As normas vigentes na Igreja quanto à realização do Conclave estão orientadas nos seus pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de São João Paulo II, promulgada em 1996, e segundo o Motu próprio Normas Nommullas, de Bento XVI, que em 2007 atualizou algumas das normas concernentes à eleição do novo Papa.
Contudo, existe muita curiosidade e muita especulação sobre o Conclave, e muitos pensam ou auspicam que a Igreja adote um ou outro modelo sócio-político para estar mais alinhada aos padrões do mundo atual. Porém, a partir do momento em que a Igreja escolhesse adotar modelos sociais, culturais ou políticos, como fundamento das suas decisões, estaria escolhendo viver sem raízes, pois os valores que decorrem desses modelos são mutáveis de acordo com o poder em exercício e o sistema em vigor.
>> Receba notícias do COMSHALOM no seu Whatsapp!
Como bem proclamou S. Bruno, stat Crux dum volvitur orbis, a Cruz permanece firme enquanto o mundo gira. Ou seja, uma Igreja que repousa sobre a decisão de uma maioria, torna-se uma igreja puramente humana.
É necessário, portanto, partir da sua origem e finalidade para compreender, como bem escreveu Eyt¹, que a estrutura interna e específica da Igreja torna impossível uma total assimilação a qualquer modelo político porque os transcende, embora seja necessário reconhecer que há uma harmonia e uma conveniência particular entre a Igreja e a democracia. Porém, a sua soberania é constituída pelo senhorio de Cristo (Mt 28,18), que transmitiu esse poder aos Doze (cf. Lc 10,16; Mt 10,40; Mc 9,37; Jo 13,20), e é esta autoridade e poder da Igreja, a exusia de Jesus e dos Apóstolos que faz a comunidade eclesial.
A condução do Conclave é, portanto, marcada por uma dinâmica profundamente singular que integra dois aspectos complementares: o esforço humano dos Cardeais e a graça divina que guia suas decisões. Como visto acima, o Espírito Santo é a alma da Igreja.
Do ponto de vista humano, o Conclave é um processo extremamente organizado, com regras claras estabelecidas ao longo dos séculos para garantir a ordem, o sigilo e o discernimento. É um momento muito belo, pois os Cardeais provêm de culturas e experiências diversas, e reúnem-se com a responsabilidade de discernir e escolher o sucessor de Pedro. São conscientes das próprias fragilidades, mas confiam que “Deus sabe trabalhar com instrumentos insuficientes”². A reflexão, o diálogo e a tomada de decisão livre e responsável são atos inerentes à condição humana, mas aqui há outro elemento, sem o qual a Igreja não teria condições de permanecer na história: o auxílio do Alto.
Todo o processo de eleição de um Pontífice não ocorre à parte da ação divina. Ao contrário, pois a Igreja sabe que goza plenamente da presença e inspiração do Espírito Santo que age de duas formas: iluminando o coração e a consciência dos Cardeais, e movendo a comunidade cristã no mundo inteiro a permanecer em oração. Sim, Deus ouve as preces do Seu povo para que manifeste aos Cardeais eleitores aquele que Ele escolheu para ser o novo Vigário de Cristo na terra.
A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis também estabelece as orações que devem ser feitas pelos Cardeais para proceder com a eleição do novo Pontífice. No n.50 estabelece que os Cardeais devem dirigir-se à Capela Sistina em solene procissão, “invocando, com o cântico do Veni Creator, a assistência do Espírito Santo”. Depois fazem o juramento de fidelidade à Igreja e de sigilo quanto à votação e rezam juntos invocando o auxílio da Igreja gloriosa, a intercessão dos santos.
A cada escrutínio, no momento de depositar a sua ficha, o Cardeal deverá pronunciar, em alta voz, este juramento:
“Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há-de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito”.
Depois do juramento ele deposita a sua ficha e inclina-se diante do altar. E a cada novo turno devem-se realizar as celebrações e orações conforme as indicações do Ordo rituum Conclavis. Tantos pormenores só revelam que Cristo é a Cabeça da Igreja, e que ela é consciente da sua dependência do auxílio divino, por isso a Ele recorre e confia todas as suas decisões.
Este equilíbrio harmonioso na relação entre o esforço humano e o auxílio da graça divina evidencia a natureza teândrica (divino-humana) da Igreja, e testemunha a cooperação entre a liberdade humana e a ação divina, refletindo a própria essência da vida cristã; pois Deus não elimina, mas eleva e enriquece as capacidades humanas.
¹ EYT, P. Vers une Église démocratique? NRT 91-6 (1969), p.597-613.
² BENTO XVI. Homilia inaugural do seu pontificado.
Por Josefa Alves
Veja como foi o Juramento dos cardeais:
Serviço
Cobertura do Conclave
Data: a partir de 7 de maio
Local: Canal do YouTube do Comshalom
Horário:
– Manhã – a partir das 4h30
– Tarde – a partir das 13h30
Veja também | Tudo o que você precisa saber sobre o Conclave