Não consigo imaginar a entrada de Jesus em Jerusalém, que lembramos no domingo de Ramos, sem pensar em muitas crianças e juventude cantando e aclamando.
O Evangelho de Lucas fala de “multidão de discípulos”. Será que esses “discípulos” eram somente adultos e idosos? Com certeza não. Também porque não há fato, crime, acidente ou confusão que não faça aparecer logo um monte de crianças para espiar. Querem ver; não adianta afastá-las. Ficam emburradas. Também se, nem sempre, o “espetáculo” é para crianças. E os jovens? Com certeza são menos curiosos; às vezes nem ligam, mas nunca estão ausentes. Sobretudo quando, passando de boca em boca, entra em ação a famosa frase: “Todos estão lá”. Para a juventude, mais do que a curiosidade, importa a multidão. Não querem ficar fora do que “todos” estão experimentando. Também, quem mais e melhor do que um jovem para subir em uma árvore para tirar ramos? Então, tenho direito de pensar que, em Jerusalém, a acolher Jesus tinham muitos jovens, adolescentes e crianças.
Talvez seja por isso que a Jornada Mundial da Juventude é comemorada no Domingo de Ramos. Nós também vamos convocar a juventude, temos até uma mensagem do Papa Bento XVI para esse dia.
Nós todos precisamos da juventude. Pobre aquele adulto que sente ciúme dos jovens ou, pior, quer imitá-los, expondo-se ao ridículo e fora de lugar. Não adianta; a fase da juventude é única e não se repete, como todas as outras idades. Portanto, deve ser bem vivida, com as alegrias e as tristezas que tem, assim como todas as outras fases da vida. Mas justamente por ser original, nós todos precisamos da juventude. Com a sua energia, o seu entusiasmo, ela representa o novo até quando, deixando-se levar pelas modas, parece que nada cria e nada inventa, só imita. No entanto, não tem jeito, cada geração é única, é nova em si mesma, por estar livre das amarras do passado e das saudades do que não volta. É nova pela vontade e a consciência de não ser “clone” de ninguém. É e deve ser diferente.
O Papa, em sua mensagem, pede à juventude para “ousar o amor”. Porque se tem algo que cada geração revive e reaviva é, justamente, o amor. Desde o simples e encantador encontro dos namorados, até as decisões mais corajosas e ousadas de quem sente que tem algo de novo para dizer, criar, construir. Muitas das grandes intuições de artistas, poetas, cientistas e filósofos, aconteceram na juventude. A maturidade, quando foi alcançada, serviu para levar à plenitude a própria genialidade. E todos somos artistas e gênios do nosso jeito, criando e agüentando a vida todos os dias. Quanta criatividade a nossa juventude mostra, buscando encontrar o seu caminho na vida, a sua profissão, o seu ganha-pão, o seu grande amor .
Com tanta ousadia e criatividade por que não “ousar o amor”? Por que não acreditar que vale a pena confiar nos outros e gastar os próprios talentos, diz o Papa, não somente para nós, para a nossa vantagem, a nossa satisfação, mas também para amar e servir aos irmãos? Entre tantas formas possíveis de gastar as próprias capacidades, porque não gastá-las para fazer o bem? Disso o mundo todo está muito carente.
Agora, porém, veio-me a dúvida. Será que havia muitos jovens também para gritar “Crucifica-o” na Sexta Feira Santa? Que pena! Poderiam ter ousado amá-lo mais. Talvez o ajudando a carregar a cruz.
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá (AP)
Fonte: CNBB