Ao fazer memória do meu chamado ao celibato, confesso que para mim seria uma escolha distante. Hoje creio que Deus me chamava a uma vida celibatária desde minha infância. Sempre fui de caminhada na Igreja, envolvido em todos os movimentos e serviços, sempre colocando o outro e as coisas do Senhor a frente de minhas necessidades – uma grande característica da vida celibatária, porém não compreendia esse chamado, pois para mim ser celibatário precisaria ser padre ou religioso.
De fato, não compreendia nada. Nunca tive uma experiência de namoro, porém o coração sempre se perdia nas paixões, assim foi à minha adolescência e início de juventude.
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Conheci a Comunidade Shalom no ano de 2010, e ver que nela existia uma forma de vida inteiramente dedicada a Deus e ao outro alegrava o meu coração. Porém, via o celibato como um chamado de Deus para aqueles que eram perfeitos e santos, e logo descartei a possibilidade.
“Isso não é para mim, talvez Deus me chame ao matrimônio“.
Acreditava na santidade por meio da vida matrimonial, e estando na comunidade, me apaixonei algumas vezes, porém por paixões humanas. Vale ressaltar que eu achava que para ser celibatário precisaria ser automaticamente Comunidade de Vida, e para ser casado teria que ser aliança. Para mim, celibato na Comunidade de Aliança era inviável.
Um semente lançada
Lembro muito bem da primeira vez que Deus veio me falar de celibato, estava no meu primeiro ano de vocacional, no retiro de aprofundamento em um deserto, no dilema e nos altos questionamentos de que forma de vida o Senhor me chamava a viver como Shalom, ele me dava a palavra no livro de Oséias 2, 18-22 que diz:
“Acontecerá, naquele dia, oráculo de Iahweh que me chamaras ‘Meu Marido’. Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás Iahweh”.
Essa palavra me impactou muito, pois já entendia que de fato Deus me chama a isso, porém maior foi meu desespero, pois o Senhor naquele retiro não me falou nada de comunidade de vida ou aliança, ele foi bem incisivo no estado de vida. Compreendia que eu não teria saída se não abraçar aquela semente do estado de vida, fui guardando e cuidando em toda a minha caminhada.
Sempre fui inquieto sobre isso, Deus cada vez mais despertava no meu coração a vontade dele, eu sempre fui resistente pelo fato de me achar incapaz de corresponder, a ideia de celibato já começava a ser para mim um chamado de velho, que não era possível ser um celibatário jovem.
No ano de 2020, no meio discipulado, me veio o desejo de conhecer mais sobre este estado de vida, pois em meio a pandemia o Senhor me inquietava cada vez mais, lembro que quis viver o celibato formativo, porém fui muito questionado pelo meu FC se era isso mesmo, e mais uma vez a dúvida me veio, não trilhei o ano de celibato formativo, meio que aquele questionamento me fez desistir, e acreditar que eu era chamado a celibato.
Tempo de decisão
No 2023, em meio às dúvidas, as incertezas o medo de ser infiel, decide de fato me abrir a esse possível chamado de Deus, e nesse ano foi um ano de muitas graças, e da manifestação da vontade de Deus, Deus em meio a tudo me mostrava que de fato era aquele o meu lugar, ser e ter o meu coração totalmente exclusivo, e indiviso, ser somente dele.
A ideia que eu tinha de que o Senhor escolhia os melhores para esse estado de vida caiu totalmente por terra, e o próprio Senhor me fez entender que dos piores ele escolhia os piores, para estar a cada vez mais perto dele.
Hoje sou imensamente feliz, pois Deus tem feito muitos jovens celibatários, fruto de uma profecia da revista escuta, onde Deus faria um levante de jovens celibatários. Compreendo que um estado de vida é dom e Deus dá a quem ele quer.
A voz do Amado
Mas, o que de fato me fez abraçar esse chamado foi a reciclagem de 2023, cujo tema era: A voz do amado é reconhecida pela alma que o busca. Essa reciclagem Deus falou de inúmeras formas para mim, sobre o meu chamado ao celibato. De fato, a minha alma naquela reciclagem reconheceu a voz do amado, aquela voz que me falou de celibato no meu ano vocacional, e deixei com que Deus fosse Deus e assim realizasse sua vontade.
Deus quer o meu nada, a minha insuficiência, a minha miséria para em tudo isso realizar sua grande obra. E hoje posso dizer que verdadeiramente sou aquilo que Deus pensa de mim, Régis, Filho de Deus, Shalom, Aliança e Celibatário.
Oferta pelo outro
Deus me deu o celibato, não para mim mesmo, como meio de autorrealização ou para viver uma solidão. Meu celibato sempre será em vista do outro, dos jovens, dos homens, da Igreja e principalmente da Comunidade. Meu celibato precisa ser vivido para a fecundidade e não para a esterilidade. O meu celibato precisa apontar o céu para a eternidade, isso é o que Deus me faz acreditar hoje vivendo como celibatário.
Hoje posso afirmar que o meu coração é pleno e feliz, e sei que o meu lugar não é mais aos pés da cruz, mas está fincado nela junto a Jesus.
Por Paulo Régis Oliveira, consagrado da Comunidade de Aliança de Aquiraz-CE.
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