Todo ser humano tem diante de si algumas perguntas fundamentais. Entres estas, as famosas: Quem sou? Qual minha origem? Qual meu destino?
Mesmo num mundo moderno, onde a ciência e a tecnologia encontraram respostas para tantas questões humanas, estas dúvidas ficam ainda em aberto, deixando margem para diversos pontos de vista, e alguns bastante deturpados.
Visando orientar e esclarecer nossa caminhada para o fim último – Deus –, falaremos sobre os Novíssimos, ou seja, o que nos ensina prudentemente a doutrina católica sobre os acontecimentos finais referentes a vida humana, de maneira individual (a morte, o juízo particular, o purgatório, o céu e o inferno) e coletiva (ressurreição dos mortos, segunda vinda de Jesus, juízo final).
A morte
A palavra morte nos faz lembrar muitos sentimentos negativos, como dor e separação, entre outros. Nossa experiência cotidiana com esse termo, naturalmente afasta de nós qualquer desejo por essa realidade. E isso é normal, pois fomos criados para a vida e não para a morte. Na luz da fé, a morte entrou na humanidade como conseqüência do pecado original, e o homem iniciou uma vida de sofrimento e infelicidade. Porém, em Jesus Cristo, Deus feito homem, a morte foi abraçada e derrotada no alto da cruz, recebendo um novo sentido para todos nós que cremos na sua ressurreição. Como nos diz Santa Teresinha: “Eu não morro; entro na vida”.
Assim, a morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo da Graça e da Misericórdia que Deus oferece para que realizemos nossa vida segundo Seu projeto e para que seja decido nosso destino último.
Logo após a morte, o ser humano sai da temporalidade e torna-se incapaz de viver uma nova vida terrena (reencarnação), ou fazer uma opção acerca do seu destino. Ensina-nos a sã doutrina da Igreja que a alma humana recebe de Deus uma iluminação intensa imediatamente após a sua separação do corpo, revelando plenamente o valor e o sentido real da sua existência terrestre.
O homem encontra-se com sua mais plena verdade diante do seu Criador, e “recebe, na sua alma imortal, a retribuição eterna logo depois da sua morte, num juízo particular que põe a sua vida na referência de Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do Céu, quer para se condenar imediatamente para sempre” (Cat 1022). Por isso é importantíssima a assistência àquelas pessoas que estão “aparentemente” próximas do seu momento final, a fim de prepará-las conscientemente para uma opção última e decisiva com relação ao seu destino eterno.
Mas esta orientação também diz respeito a todos os demais que gozam de perfeita saúde, pois nós não sabemos nem o dia, nem a hora em que seremos convidados à presença do Pai. É importante estarmos diariamente nos preparando para este encontro tão importante.
O Purgatório
Aqueles que morreram na amizade de Deus, mas ainda com as cicatrizes dos pecados cometidos, sofrem um estado de purificação, denominado Purgatório, a fim de chegarem à alegria eterna. No Purgatório não há fogo, como costumamos imaginar, mas uma amarga consciência de ter esbanjado ou ignorado o amor de Deus. Estas almas que padecem podem ser ajudadas pelas orações dos demais fiéis, pelas obras de misericórdia e, principalmente, pelo Sacrifício Eucarístico. Por isso, a Tradição da Igreja sempre honrou a memória dos mortos, buscando pela comunhão dos santos auxiliá-los a alcançarem a visão beatífica de Deus.
O Céu
Por céu, a doutrina da Igreja entende a vida perfeita com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, com os anjos e todos os bem-aventurados. Não é um local entre as nuvens, mas um estado reservado a todos aqueles que acolheram em plenitude os frutos da redenção realizada por Cristo, e que estão perfeitamente incorporados a Ele. “Os que morrem na graça e amizade de Deus, perfeitamente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem ‘tal como Ele é’, face a face” (Cat 1023).
Algumas teorias teológicas costumam identificar o céu com uma vida terrena cheia de realizações e felicidades, porém possivelmente não é a visão mais acertada. É, sem dúvida, possível compreendermos o paraíso celeste, ao menos como início, a partir da experiência presente de felicidade, dos sacramentos, da comunhão dos santos, e sinais de eternidade, porém a vida eterna prometida pelo Senhor aos seus seguidores excede em muito aos nossos parâmetros humanos de alegria, até mesmo ao cêntuplo prometido ainda nesta vida.
O Inferno
Apesar de todos os homens terem sido criados por Deus e para Ele, é possível ao ser humano fazer uma livre opção contra seu Criador, afastando-se definitivamente da bem-aventurança eterna. Esta condição da alma é o que a doutrina da Igreja chama de inferno.
Em pecado mortal, os mortos são precipitados aos infernos, onde sofrerão as penas, sendo a principal delas a separação para sempre de Deus, única felicidade do homem. Assim, o homem deve usar responsavelmente a sua liberdade visando seu destino eterno, respondendo a um apelo de entrar pela porta estreita da conversão, pela qual poucos passam. Só a aversão voluntária – isto é, o pecado mortal – a Deus, e a persistência nela levam a essa “condição” de condenação, pois Deus não predestina absolutamente ninguém ao castigo eterno. Deus é pura misericórdia!
Durante a formulação da doutrina sobre a sorte final dos homens, alguns teólogos levantaram a possibilidade de haver um estado especial (limbo) para as crianças mortas sem o sacramento do Batismo, porém a Igreja rejeitou essa hipótese, ao afirmar que a misericórdia divina age também por vias extra-batismais, a fim de levar à salvação estas criancinhas desprovidas de qualquer responsabilidade.
A ressurreição dos mortos
A ressurreição dos mortos é uma das verdades mais características do cristianismo, e afirma que todos os homens – justos e injustos – ressurgirão para uma nova vida. Assumirão seu mesmo corpo com novas propriedades, quando Jesus Cristo vier na sua segunda e gloriosa vinda (Parusia), para consumar a história deste mundo.
Mas quando se dará a Parusia? E, até lá, o que ficarão fazendo as almas já separadas dos corpos? Para entendermos essa doutrina, faz-se necessário compreender que, ao morrer, a alma humana sai da temporalidade e entra na Eviternidade, onde não há sucessão de dias, noites ou momentos, mas de atos de pouca ou grande intensidade. Torna-se um pouco complicado para nós imaginarmos o que seria a Eviternidade, pois nossas categorias de pensamento sempre têm presente o fator tempo, mas é nesse estado que a alma “aguarda” sua ressurreição “na nova carne”.
O Juízo Universal
Somente após a ressurreição de todos os homens, Jesus Cristo, Senhor e Juiz de toda humanidade, efetuará o Juízo Universal, quando será revelado “até às últimas conseqüências o que cada um tiver feito ou deixado de fazer de bem durante a sua vida terrena” (Cat 1039).
Tudo isso que vimos deve ser para nós um grande apelo à conversão cotidiana e uma razão maior para nossa esperança nos Novos Céus e na Nova Terra prometida por Deus, onde “a morte deixará de existir, e não haverá mais luto, nem clamor, nem fadiga” (Ap 21,4). Sem descuidarmos da nossa vida terrena, devemos norteá-la pelos valores da vida eterna.