O presépio ensina a fascinante lição da completa plenitude do amor na condição humana: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”- diz o evangelista João no prólogo do seu Evangelho. Utilizando uma poética de densidade inigualável na literatura, sintetiza o que se aprecia na cena que retrata o nascimento do Salvador do mundo, Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo, escrevendo aos Gálatas, no capítulo quarto, assevera: “Quando completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos de Deus”.
Na Carta aos Filipenses, capítulo segundo, Paulo faz referências ao hino cantado pela comunidade nascente. Ressalta a mensagem que envolve o coração, a mente e a inteligência com a verdade central, sustentadora da condição humana. Abre para eles o horizonte novo e definitivo, que Ele próprio representa. Por isso recomendou: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que o Cristo Jesus. Ele existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, em ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra; e toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. É inteligente e fácil concluir que nada tão grandioso e fascinante aconteceu no âmbito maravilhoso do que é a condição humana.
O conhecimento das galáxias, a descrição dos códigos genéticos ou a lista do que há de extraordinário no universo, nada é comparável à maravilha humano-divina do Natal do Senhor. O evangelista João recapitula e sintetiza em fórmula poética, com inteligência eisnsteiniana, esse evento único que une o mais recôndito de Deus e o mais evidente da condição humana: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. (…) E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único cheio de graça e de verdade.” (Jo 1,1-14).
Os evangelistas Mateus e Lucas, nos capítulos 1 e 2, descrevem de maneira artística e profunda a intervenção amorosa, única, de Deus na história da humanidade. Inspiradora do sentido que a arte retrata no presépio: a ocorrência desse mistério de amor nas circunstâncias mais comuns da vida de homens e mulheres, particularmente na dos pobres e simples.
Da inacessibilidade de Deus à proximidade que só a simplicidade pode tecer, o presépio condensa ensinamentos e lições que não podem ser substituídos nem mesmo pelos sofisticados conhecimentos humanos. Nada é igualável à fonte de toda inteligência, o amor que sustenta e dá sentido à vida, a fonte inesgotável: Deus.
Num cenário de mil faces, onde tudo o que é grandioso é inacessível, o que tem valor não se disponibiliza com facilidade e o que é maior na ciência está sob o domínio de poucos. O presépio coloca perto de todos, na mais simples condição humana, a insuperável força amorosa de Deus – sua proximidade, o segredo revolucionário de sua simplicidade, a mais importante lição na complexidade das ciências, das tecnologias e das estratégias políticas, diplomáticas e relacionais.
A bondade de Deus, certeza da salvação e inteligência amorosa, abre o horizonte novo e definitivo para a vida. O evangelista Lucas narra que o anjo do Senhor, aparecendo aos pastores disse-lhes: “Não tenhais medo. Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo. Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria, José, e o recém-nascido deitado numa manjedoura”. Assim, talhado com arte, minúscula ou engenhosa, a lição mais importante da vida o presépio nos ensina.