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Temo me contaminar, mas a certeza de que Deus está comigo renova a minha missão

Essa pandemia tem diagnosticado mais as nossas enfermidades interiores que o próprio vírus em questão, até me arrisco a dizer que uma cura interior está acontecendo na humanidade. Uma cura dolorosa.

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Foto de Anna Shvets no Pexels

Meu nome é Mariana, sou consagrada na Comunidade de Aliança, com Promessas Definitivas, na missão de Aracaju, e sou médica residente de Pediatria, no último ano de especialização. Tenho quase 7 anos de formada e nunca havia me deparado com uma situação tão desafiante, profissionalmente falando, como nesses últimos meses. Estamos vivendo, como mundo, um mesmo sofrimento.

No momento, não trabalho diretamente com os pacientes infectados pelo novo vírus, mas o que posso perceber no meu atual dia a dia é que as pessoas nessa quarentena estão começando a ouvir os gritos da alma. Estão percebendo a distância em que se encontravam de Deus e da fé, distantes dos familiares, antes sacrificados em vista de uma vida cada vez mais inserida no trabalho, percebo colegas começarem a ter o olhar voltado para o que é essencial nesse tempo.

A nossa necessidade é de Deus, sem Ele não podemos fazer nada! Começaram a ver Deus e a ver o outro. Começaram a ver que somos pessoas vulneráveis. Pessoas que nem mesmo se consideram cristãs, pararam para ouvir as palavras do Papa Francisco e foram tocadas pelos seus gestos e palavras. Essa pandemia tem diagnosticado mais as nossas enfermidades interiores que o próprio vírus em questão, até me arrisco a dizer que uma cura interior está acontecendo na humanidade. Uma cura dolorosa.

Eu sou chamada a ser médica do corpo e da alma

Muitos colegas precisaram se afastar de familiares, eu mesma, não posso ver meu sobrinho de 4 meses. Isso é uma dor, mas também uma oportunidade de uma fecunda oferta. Oferecer a Deus as dores desse tempo em vista de quem Ele queira. Vejo como sabedoria para esse tempo. Alguns colegas estão preocupados com a possibilidade da infecção, medo de perderem pessoas queridas, ansiosos com a ausência de controle sobre essa situação, com o “boom” de informações que se acumula nas redes sociais.

E, de fato, toda essa tempestade assusta e nos faz ver a fragilidade da nossa alma, mas é nesse momento que a minha missão ganha o verdadeiro sentido: levar a paz, levar Deus, o verdadeiro remédio que cura todos os males. A certeza da presença de Deus conosco, nesta barca, como disse o Santo Padre, consola os corações.

Eu sou chamada a ser médica do corpo e da alma, faz parte da minha eleição. Tem uma música católica, de um compositor americano, que se tornou um rhema para mim nesse tempo que diz: “Aqui estou eu, Senhor… Eu tenho Te ouvido me chamando em meio à noite. Eu irei Senhor, se Tu me guias. Eu irei manter o Teu povo no meu coração”. E cada dia, com a graça de Deus, eu quero corresponder a esse chamado. Eu irei, porque Tu me guias, Tu estás comigo e o Teu povo também experimentará da Tua perfeita condução, da Tua presença amorosa.

Além disso é um tempo providencial para que eu esteja mais unida a Jesus pela oração, mais frequente e mais intensa, e mais atenta à dor das pessoas. Nesse contexto, os irmãos de Comunidade são parte desse povo, e, apresentam necessidades médicas reais. Comecei a ter mais contato com os irmãos, conhecer melhor as necessidades deles, dar orientações médicas e espirituais. Enfim, ajudá-los também a viverem melhor esse tempo.

É incontestável que vivemos um tempo de muita dor, mas, com a certeza da fé, esse é também um tempo de muitas graças, das quais, algumas já podemos contemplar.

Shalom!


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