Formação

São João da Cruz, o doutor do Tudo e nada

Hoje, 14 de Dezembro, celebramos a memória litúrgica deste santo místico, sacerdote e frade carmelita. conheça a sua história a seguir.

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Recordamos, com amor, a vida e o testemunho de São João da Cruz. A relação com Deus e a vida consagrada desse servo destacaram-se por uma profunda pobreza de coração. Segundo alguns biógrafos, primeiro, ele foi abraçado pela pobreza, só então, a partir de profundas experiências com Deus, abraçou-a também como um valor, ou melhor, como um grande tesouro. João nasceu no dia 25 de junho de 1542, em Fontiveros, Espanha, e faleceu no dia 14 de dezembro de 1591. A causa da morte foi uma enfermidade chamada erisipela.

Um jovem que aspirava santidade

Uma das primeiras dores que João viveu, mesmo sem ter consciência, foi a morte do pai. Na época, o santo tinha apenas dois anos de idade. Depois, aos nove anos, foi acolhido numa espécie de orfanato para meninos pobres e ali recebeu aulas de alfabetização e aprendeu simples ofícios. Teve, portanto, uma infância pobre e difícil, marcada por inúmeras privações.

Já sabemos que a academia de Deus é a vida, assim, tudo isso poderia, a princípio, gerar uma pessoa revoltada e traumatizada, ou mesmo alguém ganancioso em ter no futuro o que lhe faltou no passado. Porém, ao contrário, para o pequeno João da Cruz a pobreza vivida foi a porta de entrada para as grandes experiências místicas e espirituais que Deus lhe reservava. É por meio desses dados de sua biografia que podemos mergulhar com um pouco mais de profundidade nas experiências vivenciadas na vida adulta, como um religioso consagrado.

Na vida como carmelita, João experimentou concretamente a ausência de tudo o que qualquer coração humano deseja: saúde, bens, prestígios, afetos, consolações, elogios e até a sua liberdade, quando foi aprisionado em um cárcere. No entanto, foi justamente esse mergulho no nada existencial, que lhe permitiu encontrar-se com o Tudo. Além disso, a experiência da pobreza por ele vivida à flor da pele lhe permitiu descobrir sua missão pessoal, seu modo único e singular de amar a Deus.

O Carmelo e os movimentos da graça

João abraçou a vocação carmelita com a alegria e o entusiasmo de qualquer jovem apaixonado pela vontade de Deus, porém, deparou-se ali, com uma vivência pouco autêntica do Evangelho, tanto que começou a cogitar a possibilidade de ir para outra ordem religiosa, a dos Cartuxos. Essa ordem era famosa por ser possuidora de um ritmo de vida consagrada particularmente radical. Foi, então, justamente nesse turbilhão interior de buscas e interrogações, que conheceu Santa Teresa de Ávila.

Essa outra serva de Deus garantiu-lhe a possibilidade de viver esse ideal mais austero de vida dentro do próprio Carmelo. Assim, ela partilhou com João seus desejos de reformas, por sinal, que já estavam em ação, e convidou-o para auxiliá-la nesse propósito também no ramo masculino da Ordem. João aceitou e empreenderam juntos a grande reforma do Carmelo. 

Provações e purificações

Como era de se esperar, não faltaram perseguições para neutralizar ou desacelerar aquele santo projeto. Os superiores dos dois tomaram medidas para impedir a expansão ou mesmo obter o fim dessa nova obra. Em meio a esses conflitos, frei João da Cruz foi o que mais sofreu, tanto que foi preso duas vezes. A primeira, foi no início de 1576 e a segunda em dezembro de 1577.

Essa segunda foi a mais dolorosa, mas também a mais fecunda e frutuosa. Foram nove meses de silêncio e mergulho em Deus, num salão sujo, sem ver ou ouvir ninguém, respirando o mesmo ar e com a mesma roupa. Porém, foi justamente ali, que descobriu que, não sendo ele mais nada diante dos homens, Deus poderia, assim, ser tudo nele. Transformou esse momento doloroso de privações numa profunda experiência espiritual e emocional.

A escuridão, o isolamento, o abandono por parte de seus irmãos, a privação da Eucaristia, os maus tratos, confirmaram ainda mais suas convicções. Pôde desfrutar da presença de Deus de modo íntegro, sem misturá-la com os consolos mundanos e carnais. Privado de tudo e de todos, uniu-se a Jesus, o Shalom do Pai, capaz de enriquecer de sentido as experiências mais dolorosas do ser humano. 

Deus exaltou no céu aquele que foi humilhado na terra

Após a prisão, João reassumiu suas funções no Carmelo até o momento em que, num novo capítulo da ordem, precisou mais uma vez se opor aos rumos contrários às inspirações de Santa Teresa, na época, já falecida. Assim, mais uma vez tiraram tudo dele e até pensaram em expulsá-lo da ordem. Maltratado, desprezado, abandonado, caluniado, passou a viver mais uma terrível noite escura da fé.

Todavia, seu coração estava pacificado e unido a Deus, tanto que não se deixou abater. Nos últimos tempos de sua vida, já enfermo, deixaram-no escolher onde gostaria de ir para ser melhor tratado, porém, o santo preferiu ir para um mosteiro cujo superior não lhe era simpático e o tratava mal. Ali, em meio às dores físicas, morais e espirituais, consumou sua união eterna com o Senhor, falecendo em 14 de dezembro de 1591.

Doutor da Igreja e Patrono da Rádio

São João da Cruz hoje é lembrado como grande místico, filósofo, teólogo, escritor, poeta e doutor da Igreja. Para ele, a melhor definição de amor é: “Trabalhar, despojar-se e desnudar-se de tudo o que não é Deus, por causa de Deus. Se queres saborear Tudo, não queiras ter gosto em nada.

Foi canonizado no ano de 1726 e, declarado pelo Papa Pio XI, Doutor da Igreja, no ano de 1926. É considerado, ainda, patrono da rádio, já que a pregação, através da voz, tinha grande alcance.

Assim, peçamos a São João da Cruz a graça de levarmos a evangelização como meta principal de nossas vidas, tocando pessoas e convertendo almas em nome de Jesus, utilizando-nos de todos os dons com os quais Ele nos cumulou.

Que Deus, por intercessão desse Servo fiel, renove em nosso coração uma disposição profunda de uma vida santa. 

São João da Cruz, rogai por nós.  


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