“Comecei a fazer caminhada de manhã cedo. Um dia acordava animado, disposto e ia caminhar. Outro dia acordava chateado com algum problema e saía de casa para caminhar. Algum outro dia, ainda, acordava preocupado, cansado, com sono, mas ia caminhar. Até que notei que minha pele estava ficando mais queimada do sol. Entendi que, independente do meu humor, se todos os dias eu me expusesse ao sol, este queimava minha pele. Pensei que é assim também a nossa oração. Jesus é o Sol. Se eu me exponho a Ele, todos os dias, independente do meu humor ou estado físico, Ele vai me queimar. Eu só preciso me expor, ser fiel na presença diante dEle”.
Assim testemunhava Padre Antônio Furtado em uma homilia certa vez. Eu não imaginava que aquelas palavras ficariam tão gravadas em mim e que um dia me seriam tão úteis. Passados alguns anos, sofri com uma depressão, decorrente de alguns condicionamentos que trazia do meu passado e me faziam lidar com os desafios corriqueiros da vida de uma maneira não muito saudável.
O fato é que eu estava psicologicamente esgotada. Não conseguia me animar a nada. Aquele esgotamento comprometia, inclusive, minha capacidade intelectual. Eu não conseguia me concentrar num único pensamento, não conseguia assimilar nada do que eu lia, não conseguia concluir uma Ave Maria. Demorava para dizer o meu nome completo e não lembrava mais dos números de minha identidade e CPF, que eu sei de cor os meus e os de minha mãe. Eu realmente estava esgotada e angustiada porque aquela incapacidade me deixava com muito medo de estar ficando louca, rsrsrs.
O Sol da minha alma
A orientação médica que recebi foi que eu precisava descansar, fazer coisas que gostava, dormir, fazer terapia, atividade física e tomar alguns remédios (que não teriam o mesmo efeito sem a atividade física #ficaadica). Sou missionária e resido numa casa com outros missionários e com o privilégio de ter na minha casa a presença do Santíssimo Sacramento, o Sol da minha alma.
Conversando com uma amiga, também missionária, a Erivania, que menciono aqui propositalmente por gratidão pelo conselho que me deu, disse-me: “eu acho que você não deve mesmo se obrigar a quase nada durante seu dia, deve descansar e fazer atividade física. Mas eu acrescento uma coisa a sua pequena lista de duas obrigações diárias: escolha um momento do dia, em que você estiver se sentindo melhor e fique uma hora na frente do Santíssimo, mesmo sem conseguir rezar. Só fique lá e deixe que Ele te olhe. É o suficiente”.
Muito corajosa ela porque na ocasião eu não aguentava ouvir falar em absolutamente nada que eu tivesse que fazer pois sabia que ao tentar qualquer coisa me deparava com a incapacidade e em seguida a angustia e as lágrimas. Mas lembrei da homilia. Não importava como eu estivesse. Só precisava me expor ao Sol. E todos os dias lá ia eu, quase sempre no meio da tarde, para a capela. À tarde estavam na capela apenas uns três seminaristas fazendo sua oração já que estudavam pela manhã e geralmente o faziam com Jesus Eucarístico exposto.
Maravilha! Eu podia aproveitar totalmente daquele Sol que me queimava e me transformava sem que eu percebesse ou sentisse. Na maioria das vezes, não conseguia sequer olhar para o Santíssimo Sacramento pois olhar me fazia querer falar com ele, e como meu pensamento não se concluía, vinha o medo, a angustia e eu tinha que sair.
Eu só me expunha ao Sol
Chegava na capela, procurava uma postura cômoda e apenas dizia: “Jesus, vim me expor ao Sol”. Fechava meus olhos, às vezes até cochilava, mas nessa época, sabia que estava doente e que Jesus não se importava que eu cochilasse ali, nos seus braços. Eu não sentia nenhuma mudança imediata, mas acredita veementemente que alguma coisa dentro de mim ia mudando, que eu não saía dali a mesma pessoa. Eu estava completamente abandonada nas mãos de Deus. Sem nenhuma força e assim também nenhuma resistência.
Acredito que nesse estado Jesus pode fazer muito mais do que em muitas outras épocas em que, sentindo-me forte, eram fortes as resistências em mim ao Seu Evangelho. Aprendi um novo jeito de rezar e só descobri depois quão profunda era aquela oração de completa confiança e abandono. Acredito que desses momentos é que, mesmo sem perceber, fui encontrando forças para todos os outros aspectos do tratamento: a paciência, a aceitação, a atividade física, a perseverança na terapia e na própria oração, a esperança.
Hoje estou curada
Aos poucos tive condições de voltar às atividades normais, rezar com meus irmãos, trabalhar, viver. Aos poucos fui aprofundando meu processo terapêutico, que também foi muito iluminado pela oração (mas isso é outra história), fui curada e hoje vivo muito melhor e feliz! Nunca vou esquecer dessa experiência de oração que fez tanto em mim. Que me fez conhecer tanto o amor de Deus por mim!
Resolvi escrever para você que tem depressão e que talvez pense que não possa rezar, quando é justamente a hora em que você mais precisa da oração. Você também pode dizer: mas eu nem tenho uma capela na minha casa, como poderia me expor a esse Sol bendito? Graças a Deus, a ação de Deus não conhece limites.
Na Comunidade cantamos uma canção que diz: “Teu coração se abre, ao ouvir a nossa voz, Te suplicando, Pai….” Essa oportunidade de estar na presença de Jesus Eucarístico é dada hoje a qualquer pessoa através da Capela Virtual, que nós da Comunidade Shalom e outras expressões da Igreja oferecem através da internet. Você pode em um click visitar uma capela onde Jesus está exposto e ali se colocar diante dEle. A Sua ação não conhece limites. A não ser o limite da nossa liberdade humana em não buscá-Lo.
Experimente! Eu dou testemunho!
Raniere Cristina
Missionária da Comunidade de Vida