“Ah! Como foi doce o primeiro beijo de Jesus à minha alma”… Assim Teresa narra o “belo dia entre os dias”, sua primeira comunhão. O beijo místico de Jesus…
Ela continua: “Foi um beijo de amor, sentia-me amada e dizia também amo-vos, dou-me a Vós para sempre… Momento profundo, marcante para seu coração de criança que se sente inundado pela presença de Jesus.
“Naquele dia não era mais um olhar, mas uma fusão, não eram mais dois, Teresa havia sumido como gota d’água que se perde no oceano”… Seu coração desejava ardentemente receber Jesus e ainda sem idade para a recepção deste Sacramento ela ansiava por ele. Vendo sua irmã Celina, quatro anos mais velha, se preparar para o receber escutava atentamente as instruções dadas a ela pela sua irmã Paulina. “Uma noite- conta-nos Teresa – vos ouvi dizer que, a partir da primeira comunhão era preciso começar uma vida nova. Resolvi logo que eu não esperaria, começaria ao mesmo tempo que Celina”…
Pois para Teresa, receber Jesus é estabelecer com Elerelação de amor, de entrega e de confiança.
Nas procissões do Santíssimo Sacramento gostava de jogar flores sob os passos de Jesus…“lançava-as o mais alto que podia e não ficava muito feliz senão quando via minhas rosas desfolhadas tocarem o Ostensório sagrado”…
O simbolismo da rosa que se desfolha é para Teresa um tema muito caro, mais tarde, consumida pelo amor e em sua enfermidade ela escreve a poesia “Rosa desfolhada”. Num ato de puro amor a rosa- Teresinha- se desfolha aos pés de Jesus menino para somente causar-lhe prazer…
“ Por Ti devo morrer, beleza eterna e viva
que sorte de ouro!
Desfolhando-me dou prova definitiva
Que és o meu tesouro!…
O gesto da criança que se encanta ao desfolhar suas flores a Jesus Hóstia, agora se concretiza na Carmelita que se consome e morre por amor ao seu Deus, qual rosa desfolhada, “simplesmente de vento ao léu”…
A Santa Missa marca os grandes momentos de sua vida
Sua conversão se deu após a Santa Missa.
“Foi em 25 de Dezembro de 1886 que recebi a graça de sair da infância, em suma, a graça de minha completa conversão. Estávamos voltando da Missa do galo, em que tinha tido a felicidade de receber o Deus forte e poderoso”…
Acontecimento que muda radicalmente sua vida. ”Teresa não era mais a mesma, Jesus havia mudado seu coração”.
Em uma carta a seu irmão espiritual Padre Roulland ela diz:
“Ele me transformou de tal maneira que eu não me reconhecia mais a mim mesma”…
Teresa sente-se totalmente transformada, seu espírito se desenvolveu, começa então um novo período de sua vida o que ela mesma chama o mais bonito de todos. Deus em pouco tempo a faz sair da infância- excessiva sensibilidade que vivia qual circulo apertado no qual girava sem encontrar saída.
Durante a Santa missa teve a inspiração de oferecer-se ao amor misericordioso de Deus.
Foi no dia 9 de Junho de 1895 que durante o Santo Sacrifício da Missa Teresa se oferece ao amor misericordioso de Deus. Espontaneamente, sem fórmulas e poucas palavras.
Irmã Genoveva, sua irmã Celina, dá detalhes desse momento inesquecível:
“Saindo dessa Missa, ela me puxou atrás de si, à procura de Nossa Madre; parecia estar como que fora de si mesma e não falava comigo. Enfim, ao encontrar Nossa Madre Inês de Jesus pediu-lhe permissão para se oferecer comigo, como vítima, ao Amor Misericordioso”…
Este ato de oferecimento consiste na entrega total, confiante e amorosa ao Amor Misericordioso de Deus, a pessoa se reconhece pequena, “de mãos vazias” e num ato de perfeito amor se oferece a si mesma como oferenda ao Infinito Amor de Deus, para que Ele a invada com torrentes de Misericórdia.
