Dom Orlando Brandes
APalavra de Deus não pode cair no chão, mas nos corações através doouvido. A Palavra precisa de ouvintes e de anunciadores. Estesemprestam sua voz para que a Palavra seja ouvida e os ouvintes recorramao silêncio para a escuta de Deus que fala e revela seu amor.
Oouvinte da Palavra, faz a experiência da “encarnação da Palavra. Grandeé o poder da Palavra em nosso ser, a saber: ouvido de discípulo,coração de enamorado (arde o coração), língua de profeta, mão desamaritano, pés missionários. A Palavra transforma todo o nosso ser.Ela se faz carne em nossas pessoas.
AIgreja sempre venerou as Sagradas Escrituras do mesmo modo como fez como Corpo do Senhor. Cristo vive e fala na Palavra. Quando se lêem asEscrituras, é Cristo que fala. Daí a necessidade de bons microfones, leitores preparados, boa acústica, boa comunicação.
APalavra de Deus é uma palavra amiga, verdadeira, viva, eficaz,fecundante, transformante, informativa, formativa, apelativa,recriadora, eterna, salvadora, santificadora, reveladora. Esta PalavraSanta é inesgotável, permanente como a sarça ardente.
APalavra protegida pelo “Não”. Não falsificar a Palavra, não acorrentar,não emudecer, não manipular, não silenciar, não ocultar, não ler mal,não ignorar, não prejudicar, não envelhecer, não deformar, nãodomesticar, não ajeitar, não ideologizar, não mudar, não dificultar oacesso à Palavra de Deus.
Bíblia,carta de amor é: Livro da vida. Livro da verdade. Livro da amizade.Livro da salvação. Não é livro morto. Não é livro velho. Não é livroapenas de estudos e consulta. Não é livro de curiosidades. Não é livrode brigas religiosas. Não é livro como outros livros.
AIgreja deve ouvir piamente, guardar santamente, expor fielmente aPalavra de Deus para que o mundo creia, acreditando espere e esperandoame. A Palavra ilumina as mentes, fortalece as vontades, inflama oscorações no amor de Deus.
Precisamoster familiaridade com as Escrituras Sagradas, apegarmo-nos a elas, poistudo foi escrito para nossa instrução e esperança. A Palavra ésustentáculo da Igreja, alimento da alma, solidez da fé, fonte de vidaespiritual.
Quea Palavra corra veloz (II Tess. 3,1), não seja acorrentada, chegue aosconfins da terra e sobre os telhados. A “voz” da Palavra é a revelação.O “rosto” da Palavra é Jesus Cristo. A “casa” da Palavra é a Igreja. Os“pés” da Palavra são as missões e caminhos da missão.
Ocristão é convocado a ouvir a Palavra. E também: compreender.Assimilar. Renunciar. Obedecer. Anunciar. Permanecer. Reescrever.Praticar. Dar fruto. Perseverar. Fazer o que diz a Palavra. Sim, aPalavra se fez livro, mas precisa fazer-se carne em nossa carne.Pronunciamos a Palavra com nossa vivência e boas obras, com nossotestemunho.
APalavra é tão excelsa e alta como o céu infinito, e tão profunda como oabismo insondável. Ela é pão, luz, mel, leite, ouro, martelo, espada,chuva, carta, semente, colírio. Estes são símbolos que nos ajudamdescobrir o tesouro inestimável da Palavra. O lugar da Palavra é nossamão, nosso coração e nos pés para a missão.
Somos aquilo que ouvimos. O coração do verdadeiro cristão é “uma biblioteca bíblica”. Na Bíblia, a Igreja ouve as declarações de amor do Amado. Era costume em alguns mosteiros o Abade perguntar aos monges após a meditação da Palavra: “O que comeste hoje?” A Bíblia é pão, é nutrição, alimento diário. A Palavra de Deus é inesgotável, não envelhece, é como a sarça ardente que não se consome, não passará. Eis a inesgotabilidade da Palavra de Deus. Os irmão protestantes leem a Bíblia, os católicos falam da Bíblia. Precisamos ser a Igreja escriturística.Testemunho de um bispo na aula sinodal: “Obtive Licenciatura noInstituto Bíblico de Roma, mas foram os pobres que me abriram mais aovigor da Palavra”. (D. Emmanuel Lafont, Guiana Francesa). Osseminaristas devem abordar a Bíblia como livro da vida e não como livro de estudo. A vivência do evangelho é mais eloqüente que tantas palavras. Cada cristão deve ter a sua Bíblia.