Estamos num epicentro de uma grande transformação da modernidade para hipermodernidade como alguns sociólogos afirmam. Uma teoria atrelada ao estilo de vida que temos, a aceleração de informações, a ansiedade gerada por tanta violência, exigência midiática da perfeição corporal, sucesso, numa espécie de formatação onde todos precisam se enquadrar e tudo isso trouxe incidências na formação da subjetividade do sujeito.
Vemos o mercado orquestrando a ruptura desse indivíduo em sua relação com a sua comunidade, relação essa que é fundamental e referencial na constituição do sujeito, pois somos seres sociais enquanto somos convencidos que cada um é isolado em si mesmo, ou seja, centrado no sucesso individual, conforto, dinheiro e ser bem sucedido.
Diante de tudo isso, constatamos que o cristão está envolto nesse mundanismo e se perdendo com tantas distrações, onde buscam viver para si, construindo seus planos e projetos indiferentes ao pobre, ao que sofre e à vida missionária, a qual Jesus nos chama viver, perde-se, esvanece-se causando uma ruptura desfocada da identidade do sujeito.
Vivem a fé como algo desvinculado de sua identidade, buscando-a para aliviar suas dores ou um mero protocolo de cumprimento de tarefa vazia de sentido e cheia de mecanicismo, transformando a vida cristã em momento isolado de relaxamento e obrigações sem compromisso com a evangelização e sem encontro com o outro.
A igreja é constantemente bombardeada por alguns intelectuais que geram desconfiança ao que é anunciado suscitando insegurança, sentimento de inferioridade em alguns cristãos e na tentativa de serem aceitos escondem sua identidade cristã. Com essa postura relativista o cristão ao invés de anunciar o evangelho passa a questionar-se, a desconfiar de sua missão, esmorece, desacreditando na transformação do mundo e se fecha em si (Evangelii Gaudium, 79).
Papa Francisco (Evangelii Gaudium, 83), vem nos falar sobre a “psicologia do túmulo”, onde o cristão está paralisado em si como uma múmia, desenganado com a realidade, com a igreja e consigo vive sufocado em suas exacerbadas atividades não lhe restando tempo para vida missionária, levando-o a escuridão e a um cansaço que só corroe, destrói a alma e o adoece. Esse adoecimento consiste na falta de sentido, a ação vazia, motivações inadequadas, projetos irrealizáveis, vaidade, dureza de coração na aceitação do fracasso, críticas ou não aceitação da cruz.
A igreja não é formada só pelo papa, bispos, padres, diáconos… nós também somos igreja. Como igreja somos chamados a ser sal e luz para o mundo, levar a todos o evangelho de Jesus Cristo, anunciar a Sua paz, Seu amor e sermos canais dessa misericórdia para os que sofrem e não conhecem a Cristo.
Quando Jesus disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15), Ele não disse isso somente para os seus discípulos que estavam diante Dele, mas também convida a nós a sermos seus evangelizadores, sermos seus atuais discípulos e dar continuidade do anúncio de sua misericórdia.
Nesse ano do laicato, principalmente, não devemos nos acomodar e esperar que tudo caia do céu, mas sermos conscientes que toda transformação é consequência de nossa ação evangelizadora e que a vida de oração é nosso combustível para vivermos com parresia a vontade de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADO, Joel Portella; FERNANDES, Leonardo Agostini (org.). Evangelii Gaudium em questão: Aspectos bíblicos, teológicos e pastorais. São Paulo: Paulinas. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2014.
ARAÚJO, Renata Castelo Branco; O sofrimento psíquico na pós-modernidade: uma discussão acerca dos sintomas atuais na clínica psicológica; Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0311.pdf; Acesso em 29/09/2017.
FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2013.