“Pureza? Mas como ser puro? Como ser casto? Você não está entendendo, sou jovem, cheio de energias, meus hormônios estão a mil. Continência, castidade não são pra mim, não combinam comigo. Até me atrai, dou valor, mas sei que não é pra mim. Se você soubesse o misto de sentimentos contraditórios que me envolvem, os desejos, as atrações. As vezes até eu mesmo me surpreendo com as novidades que surgem em mim. Você ainda quer falar de pureza comigo? Ainda que eu quisesse meu corpo reclama, com pouca coisa tô excitado, pareço insaciável. Castidade é pra você que é consagrado, pra você que é celibatário, que reza, deve ser fácil, talvez um dia eu chegue lá.”
Estas indagações de um jovem logo me levou ao tema: “felizes os puros de coração porque verão a Deus” que será o tema do Congresso de Jovens Shalom que está se aproximando, a sexta bem-aventurança proposta por Jesus no evangelho de Mateus no capítulo cinco. O Papa Francisco nos fala que as bem-aventuranças são o programa de vida do cristão e as respostas diante da pergunta: o que fazer para ser um bom cristão? Pois, Jesus indica atitudes contrárias ao que habitualmente se faz no mundo.
O tema da pureza de coração parece que de primeira mão levanta em nós um misto de questões. Castidade, liberdade, verdade, lutas, fidelidade, quedas, medo, repulsa, atração, decisão. Em meio a tantas lutas para ter esse coração puro, nos deparamos com uma capacidade impressionante de amar. O que nos move é a vontade de amar diz o Papa Francisco, quando o jovem vive e ama, não se aposenta. O jovem que não ama envelhece muito rápido”.
Nos diz o Catecismo da Igreja Católica que a expressão “puros de coração” designa aqueles que entregaram o coração e a inteligência às exigências da santidade de Deus. Essas exigências não são poucas, mas são possíveis. Ainda o Catecismo nos ensina que o batismo da àquele que o recebe a graça da purificação de todos os pecados, mas não deixa esquecer que o batizado deve continuar a lutar contra a concupiscência da carne e as cobiças desordenadas e que com a graça de Deus alcançará a pureza de coração.
Diz Santo Agostinho: “Eu julgava que a continência dependia de minhas próprias forças… forças que eu não conhecia em mim. E eu era tão insensato que não sabia que ninguém pode ser continente, se Vós não lho concedeis. E sem dúvida mo teríeis concedido, se com meus gemidos interiores vos ferisse os ouvidos e, com firme fé, depusesse em vós minha preocupação”. O grito de um jovem que luta por essa pureza, com certeza, alcança os ouvidos de Deus, pois confiar na sua força é o primeiro passo nessa caminhada. A Igreja ainda nos indica o caminho da virtude, da pureza de intenção e do exercício da pureza do olhar. Quando estamos centralizados em nossas lutas, um grande remédio é a evangelização sair de nós mesmos em direção a dor do outro. O Padre Amadeo Cencini nos indaga: “o que seria um coração intacto, se não um coração dilacerado pela luta?” A pureza não é fácil para ninguém, mas na decisão diária e contando com a graça de Deus é possível.
Evandro Meneses
Acho o artigo muito bom. Só lamento que não haja mais edições do livro A Casta
a Adolescência , de Toth.