Formação

Santa Catarina de Sena, uma mulher analfabeta e doutora da Igreja

“Se formos o que devemos ser, incendiaremos o mundo”, diz a Doutora da Igreja, grande defensora do Papado e proclamada copadroeira da Europa por São João Paulo II, cuja festa é celebrada hoje, dia 29 de abril.

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Foto: Catedral de Siena -Itália (Wallace Freitas)

No senso comum, a sabedoria é vista, muitas vezes, como sinônimo de experiência de vida, inteligência, acúmulo de informações sobre diversos assuntos, etc. Segundo o dicionário de Psicologia (Associação Psicológica Americana, 2010, p. 521), a inteligência é “a capacidade de extrair informações, aprender com a experiência, adaptar-se ao ambiente, compreender e utilizar corretamente o pensamento e a razão”.

Confira três lições de Catarina de Sena

Porém, quando olhamos para a vida de alguns grandes santos da Igreja, dentre eles a jovem Catarina de Sena, muitas dessas opiniões são ampliadas, questionadas ou mesmo completamente anuladas. A vida dessa jovem nos faz perceber que o significado da sabedoria está além de um conhecimento extenso e profundo de várias coisas ou de um tema específico. Se fôssemos apresentar uma definição um pouco mais teológica, veríamos que a verdadeira sabedoria está associada à virtude e à santidade de vida, e não ao acúmulo de informações.

Ser sábio é ser santo, com títulos acadêmicos, ou não sabendo assinar nem mesmo o próprio nome. Nessa matéria vamos ver, a partir do testemunho e vida dessa jovem santa, como a virtude da sabedoria é muito mais profunda que reter diversas informações, ou ter vastos anos e experiências de vida.

Quem foi Catarina de Sena?

Uma jovem que nasceu em 25 de março de 1347, na cidade de Siena (Sena), na Itália. Filha de uma família muito pobre, ela foi uma dentre os vinte e cinco filhos de seus pais. Por causa de toda essa situação, a infância de Catarina foi conturbada. Não teve condições de estudar e, além disso, cresceu fraca, franzina e vivia sempre doente. Porém, não obstante seu histórico de infância pouco promissor, ela teve uma trajetória de vida surpreendente. Com apenas sete anos, a pequenina quis consagrar-se totalmente a Deus, ansiando ofertar a Ele a sua virgindade.

Já nessa pouca idade, descrevia com muita precisão as revelações e intuições espirituais que tinha em seus momentos de intimidade com Deus. Segundo algumas testemunhas, a pequenina realizava decididas penitências, mesmo contrariando a família. Suas travessuras da infância eram contrariar os pais, realizando pequenos, criativos e comoventes sacrifícios de amor.

Aos quinze anos, pediu e foi recebida na Ordem Terceira Dominicana. Segundo testemunhos de algumas irmãs que residiam com ela, a jovenzinha entrava constantemente em êxtases espirituais. Com o passar dos anos e já adulta, Catarina perseverou e amadureceu ainda mais sua vida de oração. Analfabeta e ansiosa por orientar espiritualmente outros corações, ela passou a ditar suas cartas para outras pessoas. Nessas cartas, ela orientava, aconselhava e corrigia, convidando o maior número possível de corações para um mergulho forte, profundo e decidido na misericórdia de Deus. Há relatos de centenas de pessoas que tiveram acessos a seus escritos ainda durante a juventude da santa.

Reparadora de brechas na Igreja

Em seu tempo, havia uma grande crise na Igreja francesa sob a constante ameaça de um cisma, devido às influências políticas. Muitos na Igreja pensavam que seria impossível superar essa adversidade, pois dois papas estavam disputando a Cátedra de São Pedro. Com isso, o povo católico em todo o mundo sofria.

Santa Catarina, no entanto, conduzida por Deus, começou sua atuação ousada e criativa. Percorreu a Itália inteira e até outros países, falando, pregando, dialogando com reis, príncipes e governantes católicos. Também direcionou cartas a vários bispos e cardeais. Sua ousadia de amor contribuiu para que Urbano VI, o verdadeiro Papa, retornasse a Roma e reassumisse o governo da Igreja.

