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O que são as virtudes?

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Santo Tomás de Aquino, citando Aristóteles, diz: a pedra nunca se acostuma a ser dirigida para cima (in II Ethic.lect. I). Com isso, o Doutor Angélico quer evidenciar que a nossa natureza necessita por excelência participar da natureza divina, porque Deus cria o homem para participar de Sua Vida, e, para tanto, não pode fazer o caminho inverso ou diferente daquele que é definido por Deus para que possa fazer da vida humana uma vida que participa da divindade.
 

A natureza humana possui forças habituais, enraizadas pelo ato da criação ou adquiridas pela repetição constante e regular de atos bons ou maus. Uma pessoa que pratica o bem fará de suas ações uma correspondência do bem; de outra monta, uma pessoa que pratica o mal irá fazer de suas ações a correspondência ao mal que ela deseja praticar. As forças que habitam a natureza humana criada são chamadas de habitus, e tais podem ser boas ou más, podem nos levar para Deus ou nos afastar d’Ele na medida em que praticamos o mal ou o bem com nosso esforço próprio e com o auxílio divino. Todo bom hábito é chamado de virtude e todo mau hábito é conhecido por vício. Para melhor definir, a virtude é, segundo Santo Agostinho, a disposição para o amor, compreendida como a essência e finalidade suprema do espírito humano, ou, ainda, segundo o já citado Aristóteles, é uma característica própria e definidora do ser humano, cuja realização consuma a excelência ou perfeição deste ser. Esses bons hábitos (ou virtudes) são inerentes à natureza humana, e são comuns a todos os homens indistintamente, pois são naturais assim como o homem é natural, porém sem esquecer que é o Próprio Deus que mantém e sustenta a ordem natural que Ele criou. As virtudes, então, por serem próprias da humanidade, quando praticadas irão nos levar a viver retamente e evitaremos todo o mal, mas quando não são praticadas ou são esquecidas, iremos fazer de nossas ações um grupo imenso de vícios, ou seja, de maus hábitos que nos levam ao pecado. Estas virtudes boas, bons hábitos, essas forças de nossa natureza que estão presentes na alma, são chamadas de virtudes cardeais, quais sejam a: Prudência, Justiça, Temperança e Força.I – A Prudência

A prudência nos leva a escolher entre o bem e o mal. É dela que Nosso Senhor Jesus Cristo ensina ao dizer: “Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sêde, pois, prudentes como a serpente e simples como as pombas” (Mt 10, 16). Cristo proclama esse ensinamento de forma profética, ou seja, deixa claro para os apóstolos e para aqueles que seguiriam o Cordeiro de Deus pela pregação apostólica que, no decorrer de toda a história da Igreja, seria árduo que o mundo compreendesse quais são os caminhos de Deus e Seus propósitos para a humanidade. Assim, seguir o Cristo não seria nada além do que à custa de suor e labor, pois o próprio Cristo foi sinal de contradição, e sendo Ele assim, aqueles que o seguem seriam emissários da contradição. Quando, na vida de um cristão, não há contradição, é o sinal evidente de que o cristão se mundanizou (Cf. Bíblia de Navarra, Vol I, pg. 231). Por isso, na escolha entre o bem e o mal, que nos será possível escolher através da prudência, não será suscetível ao cristão transigir, transacionar, alienar a vida cristã por nenhuma manifestação mundana, por mais que seja aprazível ao corpo o que esteja em moda (cf. Idem, pg. 232). “A vida cristã levará consigo, necessariamente, uma inconformidade diante de tudo o que atente contra a fé e a moral (cf. Rom 12, 2). Não se pode estranhar que a vida do cristão se mova, não poucas vezes, entre o heroísmo e a traição. Perante estas dificuldades não se deve ter medo: não estamos sós, contamos” (cf. Ibidem, pg 232).

II – A Justiça

É a virtude que nos faz entender a criação, pois nos auxilia na prática de dar a cada um o que lhe é devido, proteger o que nos pertence e dar a Deus que Ele mesmo nos pede: a vida gratuitamente dada sendo devolvida ao Seio divino sem qualquer reserva, como prova de amor que é meio necessário para a salvação. Quando os seres humanos vivem entre si reto sentido da justiça, a vida será uma perfeita manifestação da divindade; assim, quando compramos algo, pagamos o seu valor; quando tomamos emprestado, gera-se o dever de restituir; quando contraímos uma obrigação, cabe-nos cumpri-la, tal como o matrimônio e o juramento livre dado como manifestação da verdade a outrem que confia na palavra dada, a promessa livre de uma vida reta diante de Deus; bem como o dever dos sacerdotes de administrar os sacramentos a quem legitimamente os pede. Quando se peca contra a justiça, o arrependimento e a confissão não bastam, a lesão deve ser reparada a todo custo para que o estado de justiça anterior seja restabelecido.

