Para viver a vida interior precisamos nos conhecer. Aliás, até para viver a exterior é necessário o autoconhecimento. Como é difícil viver sem nos conhecermos! Sem conhecer os nossos defeitos para corrigi-los, ou os nossos dons e virtudes para potencializá-los, é difícil progredir. Por isso, para crescer na vida interior, é fundamental que nos conheçamos.
Mencionamos anteriormente que somos um composto de corpo e alma. Certamente, hoje temos numerosos recursos, com os avanços da ciência, para conhecer o nosso corpo, tornando-se uma tarefa um tanto mais fácil. Conhecer a nossa alma é difícil, pois, não a vemos, não a sentimos, não a tocamos. Contudo, não é impossível. A alma não fica restrita a nos dar o primeiro impulso de vida, mas permanece operando em unidade com o corpo, de modo que podemos conhece-la identificando a sua ação no nosso dia a dia.
Isso fizeram muitos autores espirituais de antigamente (aliás, os primeiros a referir-se à alma foram os filósofos gregos antes mesmo do surgimento do cristianismo). Para nos ajudar a conhecer um pouco melhor a nossa alma recorreremos ao pensamento de Santo Tomás de Aquino.
Garrigou-Lagrange afirma, baseado na teologia de Santo Tomás de Aquino, que a alma é a forma substancial do corpo humano. Isso quer dizer que a alma dá ao corpo humano a sua natureza. No entanto, esse “dar” não se refere a um ato temporal, mas a uma constituição substancial. O termo substancial diz respeito àquilo que há de permanente nos seres, a sua essência. Isto quer dizer que a alma é algo de essencial do ser humano. Substancial difere do acidental, que é aquilo que casualmente pertence aos seres, mas que não é essencial. Por exemplo, é substancial que um livro tenha páginas, mas é acidental a quantidade delas. Ora, um livro sem páginas não pode ser considerado um livro, pois, ele precisa ter páginas para sê-lo, isso é substancial. No entanto, se ele tiver quinhentas ou cem páginas, não deixará de ser um livro, pois, isso é acidental. Pois bem, a alma é a forma substancial do corpo humano, não acidental, de modo que dá ao corpo os seus atos vitais, àquilo que é próprio da sua natureza. Ensina Garrigou-Lagrange:
“A alma racional é a forma substancial do corpo humano, dá-lhe a sua natureza, porque é o princípio radical pelo qual o homem vive a vida vegetativa, a vida sensitiva e a vida intelectual. Com efeito, estes diferentes atos vitais nestas três ordens de vida são naturais ao homem e não acidentais nele. Nascem, portanto, de sua natureza, do princípio específico que anima o corpo”
Quando Deus cria uma pessoa, cria juntamente o corpo e a alma, embora o primeiro ao ser gerado precise passar por um processo natural de desenvolvimento desde a fecundação do óvulo. Dado que a alma está unida ao corpo de maneira substancial, e não acidental, eles constituem um composto unificado, que em é algo em si mesmo, substancial e inerentemente, e não por acidente, como afirma Garrigou-Lagrange: “Uma determinada alma individual e o seu corpo formam um composto natural que é uno, no per accidens, mas per se”.
É em virtude desta unidade que a alma possui funções que exigem a participação do corpo, como o olhar, o sentir e o mover-se. Deste modo, a alma só adquire natureza completa através da sua união com o corpo. Nesta união substancial, no momento da criação, a alma é criada totalmente por Deus e, diferente do corpo, não conta com a participação humana na pessoa dos genitores no processo da procriação.
Participe
Abertas as pré-inscrições para a Escola de Líderes Shalom 2021