E eis que uma luz incandescente muito forte aparece diante de seus olhos, e assusta o animal que o derruba prontamente. Ao chão, os sentidos confusos atestam a ordem sobrenatural do acontecimento, quando uma voz firme o interroga vivamente: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Atônito, argue de volta à voz luminosa: “Quem és tu?” Ao que a voz resoluta, como é próprio de sua natureza, devolve: “Eu sou Aquele a quem tu persegues!”… Naturalmente, qualquer um que por isso passasse, pensaria: “Agora lascou!”. E borraria suas calças, desfalecendo de temor, para não usar expressão chula e baixar o nível deste texto (mas dá pra imaginar), e, em situação tão vulnerável como aquela, veja: encontrado de surpresa por seu “inimigo”, ofuscado por uma luz intensa que o deixa cego, caído ao chão sem ter como fugir… qualquer um abaixaria a cabeça e esperaria do inimigo o golpe derradeiro, a bordoada da vingança, ou gritaria desesperado: “mamãe!!!” ou “socorro” mesmo. Mas ele não! Não seria qualquer coisa que o assustaria… mas garanto que pelo menos um frio na espinha rolou!
Saulo, em todos os sentidos possíveis, caiu do cavalo. Judeu !? Ele era mais. Fariseu !? Ele era mais. Romano !? Muito mais. Saulo, não caiu, portanto, de qualquer cavalo. Homem de prestígio, detinha autorização para eliminar os seguidores do Caminho (como se denominavam os cristão à época), e trazia consigo espada banhada em sangue cristão, manejada com destreza à serviço de uma inteligência eficaz, mas que desconhecia a Verdade. Para que Saulo se tornasse Paulo, precisou cair do cavalo. Caiu, arrependeu-se, decidiu-se… e, apoiado na Graça de Deus, mudou.
E eis que, cerca de dois mil anos depois, somos nós. A luz vem, o cavalo empina e pimba!:
A gente não solta o bendito cavalo! E ainda mete os óculos escuros, porque sabia que a luz ia vir!!! É muita resistência! E impressiona, inclusive, a nossa performance! Não diríamos que seríamos capazes de tanto, e nos orgulhamos da infeliz resistência que não levará a lugar nenhum. Pobre de nós! Mais infelizes ainda, os que se quer quedar-se-iam de um cavalo de vergonha, pois amarraram-se intrepidamente, aquecendo os dedos uns nos outros, solenemente fazendo feições de coragem como se partissem para uma batalha épica, enroscando os dedos em câmera lenta nas amarras da cela, com gritos de urra!, montados com pompa… no lombo “dum” jumento.
Haveremos, então, pela graça de Deus, de cair de nossos cavalos. Deixar que Deus derrube em nós o que resiste à Ele, leve ao pó do chão o nosso orgulho, a nossa vaidade, as imagens que forjamos sobre nós.
Sim! Para que vá Saulo é preciso quedar-se, e se deixar quedar. Para que venha Paulo é preciso levantar-se, o que só é possível ao que queda-se. A conversão de São Paulo nos ensina que é necessário ser pequeno diante de Deus, por maior que sejamos aos olhos do mundo, e que o pior, mais cruel dos homens pode tornar-se uma fonte de amor, capaz de influenciar o mundo inteiro, para sempre, porque dedicou a sua vida, por completo, a Voz que o chamou.
Peçamos, neste dia, a graça de uma conversão verdadeira e definitiva à Deus, pela intercessão de São Paulo!
Rogai por nós!