Sinópse: O desejo de um pai solitário dá vida magicamente a um boneco de madeira, seu nome é Pinóquio. Confuso por ser tão diferente das outras crianças, Pinóquio foge de casa para encontrar seu lugar no mundo e se depara com perigo e aventura.
Contar uma história que todos conhecem é um desafio, pois precisamos inovar em algo para que ela se torne minimamente interessante. A versão estrelada por Hanks, optou por uma adaptação mais moderna, que revisou o plot principal do filme que é basicamente uma lição de moral para que crianças não mintam.
A versão do streaming optou por tornar o filme mais adulto e denso. Isso mesmo, essa versão não é para crianças, não apenas pelo uso de bebidas alcoólicas no filme, mas porque ele vai em questões mais profundas que não são entendidas pelos pequenos.
Referências cristãs
Antes de entrar no essencial do filme eu queria destacar a abordagem do cristianismo nas produções atuais. Até mesmo em muitos filmes da Disney, evita-se as referências cristãs sob o pretexto de não parecer ofensivo para outras religiões (observem que em Frozen, Elza é coroada por um bispo com uma mitra sem uma única cruz). Del Toro usou de uma forma peculiar a mitologia cristã sem caricaturas, nem como a vilã implacável ou como aqueles personagens que são cheios de virtudes e que estão sempre corretos. Em uma cena, o menino de madeira olha para o crucifixo e pergunta para o Pai: Eu vi as pessoas cantando pra ele. Ele é de madeira igual a mim, porque ele gostam dEle e não de mim?
Outro detalhe interessante é que a fada azul tem a aparência angelical com múltiplos olhos nas asas, uma aparência semelhante a descrita no livro do Apocalipse. Além de usarem uma máscara com um rosto humano, para que não vejamos sua verdadeira face.
Voltando a trama, o fato é que Pinochio, o personagem principal do filme, é um chato. Ele não é apenas uma criança mal criada, mas um menino que faz questão de ser inconveniente e chega a ser irritante, pode-se dizer que seria aquela pessoa que muitas vezes classificamos como insuportável.
E a jornada do filme se baseia nessa construção de aceitação daqueles insuportáveis, daqueles que nos causam estranheza e repulsa. A aparência do boneco neste filme é tosca, ele não chega a ter uma aparência de um menino e pra completar tem apenas uma orelha.
Quando falo de aceitar os insuportáveis não falo de um eventual culto ao sofrimento, mas de aceitar as pessoas como elas são, com suas qualidades mas também com suas limitações e que muitas vezes elas despertam em nós aquilo que temos de ruim, que queremos esconder e deixar oculto. Pinoquio fazia Geppetto ver aquilo que ele era e que ela não queria ver: um velho egoísta que vivia a em torno de si mesmo.
Relação paternal
E no filme conseguimos entender melhor a nossa relação com Deus, lembra de que as fadas foram adaptadas com características angelicais. O velho homem não foi atendido no seu pedido como queria. Foi lhe dado um filho que não atendia suas necessidades e seus desejos, mas que o fez sair de si. O filme é focado na relação pai e filho, que é muito intensa, mas não se resume a isso. O ensinamento vale para as nossas relações pessoais, conjugais e muitas outras. O ensinamento de amar a Deus através do outros, como diz o escrito Amor Esponsal da Comunidade Shalom:
Devemos enxergar nos irmãos excelente oportunidade de darmos provas de amor ao nosso Rei. Aceitando as suas ofensas, ouvindo os seus queixumes, amando os que não são amados, perdoando os que são difíceis de perdoar, vivendo o Seu Amor, de maneira especial com os que mais necessitam Dele, estaremos vivendo nossa vocação que é Vocação de amor, por amor e para o Amor.
Escrito Amor Esponsal, n. 25.
Escolher os não amáveis é um opção nossa pela santidade e aqui peço licença para citar uma amiga, Adriana Viana, que, quando conversávamos sobre afinidades, ela me olhou e me disse: nossa afinidade é Deus. E ainda acrescento, que possamos sempre viver a nossa afinidade primeira, não apenas que nos agrada ou nos traz recompensa, mais santidade.
Confira o trailer:
Fabiano Queiroz
Projeções de Fé
Confira esta e outras resenhas no blog ‘Projeção de Fé’, que trás análises de cada obra e mostra onde se adequa ou não aos preceitos que um cristão quer viver.