Não podendo, segundo o costume comungar todos os dias, em seu ato de oferecimento ela pede a “tomada de posse Àquele que transforma o pão em seu Corpo com o fim de transformar o comungante nEle mesmo” (1)
“Não posso receber a Santa comunhão com a frequência que desejo, mas, Senhor, não sois Todo- poderoso?… permanecei em mim, como no Tabernáculo, não vos afasteis jamais de vossa pequena hóstia”…
“Vá sem receio receber o Jesus da paz e do amor”…
1889, Teresa ainda noviça, escreve com maestria uma verdadeira direção espiritual. Voa além das ideias do seu tempo e orienta à comunhão frequente, “Ele está no Sacrário para Ti, só para ti”…
Maria Guérin, sua prima, futura Carmelita, Irmã Maria da Eucaristia, atravessava uma dura provação, seu coração se sentia oprimido pelos escrúpulos, pois não se sentia digna de se aproximar da mesa Eucarística. Estava em viagem a Paris, onde sentia-se importunada e invadida pelos prazeres humanos, todo o seu ser de jovem se rebelava e ela sentia-se angustiada. Eis um trecho da carta que enviou a Teresa:
“Mais uma vez venho atormentar-te e sei por antecipação que não vais ficar contente comigo, mas o que queres, sofro tanto e me sinto melhor quando derramo todas as minhas tristezas no teu coração. Paris não é feita para curar os escrúpulos, não sei para onde olhar; se desvio de uma nudez, encontro outra e assim vai o dia inteiro, é para morrer de tristeza; parece-me que é por curiosidade, preciso olhar tudo. Não sei se vais me compreender, tenho tantas coisas na minha pobre cabeça que não sei como organizá-las. O demônio não deixa de trazer à minha lembrança todas as coisas que vi durante o dia, o que constitui outro motivo de tormento. Como queres que comungue amanhã e Sexta-feira?; não posso. É a maior provação”…
Teresinha responde:
“Fizeste bem em me escrever, entendi tudo…tudo, tudo, tudo!…
tu não fizeste sombra do mal, sei muito bem o que são essas espécies de tentações que te posso assegurar sem temor, por outra parte, Jesus mo disse no fundo do coração… É preciso desprezar todas essas tentações, não lhes prestes nenhuma atenção.
Queres que te confie uma coisa que me deixou muito penalizada?…
É que minha Mariazinha deixou as suas comunhões…Oh! como isso entristeceu a Jesus!
É preciso que o demônio seja muito esperto para enganar assim uma alma!… mas não sabes, minha querida, que esse é todo o objetivo dos seus desejos…
Já é muito para ele colocar inquietação nessa alma, mas para a sua raiva, é necessário outra coisa: ele quer privar Jesus de um Sacrário amado, não podendo penetrar nesse santuário, quer que pelo menos ele fique vazio e sem dono!… Ai! Que será desse pobre coração?… Quando o demônio conseguiu afastar uma alma da Sagrada comunhão, ganhou tudo… E Jesus chora!….
Mas ouço-te dizer: Teresa diz isso porque ela não sabe…ela não sabe que o faço bem de propósito… isso me diverte… e depois não posso comungar, pois penso que cometeria um sacrilégio, etc. etc. etc… Sim, tua pobre Teresinha sabe muito bem, digo-te que ela adivinhou tudo, assegura-te que tu podes ir sem receio receber teu único amigo verdadeiro… Ela também passou pelo martírio dos escrúpulos, mas Jesus deu-lhe a graça de comungar assim mesmo, embora pensasse Ter cometido grandes pecados… asseguro-te que ela se deu conta que era o único meio de livrar-se do demônio, pois quando vêque perde o tempo ele nos deixa em paz!…
“O que ofende Jesus é a falta de confiança.”
Sabendo por experiência que Jesus é o único que pode nos curar e nos livrar de todos os males que nos afligem, Teresa exorta sua prima a confiar cegamente em sua misericórdia. “Comunga -diz ela- comunga, irmãzinha querida, com frequência, muitas vezes… Eis o único remédio se queres sarar…
“Entrei no Carmelo para rezar pelos Sacerdotes”…
Santa Teresinha, sempre teve grande respeito pelos Sacerdotes, sua formação profundamente cristã a fez sempre ver a alta dignidade que eles possuem. Porém, a concepção que fazia deles era um tanto ingênua e em sua viagem a Roma teve a oportunidade de conviver com cerca de setenta e cinco Sacerdotes e concebeu uma nova impressão dos Padres. Assim se expressa:
“Durante um mês, vivi com muitos Padres santos e vi que, se sua sublime dignidade os eleva acima dos anjos, eles não são menos homens fracos e frágeis”.
Assim descobriu a necessidade de rezar pelos Sacerdotes e compreendeu sua vocação de Carmelita que tem por finalidade rezar pelas almas Sacerdotais.
Antes da profissão de seus votos, ela declara em seu exame canônico:
“Vim ao Carmelo para salvar as almas e, sobretudo, a fim de rezar pelos Padres”.
Numa carta a Celina, escreve:
“Convertamos as almas, é preciso que este ano façamos muitos sacerdotes que saibam amar Jesus!… Que o toquem com a mesma delicadeza com que Maria o tocava no seu berço”.
Tinha muita vontade de Ter um irmão Padre mas seus irmãozinhos faleceram ainda bebês.
Mas o Bom Deus, como costumava ela dizer, não lhe dava desejos irrealizáveis e no Carmelo a fez irmã espiritual de dois Sacerdotes por quem se ofereceu e se sacrificou até o fim de sua vida.
Visitas ao Santíssimo Sacramento
Ir. Genoveva, depôs no processo ordinário que a visita ao Santíssimo Sacramento sempre fizera suas delícias. Criança, todas as tardes fazia com seu Pai, Luiz Martin, visitas a Jesus Hóstia.
