Minha fé foi provada pelo fogo e disso provém o meu louvor. Eu sabia que cada palavra Tua continha em si a Eternidade, sabia que Tu és o único bem perene, no entanto, ante a fúria do mar, desviei meus olhos de Ti e coloquei-os nas provações. Afundei. E quantas vezes mais! Não tantas quantas as vezes que Tu me levantaste. És pedra! Tu me dizias. És rocha firme na qual está firmada a minha Igreja. Não me sentia assim. Não é verdade que a pedra sempre afunda? Fraquejei e, arrependido, acheguei-me mais uma vez a Ti, Pedra viva rejeitada pelos homens. Rejeitada por mim. Errei. Tu me corrigiste. Endireitaste o rumo do meu barco, fizeste-me pescar tantos peixes quanto povos existiam no mundo. Esses eram Teus planos para a minha vida: tornar-me pescador de almas. Ainda não entendia. Permanecia pedra.
Mostraste-me o fulgor de Tua glória, transfiguraste o Teu semblante para que, ofuscados os olhos da carne, abrissem-se em mim os olhos da fé. Queria ficar ali para sempre, no entanto, longo era o caminho até Jerusalém, como foi longo o caminho para Roma, no qual, mais tarde, encontrei-Te indo morrer novamente por mim. Era necessário continuar caminhando, mesmo que a passos lentos, de pedra.
Episódio 1 | Maria, a primeira testemunha da ressurreição
Episódio 2| Tomé, a fé que vê e crê
Naquela noite fria, no jardim, ofereci-lhe a minha espada, mas Tu desejavas outra muito mais cortante: a espada fidelidade. Segui-Te, desejei permanecer contigo, não como na noite em que dormi, feito pedra, mas junto a Ti. Fui reconhecido como um dos Teus. Tive medo. Neguei-Te por três vezes. Esses mesmos olhos, uma vez ofuscados por Tua luz beatíssima, agora ardiam com o gosto amargo do arrependimento. Eu queria Te seguir, queria confirmar os Teus, mas não me sentia capaz. Insistia na força do braço. Sou pedra. Não compreendia que não é força, mas amor. João soube, por isso, permaneceu.
Morreste. E eu contigo. Crucificado pelo medo, pela dor, pelo arrependimento. Petrificado. Pesada é a cruz quando não a carregamos contigo. Levaram-Te para outro jardim. No meu lugar, outra pedra, a do sepulcro. Era noite. Fez-se silêncio. Naquele shabat, não houve descanso. Na madrugada seguinte, estava sentado junto ao fogo e minha fé continuava a ser provada. O Mestre morreu. Pedro, Pedro! Maria chegou do jardim. Está dizendo que Ele não está lá. Não estou entendendo. Ela está eufórica. Calma, João. Vamos ver o que ela tem a dizer. Responde, pois, Maria, o que havia pelo teu caminho? Não compreendes, Pedro? A pedra rolou!
Corremos. João ia à frente. Não era o peso dos anos que me atrasava, era o peso do arrependimento. Pesava como pedra. Corre, menino! Corre e, no limiar da esperança, na entrada do sepulcro, espera por mim! De fato, a pedra não estava mais lá. Entrei. João veio após mim. Os panos estavam no chão. Cheiravam a mirra. Era um cheiro quente, almiscarado e vivo. Vi o sudário dobrado ao lado. Nele, as marcas da Paixão recordaram-me o óbvio: foi por mim. Não é força, é amor. Pedro, tu me amas? Perguntou-me três vezes. Por fim, compreendi. Eu, pedra. Ele, o Amor Ressuscitado. E disso sou testemunha, como ouro provado pelo fogo e pedra cravada na Rocha firme de Sua fidelidade.
Episódio 3 | Madalena, no teu caminho, o que havia?
Episódio 4| João, a testemunha mais jovem