Formação

O sentido da confissão para Santo Agostinho

Delcy Carvalho retoma a série de “Confissões de Santo Agostinho”, desta vez, explicando o livro X.

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Deus é a virtude de sua alma. Ó Deus, torna-te conhecido a mim, como sou por ti conhecido. Que a minha alma se assemelhe a ti, sem mancha, nem ruga”. Essa é a grande esperança de Agostinho! Nesta vida, chora-se pelo que deveríamos nos alegrar e nos alegramos pelo que devemos detestar. Deus ama a verdade e quem pratica a verdade, alcança a luz!

Confissão diante de Deus e dos homens 

Como e a quem se confessa Santo Agostinho? Confessa-se, sentindo desgosto de si mesmo, mas não se deve buscar no texto amargura ou vitimização, mas o sentido de quem não encontrou a felicidade fora da redenção, sendo os sinais da insatisfação com a própria vida, sintomas das más escolhas feitas na ignorância, no distanciamento de Deus.

Humildemente confessa tudo a Deus, mas não deixa de fora nada que já não tenha confessado aos homens e se, se confessa a Deus, é porque de Deus recebeu o teor da própria confissão. Lembra um pouco, um adágio dito algumas vezes ao longo deste livro X: “dá-me o que ordenas, e pedi o que quiseres.” Quanto à bondade que encontra em si, admirado, reconhece provir daquele que o redimiu.

Sentido de uma confissão, não só do passado, mas do presente

A confissão feita por Agostinho acerca de suas faltas passadas deve servir de estímulo a qualquer pessoa que, olhando para a própria vida, corra o risco de desesperar-se, dizendo: ‘não posso.’

No presente, alguns desejam escutá-lo, mas com qual motivação? não podendo perscrutar o seu coração, desejam saber como está hoje. Buscam frutos de perseverança para animar a própria caridade? Provavelmente. Agora, como Agostinho se credencia a ser ouvido pelos homens, como os homens podem acreditar na veracidade de seu relato? Ele responde dizendo, que somente pela caridade, irão julgar como justo e verdadeiro o seu relato.

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Agostinho se confessará também aos homens para que com ele agradeçam a Deus

Pede a Deus que o ensine a alegrar-se com o que Deus aprova e a entristecer-se com o que Deus desaprova. Um coração fraterno é o que o Santo pede como disposição para escutar sua confissão. Santo Agostinho afirma desejar se revelar àqueles a quem ele serve, não a respeito de quem era, mas de quem é agora e do que em potência ele poderá vir a tornar-se. O fruto da sua confissão é contemplar as obras de Deus em sua vida, quem ele se tornou.

Une-se a todos os homens de fé, inclusive aos que o precederam, aos que o acompanham e aos que o seguirão, que podem associar-se à sua alegria e participar de sua condição mortal. A Deus e a eles, seus “senhores”, confessa-se Agostinho. E qual é o teor desta confissão, agora? Não quem ele era, ao longo do livro, cuja exposição foi suficiente, mas quem ele é e quem poderá vir a ser. É um trecho carregado de gratidão pelo presente e repleto de esperança no futuro.

Sua vida é um livro escrito, que com caridade, deve ser julgada, mas que tipo de julgamento está subentendido? O julgamento de boa fé, repleto de amor fraterno, que visa contemplar, abstrair da história do autor, a primazia da graça divina, que o transformou.

Só Deus conhece verdadeiramente o homem

A sua confissão dirige-se aos seus companheiros de caminhada, aos que o antecederam e aos que o seguem, com o objetivo de suscitar neles a ação de graças pela obra realizada por Deus na vida do Santo no presente bem como o poder de suscitar uma sincera intercessão pelo que nele, hoje, encontra-se em desacordo com a vontade divina. Agostinho o faz como serviço, tendo os seus destinatários como filhos e até senhores, lembrando que, se o Verbo Divino tivesse ordenado servir somente por meio das suas palavras, já seria o suficiente. Contudo, ele foi além, mostrando por meio de suas ações.

Importante lembrar que o verdadeiro espírito fraterno deve ser cheio de caridade, alegrando-se com seus acertos, mas entristecendo-se com seus prováveis enganos. É com esta humildade, sem considerar-se inquestionável, que Agostinho se apresenta. Um servidor, desejoso de edificar os outros, mas sem pretensões de infalibilidade. Desarma qualquer um, incentivando a conhecer o que se passa dentro do seu coração.

Como somente Deus conhece o que se passa verdadeiramente dentro do coração, ele afirma que confessará o que sabe de si e o que julga ignorar, tendo a certeza que o perfeito autoconhecimento somente se dará quando estiver face a face com Deus, citando o Salmo 89, 8: “Colocastes diante de vós as nossas culpas, e nossos pecados ocultos à vista de vossos olhos.” (Salmo 89, 8)

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