No prólogo do Evangelho de São João, que é um portal de acesso para todo o Evangelho, lemos que ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho Unigênito foi quem o revelou (Cf. Jo 1, 18). O Verbo grego utilizado no final do versículo dezoito expressa a idéia do exegeta que explica, ou seja, Jesus Cristo é o “exegeta” do Deus Uno e Trino, o único que nos explica Deus, que pessoalmente nos revela Deus através da sua Pessoa, fatos e também suas palavras. Na história, João é o primeiro a receber o título de “thelogos” e sua teologia é fundamentada na Amizade (intimidade) com Cristo que o torna sua testemunha ocular.
São Paulo, escrevendo à comunidade de Éfeso e a todos os cristãos, deseja que arraigados e alicerçados na fé e no amor (ágape) possam “compreender a largura, o comprimento, a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que supera todo conhecimento. Assim estareis totalmente repletos da plenitude de Deus” (Ef 3, 17-19).
O mesmo Paulo aos Colossenses afirma que em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cf Col, 2, 3). Esses tesouros – vida íntima divina – são revelados aos simples e pequeninos e por esse motivo Jesus exulta no Espírito Santo (Cf. Lc 10,21). Toda essa sabedoria e ciência são acessíveis aos que querem acolher de coração aberto.
Sendo uma ciência divina, a teologia nasce da manifestação desse encontro com a Revelação do próprio Deus e da contemplação do mistério que gera estupor, admiração, adoração e união com esse Bem acessível a todos.
Teologia não é fruto da capacidade humana ou de sua conquista, mas dom do Espírito Santo fundamentada nos seus maiores dons: Fé, Esperança e a Caridade. Encontramos aqui – como afirma padre Lethel – a melhor chave bíblica da teologia dos santos. Nessa oração paulina vemos que a teologia dos santos é uma “teologia de joelhos”.
A teologia brota, portanto, da experiência íntima e pessoal com Deus, que gera uma relação com Ele e deve desenvolver-se fundamentada nessa Amizade divina. Sendo tudo isso um dom de Deus a todo o povo, toda teologia autêntica nasce, se desenvolve e dá bons frutos no contexto eclesial, pois na ordem da mediação tudo vem através da Santa Igreja.
Todo bom teólogo vive um movimento de constante passagem da inteligência para a sabedoria divina. Essa sabedoria nós encontramos na vida dos santos que são nossos melhores teólogos e suas respectivas vidas são nossos melhores livros de teologia. A teologia não é apenas para alguns e nem mesmo uma propriedade privada.
Santo Agostinho afirma: “A nossa ciência é Cristo e também nossa sabedoria é Cristo. Ele semeia em nós a fé nas realidades temporais; ele nos revela a verdade das realidades eternas. Vamos a ele por meio dele, tendemos a sabedoria por meio da ciência, porém sem nunca destacar-nos do único e mesmo Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (trin. 13, 19, 24)”. Seguindo esse princípio Agostiniano compreendemos que ciência e sabedoria são dois tipos de conhecimento distintos, mas intimamente interligados.
Podemos certamente pensar na vocação teológica, na importante missão de estudo e dedicação em vista de aprofundar as raízes da fé, fundamentada na Palavra de Deus, tanto no passado como também na atualidade.
Essa realidade está presente na história da Igreja desde os seus primórdios quando o saber teológico era característico do ministério pastoral de bispos. Nos primeiros séculos, com algumas exceções, os bispos eram os grandes teólogos e doutores da Igreja. Na época de santo Agostinho o comum era que apenas bispos fizessem a pregação da Palavra, expondo assim a doutrina sagrada. O bispo Valério, por exemplo, confiava a Agostinho quando ainda era presbítero o encargo de pregar no seu lugar, o que não era comum na Igreja Africana daquela época.
A partir do século XII temos o surgimento das primeiras universidades e os estudos escolásticos farão com que a teologia progressivamente vá se tornando “Sententia e Quaestio” (Sentença e Questão) e a ser reconhecida sempre mais como uma “Sciencia” (ciência).
