Institucional

Ser missionária em Chaves

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1383611_10200089751881098_1342508961_nEm virtude do mês missionário, me pediram para escrever um pequeno testemunho sobre o que é ser missionário em Chaves, no Pará. Pela manhã rezava com um texto de São Francisco de Sales que diz: “O Esposo divino diz no Cântico dos cânticos que sua Esposa lhe arrebatou o coração por um de seus olhos e por um de seus cabelos”. Na seqüência, o autor vai discorrendo sobre como devemos entender o texto, ele nos ensina que o olho é a parte mais admirável do corpo, por sua função e estrutura, já o cabelo, é o que há de mais vil, de desprezível. O Senhor nos ensina assim que, “nossas mínimas e mais insignificantes ações não lhe são menos agradáveis que as maiores e as de maior brilho”.

Parece estranho iniciar um testemunho com uma citação assim, mas hoje, mais do que nunca, percebo que ser missionária em Chaves é isso: dar glória ao nosso Deus, nas menores coisas, nas mais escondidas e talvez até desprezíveis aos olhos de muitos. Todos os dias, o Senhor em sua infinita misericórdia e bondade, nos dá a substância de nosso louvor, o Senhor se agrada dos olhos de sua amada, de seus grandes feitos, mas aqui, Ele se encanta mesmo é de seus cabelos, é das pequenas ofertas de amor que ela lhe oferece, escondida por Amor, escondida por ter sido Encontrada, escondida Nele.

Para chegar até aqui, temos que trilhar um longo caminho. Para mim, que vim da Missão do Shalom em Santo Amaro (SP), foi um dia inteiro de viajem, de carro, avião, ônibus e por fim o barco. Quando estava quase em casa, o Senhor me presenteou com o nascer do Sol tendo por berço as águas do Amazonas, uma entre tantas imagens que guardarei comigo para sempre.

Vim escrever este testemunho pensando: “o que posso dizer, Senhor, sobre algo que eu ainda não sei entender, é Mistério pra mim, coisa que só sei contemplar, e é disso que tenho vivido?” Então vou dizer do que vejo, sem me ater a dar respostas que não tenho.

Vejo que cada dia é novo, é mistério de cruz e ressurreição. Vejo um povo que tem uma fé primitiva, todos acreditam em Deus, mesmo não sabendo ao certo quem é Ele, vejo gente que padece de todo tipo de fome, fome material, fome de dignidade, fome de Amor, fome de Paz, fome de Deus, mas vejo também um povo que sempre tem algo a oferecer, com um profundo desejo de partilhar, mesmo que seja a sua fome.

Vejo crianças mendigando afeto, que se aproximam das nossas pernas e encostam a cabeça na gente pedindo sem palavras por um cafuné, um carinho, mulheres adultas que olham pra nós como filhas a pedir consolo, somos aqui pais e mães de um povo que tem fome.

Penso que ser missionário em Chaves é isto: viver essa experiência de maternidade espiritual, saber ouvir, mais do que falar, saber falar daquele jeito simples como Jesus fazia em suas parábolas, saber ensinar e saber esperar o tempo de cada um, saber partilhar e saber ensinar a pescar, mas, acima de tudo saber que em terra de missão nada se sabe, tudo se aprende, tudo se vive, tudo se recebe, é Dom, é graça, é substância do nosso Louvor.

Marlene da S. Antonio

Postulante da Comunidade de Aliança Shalom, missionária em Chaves (PA)

 

 


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