Estamos nos aproximando do Dia dos Namorados e podemos imaginar muitos corações suspirando por causa de um amor, uma pessoa, um companheiro. Muitos outros corações suspirando pelo desejo de ter este amor quase como em um conto de fadas onde a princesa espera o amado príncipe chegar em seu cavalo ou, ainda, corações tristes pela ausência do mesmo. Assim, podemos nos perguntar: Quanto custa o amor verdadeiro?
Vivemos no século XXI, nele tudo é muito rápido. As coisas surgem num momento, atraindo nosso interesse ávido por novidades e no estante seguinte já estão ultrapassadas. Mais uma vez, corremos atrás de novas coisas, descartando inteiramente o que acabamos de adquirir. Somos completamente envolvidos por duas mentalidades nocivas, que se enraízam como culturas destrutivas da nossa sociedade: o imediatismo e o consumismo. Acostumamo-nos a ter tudo o que queremos sem reconhecer o verdadeiro valor das coisas. Gastamos compulsivamente sem medirmos as consequências nem pensar no futuro, gastamos simplesmente porque queremos gastar, queremos simplesmente porque queremos e, ainda mais, queremos agora, queremos em “Banda Larga”. Não damos conta de que as realidades fundamentais da existência humana, as realidades definitivas bem como as verdadeiras necessidades, não cabem nos limites de nossos cartões de crédito e muito menos se cumprem na velocidade da internet.
Precisamos fazer uma espécie de desintoxicação desta cultura que faz da nossa vida uma sucessão de dias ansiosos, produzindo um imenso vazio em nossos corações sem acrescentar nada bom. Precisamos aprender a valorizar o que temos, correr atrás do que acreditamos que realmente é valioso, ainda mais quando se trata de relacionamento, quando se trata de uma pessoa, de “um amor”. Também no campo da afetividade e da sexualidade deixamo-nos fragmentar pelo imediatismo e consumismo. Vemos cada vez mais pessoas feridas, usadas e descartadas como um produto do qual alguém perdeu o interesse e saiu a procura de uma outra fonte de prazer, mais moderna, talvez. Na verdade, precisamos voltar a viver como seres humanos e parar de nos relacionarmos como produtos. Precisamos redescobrir o valor do verdadeiro amor, o desejo de lutar por algo que realmente possa valer a pena gastar tudo, investir a própria vida.
Gostaria de apresentar duas personagens que fazem parte da história do povo de Israel, o povo de DEUS e, por isso, parte também da nossa história como cristãos. Trata-se de Jacó e Raquel, sua relação e (por que não dizer ?) seu namoro. Trata-se da história de um homem que aprendeu a esperar uma mulher porque sabia que valeria a pena, porque sua intuição lhe dizia que fazia parte do plano de Deus. E de uma mulher exercitada na virtude da paciência, uma vez que era pastora. Quem faz parte da Obra Shalom sabe muito bem como o pastoreio exige paciência para lidar com o tempo de cada ovelha. É o pastoreio propriamente dito, pois ovelhas não tem muito senso de direção e são meio cegas. Cuidar delas é ótimo exercício de paciência.
Considerando a passagem bíblica (Gn 29, 1- 30), vemos que Jacó “Logo que viu Raquel pôs-se a servi-la junto ao poço dando de beber a suas ovelhas, depois a beijou”. Um beijo, não como costumamos imaginar, mas um beijo de saudação, pois encontrou uma parenta sua. No entanto, o coração de Jacó já começou amar Raquel como relata o versículo 18. Amando Raquel, Jacó se propôs a servir o pai da jovem durante sete anos. O preço foi a honra de uma palavra dada baseada no amor verdadeiro que nutria por Raquel, traduzido em sete longos anos de serviços prestados a família da jovem que seu coração elegeu. Não obstante a palavra dada e o amor que sentia, muitas coisas se levantaram para prolongar o tempo de espera do jovem Jacó e para fortalecer a paciência da jovem Raquel. Exemplos disso foi a esperteza do pai da jovem em lhe dar nas núpcias a filha mais velha – que por sinal era triste e sem brilho – e não “ Raquel que era bela de corpo e de rosto”, a sua eleita ( V.17). Esperteza mundana, própria dos filhos deste mundo, baseando-se na cultura de sua época e não na verdade da voz de Deus. Ainda bem que o Senhor bondoso e generoso em sua providência pôde tirar belos frutos da união de Jacó com Lia, “a embaciada”. Fortalecidos pelo tempo e ancorados na certeza do amor que sentiam, puderam contemplar os feitos de Deus e foram felizes em seu desígnio.
Podemos agora responder quanto custa o amor verdadeiro! Custa o preço da honra, outra palavra esquecida em nosso tempo. Lembro-me que minha mãe e meu pai diziam que quando eram crianças não existia tantos documentos assim para assinar antes de comprar algo ou fechar um bom negócio. Não existia SERASA, SPC e outras coisas. O que havia era o valor de uma palavra dada e o respeito pela família. Custa, ainda, a virtude da paciência para esperar o tempo de Deus e não nos deixarmos levar pela “esperteza” deste mundo, que muitas vezes nos engana e que deseja nos dar “nas escuras o feio e sem brilho”, e não o que é verdadeiramente formoso e belo, segundo o desígnio de Deus a nosso respeito. Santa Tereza nos ensina que “É justo que muito custe o que muito vale”. E ainda Terezinha: “Espera, ó minha alma, espera, ignora o dia e a hora, vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez. Ainda que tua impaciência torne duvido o que é certo e longo um tempo bem curto”.
Para os namorados, gostaria de dar este presente neste mês significativo, a fim de que os homens recordem o valor da honra que pode salvar o caminho a dois das tentações deste mundo. Honra que era para ser um aspecto natural da nossa masculinidade, mas que perdemos o sentido e a própria vivência no tempo em que vivemos. Também me dirijo às mulheres, para que recordem a virtude da paciência que as torna firmes. Assim, elas auxiliam objetivamente o homem a encontrar o caminho da honra, da palavra dada e da espera em Deus.
Por fim, como não olhar para este caminho trilhado por Jacó e Raquel e não enxergar os jovens que desejam e que trilham a tal famosa “Caminhada” para o namoro? A vocês, meus queridos, o presente que deixo é: buscar aquela intuição, como Jacó, que nasce da oração e faz reconhecer que a pessoa com quem se caminha é uma eleita por Deus, primeiramente, e que por isso trata-se de “solo sagrado”, que precisa igualmente ser uma eleita pelo seu coração, produzindo nele a mesma paciência e honra, uma “determinada determinação”, para esperar em Deus o tempo que for preciso. Como testemunho pessoal e usando da palavra de Deus, deixo uma palavra que saltou aos meus olhos ao contemplar a história das duas personagens descrita acima: “Assim, Jacó serviu por Raquel sete anos, que lhes pareceram dias, tão grande era o amor que lhe tinha” (Gn 29,20). Deus vos abençoe sempre.
Rafael Brito