Nesse contexto histórico, a teologia tornou-se de fato uma forma de conhecimento racional e ao mesmo tempo científico do dado Revelado. A teologia buscará então explicar a fé e os teólogos tornam-se grandes mestres das universidades. Neste cenário, nota-se uma mudança onde surgem grandes teólogos. Ser teólogo e bispo passou a ser a exceção.
Esse desenvolvimento histórico tem uma grande importância para aprofundar o papel do teólogo e demonstrar o quanto a fé requer a inteligência. Entretanto, o teólogo é, e deve permanecer sempre e antes de tudo, uma pessoa de fé, por isso a teologia é sempre mais rica do que se possa expressar, pois Cristo e seu mistério ultrapassam todo conhecimento.
Mesmo a teologia sendo um tesouro bastante explorado ao longo dos séculos, nunca foi esgotado, pois a maior parte ainda está a ser descoberta, compreendida e expressa. Aqueles que encontraram o Tesouro atestam que existe muito ainda a aprofundar do Mistério de Cristo. Na verdade, a maior parte está por ser descoberta. Por isso afirma são João da Cruz (Cânticos espirituais B, str 37, n° 4): “Ele é como uma rica mina cheia de muitos veios de tesouros, dos quais, por mais explorados que sejam, nunca poderemos tocar o fundo ou ver o fim; na verdade, em cada sinuosidade, aqui e ali, há novos fios de outras riquezas”.
Todos podem aventurar-se nessa “caça ao Tesouro” e pessoalmente tornar-se um conhecedor dos Mistérios divinos. Pela relação profunda de amizade divina podemos tornar-nos “pessoas teológicas”, termo muito caro ao teólogo Von Balthasar, pois considerava que mais do que teólogos devemos pensar em pessoas teológicas, visto que ninguém explica Deus, mas todos podem contemplá-lo, servi-lo e amá-lo e assim testemunhar essa experiência para os outros.
Você pessoalmente é chamado a entrar nessa aventura mais bela da vida. Aprofundar a relação com Deus e o estudo do seu mistério é uma experiência apaixonante e transformadora. Sabiamente nos disse São João Paulo II que nos tornamos aqui o que contemplamos. Assim como a contemplação é um bem inequívoco a todos que tem fé também a teologia para aqueles que não querem ficar nas periferias, é totalmente acessível a quem deseja mergulhar em “águas mais profundas”.
Concluímos então que a afirmação acima, na frase inicial que serviu como ponto de partida, é fake, pois o fato é que – na verdade – a teologia é para você que tem fé e deseja tornar-se um amigo de Deus. Visto que a teologia cresce em torno da fé, que é “grávida do Mistério”, você que crê não pode não ser teólogo ou não ser uma pessoa teológica. Assim vivemos a salutar dinâmica da graça, em que cremos para compreender e compreendemos para crer cada vez mais e melhor.
Pe Rômulo dos Anjos
Comunidade Shalom
Serviço:
Curso on-line de Cristologia “Por Cristo, Com Cristo, Em Cristo”
Lançamento: 10 de novembro de 2021
Inscrições: www.institutoparresia.org
Valor: R$119,90 (boleto, pix e cartão de crédito)
Sobre o Instituto Parresia
O Instituto Parresia tem a missão de contribuir com uma formação sistematizada e sólida, sendo um auxílio na construção da consciência, vivência e serviço dos católicos. Esse instituto da Comunidade Católica Shalom está organizado em três pilares: ensino, pesquisa e produção de conteúdo. Tem como objetivo a produção e difusão de conhecimentos sobre assuntos vitais para que se possa pensar a realidade de forma cristã e inovadora através de publicações eletrônicas e impressas.
Com a formação de caráter acadêmico, o conteúdo é oferecido principalmente de modo digital, no formato de videoaulas, podcasts, artigos, e-books e outros meios, em vista de alcançar um público, jovem e adulto, que sente necessidade de maior densidade reflexiva e embasamento teórico no seu processo de crescimento na fé aplicado às realidades temporais.
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