“Esta experiência com Cristo Ressuscitado que passou pela Cruz é o fundamento de toda a nossa vocação. (CC 48)” Quando olho para minha história de salvação, para minha história vocacional em vista do Sacerdócio e do Carisma é exatamente isso que sou levado a perceber!
É justamente minha experiência pessoal com o Ressuscitado que sopra sobre nós o seu Espírito que me deu quem eu sou. Meu primeiro encontro com Jesus foi quando eu tinha apenas 10 anos de idade, mas foi com 18 anos que, como a Saulo, Ele me revelou a glória da sua ressurreição para que eu enxergasse a Verdade e ficasse cheio do Espírito Santo (cf. At 9,17). Naquele retiro, tudo mudou: missas, oração pessoal, santo terço… no coração um profundo sentimento de gratidão. De fato, como diz o Moysés, “a partir do meu encontro pessoal com Jesus Cristo e com a experiência da efusão do Espírito, outra coisa não queria a não ser ser de Deus”( CC 54)
Um chamado ao sacerdócio
Como fruto dessa experiência, o seminário… e lá a primeira certeza: sou chamado a um amor indiviso; sou chamado, antes mesmo que ao Sacerdócio, ao Celibato. Neste mesmo período conheci o Escrito Amor Esponsal. Aquilo que até então era apenas para as religiosas e os monges, aquilo que era esquecido, do qual quase ninguém falava, era para mim: um coração inflamado de amor, que a tudo se dispõe, chamado, em meio às realidades deste tempo, à uma vida de oração pessoal, diária, contemplativa, parada com Deus, aos moldes de Santa Teresa D’Ávila.
Nesse mesmo período conheci, também, o carisma Canção Nova e com ele tive uma experiência marcante com o desejo de viver a radicalidade evangélica, viver da providência e a vida em comunidade… anos depois encontrei o mesmo sentimento descrito pelo nosso fundador:
“Canção Nova foi de grande valia para nós, do acolhimento dos irmãos ao testemunho de que é possível viver uma vida consagrada a Deus, na simplicidade e no serviço. Era o impulso que necessitávamos. Através da visita, Deus nos falava e indicava o novo caminho que Ele queria para nós. Vivemos e observamos tudo, com o intuito de sermos enriquecidos naquilo que Deus falava, pois, por mais que esta experiência nos ajudasse muito, sabíamos que, o que Deus queria fazer em nossas vidas era algo parecido, mas ao mesmo tempo muito diferente.” (Histórico 1984, 74)
No meu período de formação, fui percebendo que o Senhor me fazia ministro da sua misericórdia para, sobretudo através do sacramento da Reconciliação e atendimento das almas, ministrar a reconciliação do homem com Deus. Percebia, ainda, que Ele havia me plantado na minha terra, me dado uma porção do seu povo como meu povo, para ser com eles e para eles. Nessa certeza, acolhi o discernimento da Igreja, que foi confirmando minha vocação e, no dia 8 de dezembro de 2017, dia da Imaculada Conceição, fui ordenado Sacerdote da Diocese de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. “Tudo para todos” (1Cor 9,22), os primeiríssimos anos de sacerdócio foram um tocar no poder e na misericórdia de Deus.
Ainda faltava algo
Um Deus cheio de paciência e que me chamava a me doar sempre mais, gerando em mim um sentimento por vezes contraditório: totalmente realizado, porém, sempre necessitado de algo a mais. Foi na ocasião da Páscoa de um grande amigo que, como graça alcançada pela santidade dele, tudo ficou claro: estávamos na UTI nos despedindo dele – por bondade do médico, que deixou que todos os seus amigos próximos ali se reunissem – quando uma consagrada da Comunidade de Aliança, que ia prestar solidariedade à irmã deste amigo, entrou.
Ao ver o seu Tau, Deus falou claramente comigo, me lembrando do que há tempos atrás havia aprendido no primeiro contato com o carisma: A Paz não é ausência de guerra. A Paz é uma Pessoa: Cristo, e Cristo Ressuscitado!
Ao parar do seu coração e a declaração do óbito, só uma coisa brotava dos meus lábios, e brotava novamente na homilia de sua missa de corpo presente: “O Senhor nosso Deus, que merece o louvor, todo nosso amor, é o Rei que venceu. Ao Cordeiro a vitória, poder, honra e glória! Ressuscitou!”
Sou Shalom?!
Depois daqueles dias intensos, percebi a Obra que Deus tinha feito: no mistério da cruz e ressurreição, Ele havia me instituído ministro da sua Paz para gerar Paz no coração do seus. Havia me feito Shalom! Hoje, como postulante de segundo ano da Comunidade de Aliança, toco as graças e os desafios de concretizar aquilo que o Senhor foi edificando: a missão de tornar sempre mais una a dupla vocação a qual Ele me chama como Padre Diocesano e Shalom.
A principal experiência que faço é a de perceber que o Carisma potencializa meu ministério sacerdotal. Os jovens, as famílias, as almas em geral tocam graças que brotam daquilo que elas experimentam do carisma em mim – ainda que na maioria das vezes sem saber, uma vez que ainda não carrego o sinal da nossa eleição. A pregação, o exercício dos carismas, a evangelização no poder do Espírito, a primazia dos jovens são realidades às quais meu coração de Padre é “empurrado” pelo grave dever que temos de ofertar tudo como alegres testemunhas da ressurreição.
Desafios da Vocação
Com meus irmãos sacerdotes vivo a grande graça de sermos Igreja e, como Shalom, poder encontrar meu lugar ao lado das riquezas próprias da espiritualidade de cada um, sendo edificado e edificando, e gerando, acima de tudo, um testemunho de serviço fiel ao mesmo Esposo, no respeito e amor filial ao nosso Bispo.
Com os irmãos da comunidade, cada passo na vocação é uma grande aventura: somos a primeira célula da CAl no Rio Grande do Sul, onde ainda não temos Missão e nem mesmo Centro de Evangelização. “É algo novo, algo maravilhoso”, e vejo também aí a providência que me permite como Sacerdote, na complementaridade que nós é própria, me colocar a serviço da Comunidade neste tempo de fundação.
Nesse dia de oração pelas vocações sacerdotais o que posso testemunhar, enfim, é que Deus sempre tem algo mais a nos dar, sempre tem algo mais para demonstrar o poder da sua ressurreição. Ser Padre e ser Comunidade de Aliança é o mistério de todos os dias tocar essa graça, pois não fosse ela seria impossível abraçar um chamado que me ultrapassa de maneira tão grande.
>>Faça a Oração ao Sagrado Coração de Jesus pelos sacerdotes
Em momentos como esse lembro de São Paulo que diz: “Aí de mim…”. Aí de mim se não tivesse abraçado essa vida, ai de mim se não tivesse escolhido a melhor parte, ai de mim se não tivesse me deixado seduzir por este caminho, ai de mim se não tivesse dito sim a esse Deus que sempre me antecipou em tudo e da sua cruz e Ressurreição me deu minha vocação. “Não pode haver novo dia na vida do homem que não brote daquele dia. Não podem existir verdadeira paz e alegria que não brotem daquele coração que por amor deixou-se traspassar.” CC 50
Obrigado, Senhor, por teres escolhido. Diego, filho de Deus, Shalom, Sacerdote
Padre Diego Soares,
Célula Porta do Céu – postulante Comunidade Aliança
Difusão São Leopoldo – RS