Na tradição católica, nós encontramos Verônica como principal representante da fotografia. Isso mesmo! Verônica foi aquela que ao enxugar o rosto de Jesus Cristo, durante a Paixão, imprimiu no véu que trazia consigo os traços de Sua face, por isso ela é considerada a Padroeira dos Fotógrafos. Santa Verônica e o Sudário são, por assim dizer, os objetos paradigmáticos da “aura” e, de forma bem resumida, entendemos como “aura” o que Walter Benjamin* definiu em sua obra chamada “Pequena História da Fotografia”: a aparição de algo distante, que se faz próximo. Esse conceito é pensado a partir da observação de alterações provocadas pelas novas técnicas de produção artística na esfera cultural. Esses objetos nos aproximam do Sagrado e nos trazem a experiência de que o que parece distante está mais próximo do que imaginamos.
A fotografia, o lenço de Verônica e o Sudário têm em comum o fato de serem imagens aquiropoéticas, ou seja, imagens criadas sem o auxílio da mão humana, um verdadeiro milagre!
Desde esse fato, a fotografia passou a desempenhar um papel significativo no culto moderno do sagrado. Georges Didi-Huberman* alega, por exemplo, que depois de fotografado por Secondo Pia, em 1892, o Santo Sudário adquiriu uma importância teológica e litúrgica que nunca havia tido até então. Não apenas o “filme” de Secondo teria permitido ver ali um corpo e um rosto, mas a própria fotografia teria se tornado ali um meio para a compreensão espiritual destes objetos, que teriam tocado a luz e o corpo de Nosso Senhor.
O Santo Sudário conservou uma grande marca para a fotografia, dando a perceber a grande relevância da pessoa de Verônica na história da fotografia no meio cristão. Um grande fotógrafo francês chamado Philippe Dubois afirma até que “o Santo Sudário é, no fundo, a primeira ‘fotografia de crime’.” Dubois explica: “O milagre fotográfico conquistou então todo o próprio Santo Sudário: essa relíquia, essa mortalha manchada, esse pano impregnado de uma presença desaparecida tornou-se ele próprio a marca negativa do corpo de Cristo que nele foi deposto. E o Sudário que se fizera fotografia. Sua história começa aí.”
Santa Verônica, rogai por nós!
Wallace Freitas
*Walter Benjamin foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão.
*Georges Didi-Huberman é filósofo, historiador, crítico de arte e professor da École de Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris.
Muito interessante este artigo.
Agradeço como fotógrafa que sou.
Amei a matéria! Sou fotografa e isso agregou ainda mais conhecimento com muita grandeza a essa profissão que tantos não valorizam, mas é uma arte de contar histórias e momentos. Shalom! Parabéns pelo novo site, está lindo!