Nove meses, sim, foram nove meses. Meses que nunca imaginei que viveria, porém que nunca esquecerei. E me lembro do quanto eu fugi. Meu coração inquietava-se frequentemente, Deus me chamava constantemente, mas eu parava no medo e no meu egoísmo.
Depois de muito Deus confirmar, enviei minha carta pedindo para partir como jovem em missão. Tinha um bom trabalho, faculdade e ainda era responsável pelas contas de casa. Antes de partir, já fazia planos para quando voltar. E o que mais me preocupava: como ficará o sustento da minha família? Quando Deus, sempre me desmoronando com suas palavras, diz: “Cuida dos meus, que cuido dos teus. Confia em mim”. Desde já, deu início à obra de abandono total nas mãos de Deus, uma das mais difíceis para mim.
Recebi a resposta. Anunciei a família, pedi demissão do trabalho, tranquei a faculdade. Mesmo assim, ainda preso aos meus planos e medos. Demorou um tempo para eu renunciá-los de vez, alguns meses já em missão foram necessários. Conseguia renunciá-los a cada dia, com a ajuda de um amigo que fiz nesse tempo: São João da Cruz. “A caridade opera o vazio e o despojamento na vontade, pois nos obriga a amar a Deus sobre todas as coisas.” E o que não falta é oportunidade para exercer a caridade na vida comunitária. Muito difícil?! Sim! Mas é sua família, é salvação. Sair de si, silenciar, amar! Muitas vezes você se sente rasgando por dentro, mas decidiu amar. E isso é o que importa, o amor amadurecido, o amor concreto, que lhe leva à pobreza total.
Ah, a pobreza. Nos primeiros meses tinha pavor só de ouvir essa palavra. E quanto mais eu temia, mais São Francisco me perseguia. Como demorei para descobrir a beleza da pobreza, que vai além do material. Muito grato sou ao pobre de Assis por toda insistência, mesmo quando eu escondia o seu ícone na gaveta para ver se ele me deixava em paz, mas, graças a Deus, nunca saiu de perto de mim, me ensinando a cada dia a ser um verdadeiro pobre, abandonado na vontade de Deus.
Sei que me estendi, mas é impossível descrever um tempo tão forte em poucas linhas. Para finalizar, falo do essencial de toda a missão, que foi a grande graça que Deus me deu: a vida de oração. Nela encontrei força quando quis desistir, na intimidade com Deus, mesmo nos dias de aridez, quando não queria rezar, estava ali, firme, diante de Jesus Eucarístico. E quando eu quis desistir de tudo, Ele me diz: “O vinho melhor está guardado para o final, fica mais um pouco, pois ainda não servi meu melhor vinho”. Deus abençoe a todos e não tenham medo de dizer sim a Deus, pois a Sua vontade é sempre Amor.
Daniel Garcia foi jovem em missão em João Pessoa (PB)
lindo testemunho irmão, me sinto pressa ainda em meus medos e nas minha fraquezas. Bendito seja Deus que te alcança cada dia de sua vida, e te atrai para seu caminho.