Conversando com uma irmã, me recordava de um tempo difícil que vivi na vida missionária: O mistério da solidão, mesmo vivendo sempre no meio das multidões.
Recordo que me sentia realizado na minha vida, mas existia esse momento difícil de sofrimento e angústia que batia à porta do meu coração. Solidão. Aí você diz “isso é por que você é celibatário”. Pior que não! Tenho muitos amigos com namoradas ou já casados que às vezes se sentem assim!
Comecei a fugir dessa solidão: vamos inventar mais trabalho, mais saídas, mais viagens, mais tudo! Fugir da solidão é a solução! Descobri que não.
Então chegou às minhas mãos um escrito do meu grande santo de devoção: São Alberto Hurtado. Se chamava “En Los Días de Abandono”. Descobri que esse santo já havia passado por isso antes de mim. A solidão era agora um sofrimento compartilhado com alguém que já estava no Céu e que podia me ajudar! Lia e relia seu poema nas orações tantas vezes! Fui descobrindo que a causa do meu sofrimento se tornaria a causa de uma ressurreição em mim.
“Estou só. Bem só. Sozinho em meio aos demais. E é aí que Deus entra, se aproxima da alma e levanta-a, confirma, consola e preenche. Já não estou mais sozinho e meu barco não naufragará” São Alberto Hurtado (em tradução livre).
Descobri que a solidão que sentimos é um lugar privilegiado de fé e de encontro com o Senhor. Se torna uma cruz esponsal para O encontrar mais profundamente. Bem, e se não se consegue encontrá-lo, é um lugar de prova de amor, como um amante que espera a volta da amada.
Nos momentos de solidão também descobri o valor forte da amizade. “Sem amigos ninguém escolheria existir” disse um dia Aristóteles. Ser raptado no meio de um dia corrido pelos amigos só pra tomar um sorvete não tem preço! Os amigos foram me ajudando a viver aquele momento em santidade, profundidade, com muitas gargalhadas, alegria e sem julgamentos! Como os amigos adoçam nossa vida!
Se você também vive esses momentos de solidão, tão normais em um mundo que não consegue parar, não tenha medo de enfrentá-los. Mas não os enfrente conversando até de madrugada pelo celular até “ele cair na sua cara”, com compensações que só te deixariam mais vazio.
No momento da tua solidão, Jesus bate à porta do teu coração. Nossa Senhora, juntamente aos teus santos amigos, te abraçam. Fecha teus olhos e olha o invisível. Experimenta daquilo que o mundo nunca poderia te dar. Deixa-te ser ressuscitado da tua morte e a tua fé será a força na tua escuridão!
O bom Deus que cuida de ti, nunca te deixa sozinho. No teu quarto deixe que a brisa leve do Espírito Santo alivie teu calor, que o Pai das Misericórdias corra o teu encontro como fez com o filho pródigo, e que Jesus Salvador te mostre as chagas da tua salvação!
Talvez a solidão que sentimos tantas vezes seja, afinal, a forte saudade do Céu que cada um de nós traz dentro de si.
“Deus habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, (nem SOLIDÃO), nem grito, nem dor por que passou a primeira condição. EIS QUE EU RENOVO TODAS AS COISAS”. (Apocalipse 21, 3-5)
Por Vitor Aragão de Carvalho
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Muito profundo e providente para mim nesta circunstância de isolamento social, também partilho desta mesma experiência com a amizade dos santos nestes tempos, como Santa Rosa e Lima que diante do sofrimento não queria acabar mas pedia a Deus para amar mais à Ele. O que ficou mais forte do texto foi esta compreensão: “Talvez a solidão que sentimos tantas vezes seja, afinal, a forte saudade do Céu que cada um de nós traz dentro de si.”