Outra grande brecha enfrentada e reparada, também por meio dos esforços de Catarina e que, penso eu, pode muito nos animar e encorajar nesse clima atual de pandemia, foi relacionada à epidemia da peste negra. Para muitos, essa barreira seria intransponível. Santa Catarina, todavia, enfrentou-a com serenidade e firmeza. A peste negra dizimou quase um terço de toda a população da Europa. Catarina se colocou ao lado dos doentes, lutando por eles e curando-os através de ações diretas de suas orações ou de consolos e empenho na busca de recursos de alívio diante dos nobres. Seu exemplo de amor e misericórdia converteu centenas de pagãos e deixou seus contemporâneos perplexos.

Uma doutora da Igreja, analfabeta

Pasmem! Mas essa santa recebeu o título de Doutora da Igreja, mesmo sendo analfabeta, título este, reservado a grandes e influentes nomes, tais como: São Gregório Magno, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerónimo, São Tomás de Aquino e outros. Deixou para a Igreja, mesmo em meio a grandes turbulências que enfrentou, obras literárias maravilhosas, obras que ela ditava e eram redigidas por vários copistas que se revezavam no trabalho. Sua obra possui profundo valor histórico, espiritual, religioso e místico. Dentre os tesouros literários deixados pela santa, o mais importantes é o “Diálogo sobre a Divina Providência”, por causa da grande sabedoria, poder das palavras e profundidade teológica. Já no seu tempo, teólogos famosos viajavam de longe para ouvir as colocações e meditações de Santa Catarina.

Essa gigante não era nem mesmo uma religiosa com votos perpétuos. Era apenas uma simples irmã leiga da Ordem Terceira dos Dominicanos. Contudo, apesar de leiga e analfabeta, é considerada a mulher cristã mais impressionante do segundo milênio da Igreja.

Catarina veio a óbito no dia 29 de abril de 1380, dia em que a Igreja celebra sua festa. Essa serva fiel foi vítima de um derrame quando tinha apenas trinta e três anos de idade. Em tão pouco tempo de existência, esta gigante admirável realizou muito pela Igreja e pela humanidade. A cabeça de Santa Catarina está na cidade de Sena. Lá também é conservada a casa onde ela viveu. Seu corpo foi trasladado para Roma e está localizado na Igreja de Santa Maria Sopra Minerva. O Papa Paulo VI declarou-a “doutora da Igreja” em 1970, por causa da grandeza teológica e mística de sua obra.

Penso que essa gigante, junto com Teresinha de Jesus, Teresa de Ávila, Clara de Assis e outras grades mulheres santas é que devem ser os verdadeiros modelos de proatividade da mulher na Igreja. Sem ideologias, sem brigas e reivindicações inúteis, mostraram, como mulheres, o que significa a proatividade feminina. Que Santa Catarina de Sena interceda por todas as mulheres de nossa Igreja e sociedade. Que seu testemunho seja luz, seja uma placa sinalizadora da gigante tarefa e importante papel das mulheres na Igreja e na sociedade.

Para terminar a leitura  da melhor forma, deixo abaixo uma oração para você pedir a Deus graças por meio da intercessão dessa magnifica e santa mulher.

Oração a Santa Catarina de Sena

“Ó notável maravilha da Igreja, serva virgem, que por causa de tuas extraordinárias virtudes e pelo que conseguiste para a Igreja e a Sociedade, foste aclamada e abençoada por todos, volta teu bondoso olhar para mim, que confiante na tua poderosa proteção peço com todo o ardor da afeição e suplico a ti que obtenha pelas tuas preces o favor que ardentemente desejo (dizer aqui a graça desejada). Com tua imensa caridade, recebeste de Deus os mais estupendos milagres e tornou-te a alegria e a esperança de todos nós que oramos a ti e rogamos ao coração que tu recebeste do Divino Redentor. Serva e virgem, demonstra de novo o teu poder e o da tua caridade e o teu nome será novamente exaltado e abençoado e consigas para nós a graça suplicada com a eficácia de tua intercessão junto a Jesus e ainda a graça especial de que um dia estejamos juntos no Paraíso em eterna alegria e felicidade. Amém.

Pai Nosso… Ave Maria… Glória ao Pai…

Santa Catarina de Sena, rogai por nós!”

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