"Quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e memanifestarei a ele" (Jo 14,21).
No último discurso de Jesus, é o amor que ocupa o centro: oamor do Pai pelo Filho, e o amor a Jesus, que consiste em cumprir os seusmandamentos .
Aqueles que escutavam Jesus não tinham dificuldades emreconhecer nas suas palavras um eco dos Livros sapienciais: “O amor é aobservância de suas leis (Sb 6,18) e “facilmente é contemplada (a Sabedoria)por aqueles que a amam” (cf Sb 6,12). E, sobretudo, o “manifestar-se a quem oama” encontra um paralelo no Antigo Testamento, no livro da Sabedoria 1,2, ondeestá escrito que o Senhor se manifestará àqueles que acreditam nele.
Ora, o sentido desta Palavra de Vida que propomos é: quemama o Filho é amado pelo Pai, e é, por sua vez, também amado pelo Filho, que semanifesta a ele.
"Quem me amaserá amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele"
Essa manifestação de Jesus, porém, exige que estejamos noamor.
Não é concebível um cristão que não tenha esse dinamismo,essa carga de amor no coração. Um relógio não funciona, não diz a hora – edeixa de ser um relógio – se estiver com a bateria descarregada. Assim, um cristãoque não está sempre na disposição de amar não merece ser chamado de cristão.
Isso porque todos os mandamentos de Jesus se resumem em umúnico mandamento: o amor a Deus e ao próximo, em quem devemos reconhecer e amarJesus.
O amor não é mero sentimentalismo: ele se traduz em vidaconcreta, no serviço aos irmãos – principalmente os que estão ao nosso lado –,começando pelas pequenas coisas, pelos serviços mais humildes.
Diz Charles de Foucauld: “Quando amamos alguém, estamos deverdade nele, estamos nele com o amor, vivemos nele com o amor, não vivemosmais em nós mesmos, somos “desprendidos” de nós mesmos, “saímos de nós mesmos”.
E é por causa desse amor que uma luz abre caminho em nós, aluz de Jesus, segundo a sua promessa: “Quem me ama… me manifestarei a ele”(cf. Jo 14,21). O amor é fonte de luz: amando, compreende-se melhor a Deus, queé amor.
E isso faz com que se ame ainda mais e se aprofunde orelacionamento com o próximo.
Essa luz, esse conhecimento amoroso de Deus é, portanto, amarca, a prova do verdadeiro amor. E ela pode ser experimentada de váriosmodos, porque em cada um de nós ela assume uma cor, uma tonalidade própria. Masessa luz possui algumas características comuns: ela nos ilumina sobre a vontadede Deus, nos dá paz, serenidade e uma compreensão sempre nova da Palavra deDeus. É uma luz quente que nos estimula a caminhar na estrada da vida de modocada vez mais rápido e seguro. Quando as sombras da existência tornarem o nossocaminho inseguro e até mesmo quando ficarmos paralisados pela escuridão, essaPalavra do Evangelho nos lembrará que a luz se acende com o amor e que serásuficiente um gesto concreto de amor, ainda que pequeno (uma oração, umsorriso, uma palavra), para nos dar a quantidade necessária de luz para seguiradiante.
Quando andamos de bicicleta à noite (nas bicicletas antigas,com dínamo), se pararmos de pedalar, precipitaremos na escuridão; mas serecomeçarmos a pedalar, o dínamo produzirá a energia que vai iluminar ocaminho.
O mesmo acontece na nossa vida: é só reativarmos o amor, oamor verdadeiro, aquele que dá sem esperar nada em troca, para que se reacendaem nós a fé e a esperança.