que o homemserá plenamente livre. O Deus amor, é um Deus pessoal, que ama o homem, aomesmo tempo Ele é o Altíssimo, o Eterno, acima de todas as categorias humanas;é o Criador do Céu e da terra e o Redentor do homem; é o Único. A esse Deus,somente a Ele o homem deve adorar. É por meio da adoração ao Deus Único que avida humana é unificada, visto que a idolatria é uma perversão do sentimentoreligioso inato do homem.
O Senhor deve ser sempre o primeiro para nós, não devemospôr nada na frente do único Deus: nem ídolos, nem superstições, nem o dinheiro,nem a nossa carreira, nem o nosso futuro, nem as nossas preocupações.
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Quando Deus não é o primeiro na nossa vida, caminhamos paraa dúvida, a incerteza, o relativismo, o egoísmo, para a mentira, para o vazio.E dado que uma das fortes características humanas é a busca da felicidade e doamor, é necessário compreender que o amor antecede e preside a nossaexistência. Mas quais são os meios pelos quais podemos conhecer este Amor, que,por ser também a Verdade, é o único que preenche os anseios do coração humano?A resposta a essa pergunta você poderá obter no curso Evangelização e Exercícioda Razão, que o Instituto Parresia estará promovendo nos dias 12 e 13 desetembro em Fortaleza, e que poderá também promover na sua missão, comunidade,paróquia ou ministério.