Sabemos que a esperança não decepciona, como nos diz São Paulo na carta aos Romanos. Mas será que acreditamos nisso? Será que confiamos o suficiente para olhar a morte cruenta de Cristo na Cruz, e continuar esperando a ressurreição prometida?
A agressividade dos golpes nos assusta. A dor ininterrupta nos confronta: quando tudo isso vai passar? Quando o sofrimento vai ter fim? Onde estão as promessas de vida, de ressurreição, de triunfo?
A dor da Cruz está presente no dia a dia de todo ser humano. Minuto após minuto, somos bombardeados por desafios, traições, violências e conflitos – tanto internos, como externos. Todos os dias nos deparamos com a desesperança que desestabiliza, entristece, silencia e mata. Ao perder a esperança, perde-se a confiança e o amor. Perde-se a estrada, o chão, o sentido. Perde-se o olhar na eternidade, no novo que está para surgir.
Muitas vezes nossos olhos pairam sobre a realidade, sem contemplar o que está além dela. Os olhos da fé se fecham, os ouvidos se obstruem e o corpo se paraliza. A desistência aparece como única solução. A Cruz, a violência, o sangue vertido, tudo parece absurdo demais – e de fato o é. Como as mulheres que choram, o impulso inicial é o desespero pela dor aparentemente infundada.
Porém, a verdade é que desaprendemos a lidar com a frustração. Não queremos ter as nossas expectativas quebradas, e para uma cultura imediata e hedonista, nada serve se não me faz feliz. Estamos habituados com todas as facilidades que a atualidade oferece e, ao menor sinal de sacrifício, o primeiro movimento é recuar.
“Temos fôlego curto de tanto evitar responsabilidades. Somos prisioneiros de papeis dos quais não queremos sair, preocupados com os incômodos de uma mudança de rumo, e assim, muitas vezes, deixamos escapar a possibilidade da via da cruz.” – Papa Francisco para a Sexta-feira Santa de 2025
Contemplar e bem viver o sacrifício cotidiano fortalece a alma e o corpo, e abraçar a dor sem fugir dela é o motor que impulsiona a confiança. Afinal, não existe mistério Pascal que não passe pelo sangue, pela esperança posta à prova, pelo vazio, pelo silêncio, pela nudez. A Cruz nos despoja de qualquer apego, convicção, engano, egoísmo. Nos joga face a face com a verdade, com a claridade. A vida grita, o coração pulsa.
“A esperança vê o que será. No tempo e na eternidade. Ou seja: o futuro da própria eternidade” – Charles Péguy
Jezu, ufam tobie! Jesus, eu confio em vós! Eu confio na Sua promessa, eu confio no Seu sangue e água que me lavam. A Sua Cruz é incapaz de ser limitada à dor e à morte. Ela é o triunfo, ela é o começo de tudo. Ao mesmo tempo, cruenta e suave como a de um cordeiro rumo ao matadouro, silencioso e pacífico. Quão profundo é o silêncio que grita a Sua Glória!
Tu prometeste a vida eterna, Tu prometeste a ressurreição. A esperança na Sua vitória não nos decepcionou: de fato, tu venceste. Venceste em mim, em meus pecados, em minha traição. É árduo confiar quando o que vemos são açoites, sangue e desfiguração. Mas a promessa é Sua, Senhor. Não são os homens. És Tu. Tu que não decepcionas, não falhas, não desistes. A menina esperança instrui que algumas vezes é preciso recuar, contemplar o nada, aceitar o inaceitável. Esta é a humildade da esperança, reconhece sua pequenez e fragilidade, dependendo da fé e do amor para peregrinar.
E confiamos, Senhor. Confiamos em Ti. Confiamos porque tocamos na Sua Cruz e testemunhamos: não, Você não nos decepcionou. Não se ausentou. Não sucumbiu. Nossos olhos são limitados demais para enxergar a profundidade deste dia ápice do Amor.
Hoje silenciamos, contemplamos e louvamos. Esta dor não é perdida. Esta dor não é em vão. No silêncio da Sua dor, é possível escutar o coro celeste dos anjos entoando a Sua Glória. Hoje experimentamos que sofrer não é o fim, sofrer não é perder tempo, sofrer não é desesperar. Seu sofrimento redime, converte e salva. A Sua dor é a porta por onde entra o triunfo. Somos escondidos na Sua humilhação, e nela somos regenerados.
Não, não nos decepcionamos. Não nos angustiamos. Não nos desesperamos. Vencemos em Ti! Louvamos em Ti! Subimos contigo hoje na Cruz, morremos contigo, para sermos salvos contigo. Em Ti esperamos, pois Tu és a nossa vida, a nossa paz, a nossa esperança.