Vivemos numa sociedade em que, graças à tecnologia e modernidade, cada vez mais se busca o conforto e a vida prática. O homem, com o bom uso da inteligência, tem inventado mil e um artefatos, máquinas e equipamentos para melhorar e facilitar sua vida. Com o simples ato de apertar um botão é possível acionar aparelho de microondas, ligar a TV, abrir o portão automático… e tudo isso é maravilhoso!
Foi Deus quem imprimiu no homem a inteligência, e é muito lícito o bom usa da curiosidade e o desejo de desenvolver-se em todos os aspectos.
Todas essas coisas facilitam a vida humana, mas, será que não contribuem para tornar o homem acomodado, lento ou preguiçoso?
O homem tem um desejo de felicidade e auto-realização, mas, ferido pelo pecado, confunde-se super valorizando o conforto e o prazer. A preguiça, muitas vezes nasce dessa situação de comodismo e pouco esforço. É verdade que ela é um mal que não nasceu neste século, mas talvez toda essa situação de comodidade facilite a que ela se instale.
O que seria, de fato, a preguiça?
Segundo a definição encontrada nos dicionários, é a aversão ao trabalho; morosidade; negligência; moleza; indolência; vadiagem. Vemos que a preguiça tem muitos nomes, formas e manifestações. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, são também formas de preguiça a acídia e a tibieza.
Afeta tanto os relacionamentos, a vida familiar, profissional, como também o relacionamento com Deus. Aos poucos vai minando o potencial que todo ser humano tem de se auto-superar.
A preguiça pode ser de maneira momentânea e passageira devido ao ritmo de vida. Ou se manifestar como uma fuga: não acreditar em si mesmo; não ter a disposição interior para enfrentar as adversidades; não estar convencido de que pode cumprir seu papel, fazer o que lhe compete; é a decisão de ficar isolado em um mundo particular e assim não sofrer.
Essas atitudes demonstram imaturidade e a ignorância acerca de si mesmo, de sua natureza e de seu destino eterno. De todo modo, a preguiça é ausência de virtude.
Há um ditado que diz: “Uma caminhada de mil quilômetros começa com o primeiro passo”. O mais difícil é o primeiro passo em direção ao alvo e decidir-se a perseguir o bem escolhido. Onde queremos chegar com nossa vida? Qual o objetivo que pretendemos atingir? A preguiça pode tornar o alvo mais distante e até inatingível. Em qualquer aspecto da vida a preguiça vai de encontro aos planos e projetos.
A falta de gosto pelo trabalho é o que mais caracteriza a preguiça, não gostar de trabalhar e que só encontrar no trabalho motivo de desgosto. É também característica sua agir, trabalhar e viver sem norte.
Já foi dito que na vida humana a preguiça se reveste de diversas desculpas: aversão ao estudo, falta de energia suficiente para disciplinar a vontade, o próprio corpo que se recusa a fazer sua parte…
Uns não querem ter responsabilidade com o trabalho, procuram se envolver o mínimo possível com as obrigações com as obrigações; outros não suportam o agir, acham que pensar é tudo. Assim a vida torna-se quase uma fuga, pois o trabalho é uma atividade própria da natureza humana: “O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja atividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar de trabalho; somente o homem (ser humano) tem a capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza, preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra.
Assim, o trabalho comporta uma marca particular do homem e da humanidade” (Laborem Exercens).
A lição da Coruja e o Falcão
Conta-se que na Idade Média, numa antiga cidade da Europa, foi erguida uma grande Catedral, e na sua torre passou a viver uma coruja que, infelizmente, era cega. Todos os dias um camponês, muito indolente e preguiçoso, passava perto daquela Catedral quando voltava de seu trabalho. Certo dia, o camponês viu um falcão agarrar um passarinho e levá-lo para alimentar aquela velha coruja enfraquecida.
O preguiçoso homem pensou: “Ah! A Divina Providência encontra um meio de sustentar a todos. Se ela tem cuidado assim de uma coruja cega, mandando-lhe um falcão alimentá-la, como poderia deixar-me morrer de fome? Não trabalharei mais e hei de viver. De agora em diante, irei pedir esmola, certo de que Deus não me desamparará”.
No dia seguinte, à tarde, lá estava o camponês feito um cego, pedindo esmolas, quando lhe apareceu um amigo e, vendo-o tão sadio e forte, perguntou-lhe por que estava nessa situação. Então, o preguiçoso camponês explicou-lhe a história da coruja e do falcão. O amigo lhe respondeu: “Ora, o falcão queria dar-te uma lição de bondade para com os pobres e não te incentivar à preguiça”.
Assim, o trabalho é necessário não somente para uma boa formação do caráter, mas porque é nosso dever, com o fruto do trabalho, sermos canais de graça e alívio para aqueles que são mais necessitados. Nossos bens e talentos devem estar a serviço do bem comum.