O ano era 2013, eu era um jovem universitário dentro da obra Shalom. Sempre muito sedento de servir e beber da graça. A vida de oração, apostolado, acompanhamento espiritual, estudos, vida familiar, etc. pareciam andar de mãos dadas, e ainda vivia um processo animador de se identificar dentro de uma vocação da igreja.
Como todo jovem da obra Shalom, eu ouvia falar muito de Santa Terezinha (lembro até de ter assistido um filme sobre ela, aconselhado pela pastora do grupo), então decidi comprar o livro “História de uma alma”, o manuscrito autobiográfico da santa. Com muito esforço, devo ter conseguido ler os dois primeiros capítulos. Nada me prendia a leitura.
Eu não me identificava com aquela menina tão frágil e com um linguajar até infantil, também influenciado pela associação que se faz a ela com a delicadeza, rosas, etc. Na minha falta de autoconhecimento, me achando maduro e forte demais para ter algo que me fizesse ver naquela “santinha” uma inspiração, larguei a leitura, desisti de tentar.
Quatro anos se passaram, eu já era postulante de segundo ano da Comunidade Shalom como Comunidade de Aliança e o cenário da minha vida não era o mesmo de 2013. Me encontrava numa profunda obra de autoconhecimento, batalhas espirituais, crises de fé que passaram a afetar como um todo. A vida de oração já estava abandonada e eu não sabia o caminho de volta.
Comecei a tentar auxílio com Santa Tereza d’Ávila e seu “Livro da vida”, com São João da Cruz e seu livro “Noite escura de uma alma”, mas nada me ajudava. Até que um dia meus olhos pousaram sobre aquele livro escanteado na minha estante com a foto de Santa Teresinha na capa, e decidi dar mais uma chance.
Diferente de quatro anos atrás, desta vez “engoli” o livro, e me assustava o quanto a vida daquela mulher do século 19, enclausurada desde os 15 anos, se assemelhava com a minha. Podia ver as minhas fragilidades nela, parecia algo contemporâneo demais. Eu lia e pensava: Só posso ter tentado ler esse livro errado, não é possível.
De repente, tudo ao meu redor me fazia lembrar dela: as pessoas começavam a falar sobre ela perto de mim “do nada”, eu ia para missa e o sacerdote aparecia com uma estola com o rosto dela bordado, a única missa viável para ir era na paróquia dedicada a ela, etc.
Eu me sentia “perseguido” pela santa, e assim fui me aprofundando na amizade com ela, e aos poucos fui percebendo que, por meio da vida dela, eu estava conseguindo voltar a rezar. Inúmeras vezes recordo que lendo o livro, ela falava sobre uma passagem bíblica. Isso me inspirava a ir rezar. Quando ia fazer o estudo bíblico, a orientação do dia era com a mesma passagem, ou quando ia a missa, o evangelho era o mesmo que ela tinha falado sobre, e isso me fazia voltar para a direção correta, me aprofundava na oração e na vivência eucarística.
Incontáveis situações aconteceram que me levavam a ela e, por isso, imediatamente me levavam a Deus. Nossa amizade cresceu e amadureceu.
Hoje, posso dizer que Santa Terezinha me ensinou e ensina a abraçar a minha pequenez diante de Deus, a querer amá-lo em todas as situações, a não desistir. Que a associação que fazem dela a alguém muito débil e frágil (apesar de ela própria se ver assim) é incoerente com a maturidade e a força própria dela.
Santa Terezinha não quis me encontrar na “fartura espiritual” de 2013, ela quis se mostrar uma verdadeira amiga, me ajudando e se mostrando presente na “penúria” de 2017 e permanece desde então. Hoje as suas obras completas são meu livro de cabeceira e, se não consigo rezar, logo recorro a ele. Facilmente a minha amiga me leva ao coração de Deus. Santa Terezinha disse que viveria o seu céu fazendo bem na terra, e eu provo disso com minha vida.
Jonas Fernandes
Discípulo da Comunidade de Aliança na missão de Natal