A quem pertence a Igreja? A quem compete decidir sobre o seu futuro? O que precisa mudar na Igreja, para ela ser melhor aceita e tornar-se mais relevante na atual sociedade? São muitos os questionamentos e as opiniões que circulam nas mídias sobre o futuro da Igreja, enquanto muitos desconhecem a sua natureza e a sua missão.
Em um livro intitulado “Compreender a Igreja Hoje. Vocação para a comunhão”, o então Cardeal Ratzinger parte das Sagradas Escrituras para testificar que a Igreja sempre esteve nos desígnios de Deus, e que foi voluntariamente estabelecida por Jesus, pois a Sua vida pública revela que Ele tinha a intenção de fundar a Igreja. Também um documento da Comissão Teológica Internacional explica as etapas do processo de fundação da Igreja, já implícita na vida e no ministério público de Jesus.
Em síntese, podemos afirmar que a Igreja, presente na eternidade divina, tem seu início temporal através do Filho, que na Sua encarnação realiza a passagem da eternidade ao tempo, e com a Sua ressurreição envia o Espírito Santo para, e por meio dele continua a agir e a sustenta-la.
Cristo está presente na Igreja pelos Sacramentos, de modo singular na Eucaristia, mas também está presente “na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros” (LG 21). Graças à Sucessão Apostólica a Igreja permanece em comunhão de fé e de vida com a sua origem, e nos permite conservar a comunhão com aqueles que conviveram com o Senhor e foram suas testemunhas diretas.
Jesus escolheu como Apóstolos aqueles que Ele quis (Mc 3,13), e a estes transmitiu a missão que recebeu do Pai (Jo 17–18; 20,21), revestindo-os da sua própria autoridade (Mt 10,40; 18,18; Jo 20,23), e deu-lhes a missão de pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15), e de ministrar os sacramentos (Mt 28,19-20; Lc 22,19; Jo 20,23). Esta missão não deveria cessar com a morte dos Apóstolos (Mt 28,20), mas permanecer até o seu retorno. Portanto o poder conferido por Cristo aos apóstolos é transmitido aos seus legítimos sucessores, os bispos (2Tm 1,6; 1Tm 4m14; 5,22; At 14,23; Tt 1,5) e aos presbíteros, seus colaboradores, por meio do Sacramento da Ordem.
Um importante testemunho da tradição apostólica nos é dado por Santo Irineu, que explica que os bispos “foram estabelecidos nas Igrejas pelos apóstolos e os seus sucessores até nós” e nos oferece um grande testemunho sobre a fé que a Igreja professa, de forma inalterada desde a sua origem. Explicando o dom da sucessão apostólica, Papa Francisco assim escreveu:
Como serviço à unidade da fé e à sua transmissão íntegra, o Senhor deu à Igreja o dom da sucessão apostólica. Por seu intermédio, fica garantida a continuidade da memória da Igreja, e é possível beber, com certeza, na fonte pura donde surge a fé; assim a garantia da ligação com a origem é-nos dada por pessoas vivas, o que equivale à fé viva que a Igreja transmite. Esta fé viva assenta sobre a fidelidade das testemunhas que foram escolhidas pelo Senhor para tal tarefa.
A Igreja, portanto, mesmo sendo uma instituição antiga cronologicamente pode “renovarse e voltar a ser jovem em cada uma das várias fases da sua longa história”. A juventude perpétua da Igreja, segundo Francisco, esconde-se na fidelidade à sua origem:
“quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte”.
É dessa forma que nela Cristo está sempre presente, vivo, e se torna companheiro de caminho de todos os que dela se aproximam, para além do tempo e do espaço.
Segundo São Tomás de Aquino, “é próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência” . É dessa forma que devemos interpretar o hoje da Igreja, como um sinal da misericórdia de Deus, que exerce o seu poder manifestando a sua graça. Lembremo-nos que da Páscoa a Igreja caminha para Pentecostes, e é precisamente este o momento em que estamos vivendo. No próximo Papa é Pedro que continuará a sua profissão de fé e com ele, todos nós continuaremos a ser guiados por Cristo, o Bom Pastor.
Por Josefa Alves
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