O conceito de justiça, enquanto virtude, é essencialmente religioso, pois justo para Deus é aquele que se esforça com sincero labor para cumprir a Vontade do Pai, o que se manifesta de três formas: no cumprimento dos mandamentos, nos deveres de estado leigo, sacerdotal e matrimonial e na luta para manter a alma unida à Santíssima Trindade através da graça santificante. Justiça, portanto, está essencialmente ligada à santidade. São Jerônimo, Doutor da Igreja dirá sobre a justiça:

” não exige somente um simples desejo vago de justiça, mas ter fome e sede dela, isto é, amar e buscar com todas as forças aquilo que torna justo o homem diante de Deus. O que de verdade quer a santidade cristã tem de amar os meios que a Igreja, instrumento universal de salvação, oferece e ensina a viver todos os homens, ou seja, freqüência aos sacramentos, convivência íntima com Deus na oração, fortaleza para cumprir os deveres de família, profissionais e sociais”.

Na ordem das bem-aventuranças, a justiça é seguida da misericórdia, no participar do coração amoroso do Pai, o que não é somente em dar o que é devido, mas compreender com esforço cristão os defeitos que podem ter quem nos rodeia, com o perdão devido, pois tem Deus mais nos perdoado antes, no auxílio para que os defeitos de outrem sejam superados e principalmente em amar aquele que se apresenta como cheio de defeitos diante de nós. Isso nos leva ao Pai-Nosso: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

III – A Temperança

A virtude que nos oferece a resposta para as exigências da vida cristã. A temperança, de acordo com o ensinamento da Igreja, é “a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados” (Catecismo da Igreja Católica, 1809). Segundo este mesmo ensinamento, aquele que possui esta virtude tem domínio da vontade sobre os instintos e seus desejos não ultrapassam os limites da honestidade, com que deve portar-se todo ser humano. Por isso, no Novo Testamento esta virtude é chamada também de “moderação”, “sobriedade”, como em Tt 2,12, onde Paulo diz que devemos “viver com moderação, justiça e piedade neste mundo”.

Assim, como fruto desta virtude, tem-se a moderação nos prazeres sensíveis e a busca pelo equilíbrio no uso dos bens que Deus nos dá. Portanto, na virtude da temperança inclui-se a virtude da castidade, já que a temperança “tem em vista fazer depender da razão a paixões e os apetites da sensibilidade humana” (Catecismo da Igreja Católica, 2341). Inclui-se ainda tal proceder que evita os abusos no comer e no beber, a modéstia no vestir, a cautela ao freqüentar lugares que podem não ser próprios a um cristão, etc. Assim, o homem seguirá aquilo que as Sagradas Escrituras pedem:”Não te deixes levar por tuas paixões e refreia os teus desejos” (Eclo 18,30).

“O homem temperante é aquele que é senhor de si mesmo; aquele em que as paixões não tomam a supremacia sobre a razão, sobre a vontade e também sobre o coração. Entendamos portanto como a virtude da temperança é indispensável para que o homem seja plenamente homem, para que o jovem seja autenticamente jovem. O triste e aviltante espetáculo dum alcoólico ou dum drogado faz-nos compreender claramente como ‘ser homem’ significa, antes de qualquer outra coisa, respeitar a própria dignidade, isto é, deixar-se alguém conduzir pela virtude da temperança. Dominar-se a si mesmo, as próprias paixões e a sensualidade não significa de maneira nenhuma tornar-se alguém insensível ou indiferente; a temperança de que falamos é virtude cristã, que aprendemos com o ensino e o exemplo de Jesus, e não com a chamada moral ‘estóica'”; (Sua Santidade, o Papa João Paulo – Discurso durante o Encontro com os Jovens na Basílica Vaticana).

IV – Fortaleza

A virtude da fortaleza é aquela que nos dota de segurança em tudo que fazemos, principalmente nos momento que mais precisamos, nas dificuldades e contrariedades, ajudando-nos a vencer o medo, como Cristo sempre pediu, em diversos momentos: “Não tenhais medo” (como em Mt 14,27). Esta virtude dá-nos, ainda, suporte e constância na procura do bem, firmando uma resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1808).

A força, deve ficar claro a todos, não é virtude apenas dos heróicos, que expõe sua vida em favor de outro. A fortaleza está em cada atitude, escolha feita pelo homem, nos atos heróicos que passam despercebidos em nosso dia a dia.

“Segundo a doutrina de São Tomás, a virtude da fortaleza encontra-se no homem: que está pronto a “aggredi pericula”, isto é, a afrontar o perigo; que está pronto a “sustinere mala”, isto é, a suportar a adversidade por uma causa justa, pela verdade, pela justiça, etc. A virtude da fortaleza requer sempre alguma superação da fraqueza humana e sobretudo do medo. O homem, de fato, por natureza teme espontaneamente o perigo, os dissabores e os sofrimentos. preciso, por isso, procurar os homens corajosos não só nos campos de batalha, mas também nas salas dum hospital ou num leito de dor. Tais homens podiam-se encontrar muitas vezes nos campos de concentração e nos locais de deportação. Eram autênticos heróis” (Sua Santidade o Papa João Paulo II, Audiência Geral de 15/11/1978).

 

Formação Shalom – outubro de 2012

 


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