No Carmelo passou muitas horas aos pés de Jesus Sacramentado e numa de suas poesias escreve:
“Quero fixar minha morada nas sombras do santuário com o prisioneiro do amor! Ah! Para a Hóstia minha alma aspira. Eu a amo e não quero mais nada. É o Deus escondido que me fascina ”…
Sua última visita ao Santíssimo foi verdadeira despedida. Conta-nos Madre Inês:
“Ela foi pela última vez, visitar o Santíssimo Sacramento no oratório à tarde, mas estava no fim de suas forças. Eu a vi olhar a Hóstia durante muito tempo e eu percebia que era sem nenhuma consolação, mas com muita paz”…
“Vem ao Meu coração Hóstia Branca que amo”…
Na festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo, 16 de Julho, Teresa recebe a Comunhão Eucarística na enfermaria. Maria da Eucaristia, sua prima, Com voz “alta e bela” canta a estrofe que Teresatinha composto para este momento.
“Tu que conheces minha extrema pequenez
que não receias nunca abaixar-te até mim,
vem a meu coração, Hóstia branca que amo,
vem a meu coração que anseia só por ti!
Desejo demais que tua bondade me faça
Morrer de amor após este favor.
Escuta, meu Jesus, meu grito de ternura:
Vem ao meu coração”.
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Na carta que escreve para seus tios ela comenta sobre este dia:
“Quando Jesus estava no meu coração, Ir. Maria da Eucaristia cantou a estrofe da poesia viver de amor. Não posso dizer-vos como sua voz era alta e bela; prometera-me não chorar para agradar-me; minhas esperanças foram muito ultrapassadas. O bom Jesus deve Ter entendido perfeitamente o que espero Dele e era exatamente o que eu queria!
“Morrer de amor, eis minha esperança!
Quando verei romperem-se todos os meus vínculos,
Só meu Deus há de ser a grande recompensa
E não quero possuir outros bens,
Abrasando-me toda em seu amor,
A Ele quero unir-me e vê-lo:
Eis meu destino, eis meu céu:
Viver de amor !!!…
Última Comunhão de Teresinha
Mesmo amando tanto a Santa Eucaristia foi privada de comungar nos últimos momentos de sua vida. Sua última comunhão, 19 de Agosto de1897 foi um momento de dor e aniquilamento. Teresa chora copiosamente percebendo que já não pode mais receber o seu Deus, sacrifício que lhe oferece como última prova de seu amor.
Madre Inês, em suas anotações fornece precioso relato deste dia, verdadeiro martírio de amor:
“A comunhão, que ela outrora tanto desejava, tornou-se motivo de tormento durante a doença. Temia acidentes e gostaria que nós lhe disséssemos que não a fizesse, por causa dos vômitos, da falta de ar e da fraqueza. Não queria assumir essa responsabilidade sozinha mas, como não dizia nada, acreditávamos estar sendo agradáveis, insistindo para que fizesse a comunhão. Continuava calada, mas aquele dia, não aguentando mais, debulhou-se em lágrimas.
Não sabíamos a que atribuir aquela tristeza e suplicamos que nos dissesse. Mas a falta de ar produzida pelos soluços era tão violenta, que não somente não pode responder como também nos fez sinal de não lhe dirigir mais uma única palavra e nem mesmo olhá-la.
Não recebeu mais a Santa Comunhão até a morte. Sua última comunhão foi oferecida pela conversão de Jacinto Layson, ex Carmelita que abandonou o Sacerdócio e a Igreja tornando-se herege. Ocupara dessa conversão por toda avida”.
Dizia ainda a pequena grande Santa, indo além de sua dor e dando um sentido profundíssimo ao seu sofrimento, num abandono total à vontade de Deus, que se se tornasse impossível receber os sacramentos, ela não se revoltaria, pois “Tudo é Graça”.
“Sem dúvida é uma grande graça receber os sacramento mas quando o Bom Deus não os permite, está bem do mesmo jeito”…
“Para ganhar uma Comunhão isto não é sofrer demais!”…
O coração de Teresinha se alargava ao contato com o coração do Senhor Jesus.
Viveu profundamente os sagrados mistérios. Assimilou a tão ponto a presença do seu Deus que já não era mais ela quem vivia era Cristo quem vivia nela. Teresa foi uma hóstia viva no altar da dor e da imolação. O Senhor a transformou, a consumiu em seu infinito amor.
Junto com ela neste ano Eucarístico testemunhemos nosso amore nossa adoração a Jesus Hóstia. Ele que é o nosso Deus e nosso Senhor, nosso Tudo e nosso amor.
“Fixando-se junto à Hóstia,
em seu sacrário de amor;
assim passa sua vida
à espera do último dia,
quando, ao fim das provações,
pondo-se ao lado dos santos,
este grão da Eucaristia
brilhará com seu Jesus”.
Ir. Maria Angélica de Jesus Hóstia, OCD – Monja Carmelita Descalça – Recife- PE
Obras consultadas:
Obras completas de Santa Teresinha -Edição Crítica do Centenário
Dicionário de Santa Teresinha – Monsenhor Pedro Teixeira Cavalcante