Um dos pensamentos mais preciosos que Santa Teresinha nos deixou foi: “Deus não poderia me inspirar desejos irrealizáveis, portanto, posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade”.
Em suma, isto significa que o mesmo Senhor que nos chama, sabendo da nossa fraqueza, também disponibiliza todos os meios para que alcancemos a bem-aventurada meta da nossa existência: a união definitiva com Ele, afinal, se fosse uma finalidade impossível, Deus não nos permitiria desejá-la.
Essa união absoluta com o Senhor, que se dará plenamente na eternidade, é construída pouco a pouco, no decorrer da nossa existência, por meio da santificação, ou seja, do processo contínuo e paulatino de rompimento com tudo o que nos afasta Dele.
Em sua origem, a palavra santificação indica ao menos três condições: separação, sacralidade e pureza. A partir desses significados, podemos concluir que a santidade comporta uma eleição divina, pois ao escolher, o Senhor automaticamente separa os seus eleitos, colocando-os à parte e em lugar privilegiado. Também diz respeito a uma retomada da semelhança perdida pelo pecado original, pois sacralizar significa dar uma nova dignidade, elevar à categoria divina: o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, tendo perdido tal semelhança por causa do pecado, retoma-a por meio da graça.
Por fim, a santificação indica a pureza, segundo São Paulo nos diz: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). E é exatamente sobre este terceiro aspecto da santificação que vamos nos aprofundar durante as próximas semanas: a pureza, que é condição essencial para quem quer ser santo.
Existe uma relação intrínseca entre a pureza do coração, do corpo e da fé. Quando Jesus anuncia que a bem-aventurança dos puros de coração é a visão beatífica do Senhor (cf. Mt 5,8), afirma implicitamente que é necessário entregar o coração e a inteligência às condições exigidas pela santidade de Deus, especialmente no que diz respeito à caridade, à castidade e ao amor à verdade da fé, como ensina Santo Agostinho:
“para que, crendo, obedeçam a Deus; obedecendo, vivam corretamente; vivendo corretamente, purifiquem seu coração; e, purificando o coração, compreendam o que creem“.
O Catecismo nos recorda que é o Espírito Santo que concede o dom da pureza aos que foram regenerados pelo Batismo (cf. CIC, §2345). E ainda ressalta que a vivência desta virtude tem para os cristãos um modelo: Jesus Cristo. Por isso, a pureza vivida pelos cristãos deve imitar a pureza de Jesus.
E esta imitação se dá por meio de uma luta, pois, apesar da purificação recebida no Batismo, é preciso combater continuamente contra as concupiscências e desordens que tendem a se levantar em nosso interior, ameaçando a manutenção da pureza do nosso ser. A vitória se dará de forma semelhante à de Jesus contra o mal: pela graça de Deus, crucificar nossas paixões desordenadas junto ao Seu madeiro sagrado.
Tais combates se dão em nosso cotidiano, pois vivemos em meio a uma sociedade envolvida por um forte apelo ao hedonismo, à sensualidade, à banalização do corpo e às desordens afetivas. De fato, se tais aspectos não forem combatidos por uma graça particular, com o vigor e a determinação próprios de um guerreiro, certamente acabarão por nos afundar em uma vida vazia de sentido e longe de realizar a meta da santidade.
Por isso, como inspiração e incentivo para a vivência da pureza, apresentaremos, no decorrer das próximas semanas, o testemunho de fé das virgens mártires que, desde os primórdios da Igreja, vêm corajosamente entregando suas vidas pelo desejo de amar a Deus de forma exclusiva e única, em uma disposição de perder tudo, menos a pureza de seus corações.
Semana que vem, recordaremos a história da primeira virgem mártir de que se tem notícia da história da Igreja. Até lá!