No Natal celebramos o profundo e amoroso despojamento de Deus. O Criador mostra com um ato radical, o que depois seria a alma de seus ensinamentos, nas pregações de Jesus, seu Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. “É próprio do amor despojar-se, abaixar-se, doar-se, entregar-se por inteiro até o fim”. Despojar é um verbo transitivo direto, que significa privar uma pessoa de alguma coisa que lhe pertence, colocar de lado, abandonar.
Porém, o belo do Natal de Jesus, está justamente no fato de que Deus não é despojado por mãos humanas, como se sua grandeza e gloria lhe tivessem sido arrancadas à força. Ele não foi roubado, ao contrário, Ele se doou, se despojou, fazendo-se homem. Ele não violou a Lei dos profetas, mas a elevou. Outro fato que requer a nossa atenção é que Ele não surge como um raio reluzente, já adulto, forte e Senhor de si. Mas ao contrário, vem na forma de um bebezinho pobre e totalmente dependente de seus pais, José e Maria.
Seus pais não eram nobres e ricos, com influência de realezas mundanas. Seu pai adotivo José era um simples carpinteiro. O pai do Cristo é apresentado pela narrativa bíblica como um “homem justo”, que fez tudo o que pôde para proteger Maria e Jesus. Ele olhou para os seus com um coração terno e os amou de modo profundo e desinteressado.
Maria, a escolhida de Deus, ao dar à luz a Jesus, o enfaixou. E com a ajuda do seu humilde esposo e guardião José, o colocou numa manjedoura. Sempre fico tocado quando imagino essa cena. Um acontecimento tão grandioso que marcou para sempre a história de forma tão profunda. O Cristo chegou até nós numa aparência tão simples, sem barulhos, festa, sem grandes aparatos de luxo e requinte. Penso que é assim que devemos esperá-Lo.
Neste pequenino e frágil bebê de Maria, Deus assumiu a nossa existência e mudou o rumo da nossa história. Se um objeto é apenas tocado por Deus, torna-se sagrado, o que dizer então de uma criatura cuja a natureza, mais do que tocada é assumida por Deus? Na cultura judaica, um objeto ou espaço tocado pelo Senhor, torna-se santo.
Com isso, poderíamos nos perguntar: Que respeito e admiração devemos ter por essa mulher que gerou o Filho de Deus em seu próprio corpo? Que gratidão devemos ter pelo homem simples e decidido, que protegeu a esposa e o Menino que lhe foi confiado?
Que nesta véspera do Natal do Senhor possamos fazer memória da grande beleza da encarnação e reavivar o louvor a Deus e a gratidão a esses dois grandes e santos personagens que deram a vida por nós. Que Deus nos ensine a imitá-los nessa espera do Cristo que vem.
Rodrigo Gomes