Quando afrontamos esse tema, percebemos que não raramente falta clarezasobre o que é santidade objetiva e santidade subjetiva: ambas pertencem àIgreja, e como nos ensina São Boaventura: “Enquanto a primeira nunca estaráausente da Igreja, a segunda pode talvez faltar em algum dos seus membros”[1].É muito importante compreendermos que o pecado de um dos seus servos nunca atornará pecadora ou a fará menos santa, porque se trata de uma santidadeobjetiva.
Quando Cristo consumiu a obra que o Pai lhe havia confiado, enviou o EspíritoSanto, no dia de Pentecostes, para santificar continuamente a sua Igreja e paraque, por ela, todos os homens tivessem acesso ao Pai[2].A Igreja é, portanto, “autocomunicação de Deus”. É Deus que, na realidadesacramental do Filho e da ação santificadora do Espírito Santo, se doa aomundo. O Espírito Santo, que é a alma da Igreja, sustenta-a e a conduz àverdade total, unificando-a na comunhão e no ministério, enriquecendo-a eguiando-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adornando-a com osseus frutos[3]. Ouseja, ela tem a sua origem na Trindade, e, no tempo favorável, o Filho a fundoupor meio da efusão do seu sangue e da sua doação esponsal no mistério da suamorte e ressurreição, confirmando-a no Espírito Santo e, por Ele, enviando-a aomundo inteiro[4].
Existe uma tentação de pensar a Igreja somente como uma realidadesensível e fixar-se apenas nas estruturas, mas esse seria um olhardemasiadamente pobre e parcial, porque ela é a Esposa e o Corpo de Cristo, eEle se dá somente no seu Corpo, nunca em uma mera ideia; se dá no seu corpovivo e ressuscitado no Santíssimo Sacramento do Altar e no seu Corpo Místico,que é a sua Igreja, Sacramento e instrumento da íntima união com Deus e daunidade de todo o gênero humano[5].
Quando alguém recita o Credo, diz: “Creio na Igreja… santa…”, e, aofazê-lo, privada ou comunitariamente, proclama um dogma de fé, uma verdadecontida no símbolo das principais verdades cristãs. Mas o que é a santidade? Emprimeiro lugar, é um atributo divino[6]e a vontade de Deus, como nos diz o Apóstolo Paulo, é a nossa santificação[7];“por isso, todos da Igreja, quer pertençam à hierarquia quer por ela sejampastoreados, são chamados à santidade”[8].Os filhos da Igreja, como nos ensina a LumenGentium 40, não pelos próprios méritos, mas pela graça batismal e pelosefeitos contínuos da graça de Deus, “são filhos e participantes da naturezadivina e, por conseguinte, realmente santos”. Frutos maduros e abundantes dessasantidade são também os milhões de santos e santas que desde a sua origemtestemunham, com parresia, a fé da Igreja e, por ela, consomem, com alegria, aprópria vida.
Lemos, na LG 8, que a Igreja contém pecadores no seu próprio seio,portanto, ela é simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação e,por isso, exercita continuamente a penitência e conversão. Essa afirmação doVaticano II deve despertar em nós um maior zelo pela coerência entre a fé queprofessamos e a fé que testemunhamos para que também, por meio de nós, filhosda Igreja, todos os homens experimentem dos frutos do Espírito para asantificação.
Instituto Parresia
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