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Dom Pedro José Conti
Entreas anedotas sobre a vida dos santos sempre têm algumas bem amenas. É ocaso da vida de São João Bosco, fundador dos Salesianos e grandeeducador da juventude.
Emsuas Memórias Biográficas se lê, em um dia de 1862, que dois homensforam ter com ele e lhe pediram os números certos para jogar naloteria. Estavam convencidos que o Santo lhes daria os números da sortegrande. Dom Bosco, com muitos argumentos, tentou convencê-los adesistir do jogo, mas os dois não saíam do seu pé. Queriam porquequeriam os números vencedores. Finalmente o Santo disse para jogarem osnúmeros: 5,10 e 14. Os dois, satisfeitos, estavam para ir embora,quando Dom Bosco exigiu que escutassem sua explicação.
-Não precisamos de nenhuma explicação – disseram, mas o Santo respondeuque sem explicação não iriam acertar. Os dois então ficaram escutando.
– Bom – disse Dom Bosco – 5 são os mandamentos da Igreja, 10 são osmandamentos de Deus e 14 são as obras de misericórdia espirituais ecorporais; se jogarem esses números vocês ganharão um tesourou infinito-.
Naturalmentenão sabemos o resultado daquele sorteio, se os dois acertaram ou não.Dom Bosco procurou somente mostrar-lhes que para ganhar o tesouroinfinito do amor de Deus não precisavam jogar na loteria, nem de sortealguma, a única coisa necessária era obedecer à lei do próprio Deus epraticar o bem.
Aindahoje a fila dos que apostam nas loterias é muito grande. Em tempo decrise, tentar a sorte parece uma saída. De fato, porém, pouquíssimossão beijados pelo destino. Os outros ficam esperando e imaginando. Atépor ocasião dos nossos modestos bingos paroquiais tem pessoas dizendoabertamente o que irão fazer com o prêmio, no caso de ganharem. “Se euganhar …” – é a frase que mais se escuta. Também a primeira perguntaque é feita ao vencedor de algum prêmio é sempre sobre o que irá fazercom tanto dinheiro. Nesse campo a nossa imaginação é imensa, vai longe.Mal fizemos a aposta, ou compramos a cartela do bingo, já começamos apensar como investir o lucro. Já estamos decidindo o que comprar e comomultiplicar o que ainda não é nosso. O grande sonho de todos, ou quase,é ficar ricos, muito ricos. Quantos palpites, emoções, promessas,decepções e mentiras experimentamos, sempre insatisfeitos, semprebuscando mais. Tentando de novo no mesmo caminho.
Jesusno evangelho deste domingo fala de produzir muitos frutos. Numasociedade agrícola uma boa colheita era sinal de fartura e riqueza.Poderíamos ser tentados a pensar que até Jesus prometeu e incentivou amultiplicação dos bens materiais. Poderia parecer que o estar unidos aele, como os ramos ao tronco da videira, garantiria a sorte grande,frutos e mais frutos. É verdade, mas não no sentido das riquezas destemundo. Jesus falava de outros frutos que, pelo visto, estamosesquecendo-nos de multiplicar.
Estamosdeixando de multiplicar os frutos da bondade. Esses ficam por últimos.Somente se sobrar tempo e dinheiro. Primeiro as nossas necessidades eos nossos caprichos – em geral nunca satisfeitos – depois a caridade.Numa sociedade agrícola, talvez fosse mais fácil partilhar o arroz, afarinha, o feijão, os frutos da terra, da caça e da pesca. Hoje amaioria vive do salário que desaparece rápido no supermercado e nasvárias prestações que devem ser pagas. Será que ficou tão difícil assima solidariedade? Pode ser.
Aquestão, porém, é deixar de pensar sempre em termos de dinheiro.Podemos multiplicar a amizade e a alegre convivência, visitando amigose inimigos. Podemos nos solidarizar na luta pelos direitos nossos e dosoutros. Podemos aprender a consolar quem sofre. Todos nós podemoscumprir melhor as obrigações do nosso trabalho, emprego ou mandato.Também uma boa educação, a gentileza e os bons tratos são frutos quesempre se multiplicam.
Está na hora de arriscar na loteria da vida os números de Dom Bosco. Osnúmeros do bem. Seremos todos os grandes ganhadores, porque o resto nosserá dado por acréscimo.