Francisco fez do mundo seu campo missionário. Suas viagens não eram apenas protocolares, de um Chefe de Estado, mas verdadeiros gestos proféticos, que atualizam o anúncio de boas novas a todos os povos, em cada lugar sedento de paz, reconciliação e sentido.
“Quão belos são os pés dos que anunciam boas novas!”
(Isaías 52,7; Romanos 10,15)
Ao todo foram 45 viagens internacionais e três peregrinações, com 65 países visitados em cinco continentes. Claramente o Pontífice preferiu locais esquecidos pelas grandes potências, levando consigo a ternura do Pastor e a esperança do Ressuscitado. Francisco foi o Papa que mais visitou países de maioria muçulmana. Foi a lugares onde nenhum Papa jamais esteve, como os Emirados Árabes Unidos (2019), o Iraque (2021), Bahrein (2022), Mongólia e Sudão do Sul (2023). Com seus gestos simples e palavras cheias de Espírito, fez ecoar novamente o anúncio de Isaías: “Teu Deus reina!” (Is 52,7).
Os seus pés, como mensageiro da paz, pisou as ruas de Manila (Filipinas), os campos de refugiados no Sudão do Sul, os templos em Abu Dhabi, as catedrais da Mongólia. Deu testemunho do que afirmou em diversas ocasiões: onde houver sofrimento, a Igreja deve estar presente como uma mãe. A missão, segundo o Papa, deve privilegiar as periferias do mundo para anunciar o Evangelho.
As viagens apostólicas revelaram a geografia espiritual de Francisco. Buscou ir ao encontro dos esquecidos, dos marginalizados, dos que sofrem. Optou por visitar países de minoria cristã, marcados por guerras ou instabilidade, como a Síria (representada no Líbano), o Congo, o Sudão do Sul e o Iraque. Suas palavras sempre apontaram para o perdão, a paz e a fraternidade entre os povos.
Mais do que números: sementes de Evangelho
Francisco não buscou multidões, mas pessoas abertas ao Evangelho. As multidões, porém, o seguiram: reuniu milhões de pessoas nas Jornadas Mundiais da Juventude no Brasil (2013), Polônia (2016) e Panamá (2019), e na viagem às Filipinas (2015), que tornou-se a maior viagem apostólica da história, reunindo mais de 7 milhões de espectadores na missa de encerramento.
Se João Paulo II foi definido como o grande peregrino da esperança, Francisco pode ser definido como o semeador da fraternidade. Pode-se identificar três mensagens principais em seus discursos:
- A paz é possível, mesmo entre inimigos.
- A fé é ponte, não muro.
- A Igreja caminha junto, com os últimos.
Não apenas viagens, mas caminhos abertos
O legado das viagens apostólicas de Francisco não está apenas nas fotos e discursos, mas nos caminhos abertos que ele deixou: pontes de diálogo com o Islã e com religiões orientais; apoio a minorias cristãs perseguidas; impulso à cultura da paz e da fraternidade universal; e testemunho de uma Igreja próxima dos pobres.
Essas são marcas que permanecerão além de seu pontificado e inspirarão novas gerações de evangelizadores. Em cada aeroporto, praça, templo ou barraco que visitou, o Papa Francisco tornou viva a Palavra profética: “Quão belos são os pés dos que anunciam boas novas!” (Is 52, 7).
Suas viagens são pegadas de Evangelho. E todos os batizados, como Igreja, são chamados a seguir seus passos, não apenas com passaporte e mochila, mas com o coração ardente por levar Cristo onde Ele ainda não foi amado.
A força do missionário da paz
Emirados Árabes Unidos (2019)
Primeira viagem de um Papa à Península Arábica, região predominantemente muçulmana. Francisco assinou, junto ao Grande Imã de Al-Azhar, o Documento sobre a Fraternidade Humana.
“A verdadeira religião afasta da violência e do extremismo.”
Essa visita representou um passo decisivo no diálogo inter-religioso mundial.
📄 Viagem do Papa Francisco aos Emirados Árabes Unidos e suas mensagens
Iraque (2021)
O Papa visitou o Iraque em meio a tensões políticas e insegurança por grupos extremistas. Foi um gesto histórico de solidariedade com os cristãos perseguidos.
“A violência é incompatível com a fé. Somos irmãos!” — discurso em Ur dos Caldeus.
A relação diplomática entre o Vaticano e o Iraque se fortaleceu com essa visita, marcada pela assinatura de um apelo pela convivência religiosa.
Em Bagdá disse:
“Da violência e do fanatismo brota apenas morte. A fraternidade é o caminho da paz.”
📄 Viagem do Papa Francisco ao Iraque e suas mensagens
Bahrein (2022)
Francisco visitou o Bahrein para participar do Fórum de Diálogo: Oriente e Ocidente para a Coexistência Humana.
A viagem serviu para consolidar o apoio do Vaticano à convivência pacífica entre diferentes credos no Oriente Médio.
No Bahrein afirmou:
“A fé verdadeira leva à paz, não ao conflito. À convivência, não à exclusão.”
📄 Viagem do Papa Francisco ao Bahrein e suas mensagens
Mongólia (2023)
A Mongólia tem uma pequena comunidade católica (cerca de 1.500 pessoas). Em meio à influência de grandes potências vizinhas (China e Rússia), a visita papal incentivou a liberdade religiosa e o diálogo cultural.
E em Ulaanbaatar, na Mongólia (2023):
“A fé é como a água: silenciosa, mas capaz de fazer florescer até o deserto.”
📄 Viagem do Papa Francisco à Mongólia e suas mensagens
Sudão do Sul (2023)
A visita ao Sudão do Sul ocorreu em meio a uma trégua frágil no país devastado por guerra civil. Francisco foi acompanhado pelo Arcebispo de Cantuária e pelo Moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia, num testemunho ecumênico inédito.
“Peço que renunciem à violência e abracem a paz.”
📄 Viagem do Papa Francisco ao Sudão do Sul e suas mensagens
Por Andréia Gripp