Fui chamado por duas irmãs do ministério de Promoção Humana (do qual também faço parte recentemente), para abordarmos alguns irmãos que estavam deitados na calçada, ali mesmo no Largo 13 (zona sul de São Paulo), onde estava sendo realizado o evento. Chegando ao local abordamos três irmãos que estavam muito alcoolizados.
O primeiro deles logo aceitou o convite e ficou de pé com nossa ajuda, estava conseguindo andar apoiado em alguém. O segundo não conseguimos acordar, estava bem coberto por muitas roupas, e acabamos o deixando dormindo. O terceiro, ao conseguirmos acorda-lo e fazermos o convite, nos estendeu a mão!
Não tinha forças pra ficar de pé, estava com o braço direito quebrado, o gesso estava derretido pois havia molhado, havia apenas faixas muito sujas. O apoiamos pelos braços e conseguimos colocá-lo de pé! Ele então passou o braço esquerdo sobre meus ombros e começamos a caminhar lentamente em direção a Igreja.
No caminho paramos muitas vezes, ele estava bem debilitado e mal conseguia sustentar seu peso. Me dizia que não queria cair, eu respondia que não deixaria isso acontecer. Foi inevitável não lembrar do calvário, onde Jesus carregava sua cruz em meio a multidão. Ali percebi que eu era apenas o Cirineu, já que o pobre é o próprio Cristo!
E Assim como no Calvário muitos zombavam de Jesus, não foi diferente com o irmão! Alguns gritavam: “- Hee cachaça! – Já falei pra parar de beber! – Isso ainda vai te matar!” Outros nos olhavam espantados com nossa ação, em meio a agitação do cotidiano. Já na rua da Igreja um outro irmão carroceiro, o apoiou do outro lado, dividindo o peso comigo, (a ajuda vem de onde menos esperamos) e assim conseguimos chegar até o evento, onde ele pode se alimentar, e receber cuidados médicos.
O Jesus que tive a graça de ajudar se chama Wellington, disse ter 36 anos, e tinha sido atropelado, seu braço estava quebrado em quatro lugares, já tinha passado por duas cirurgias e dizia estar aguardando uma terceira. Estava sentindo muita dor, e implorava por ajuda! Entendi ali que se alcoolizar era o “remédio” que ele tinha disponível pra não sentir dor!
Um sentimento de impotência e ao mesmo tempo gratidão a Deus por estar podendo fazer o mínimo por aquele irmão se misturavam dentro de mim! Tenho aprendido que o Cristo sofre nas ruas, nos hospitais, nos asilos, no pobre! Quantas vezes passei por eles nas calçadas e por não poder fazer muito, acabei não fazendo nada.
A maior fome que eles tem é a de amor! Já que não podemos tirar suas cruzes, que possamos pelo menos ser Cirineus e ajuda-los a carrega-las. No nosso nada! Deus realiza seu tudo! A Ele meu muito obrigado!
Fabio Dantas, 30 anos, membro de grupo de oração no Shalom Interlargos.