“Ei, baixinho! Não consigo te alcançar, não”, disse eu ao Valdemar Junior quando fui colocar seu Tau de Discípulo, antes de dizer a fórmula de acolhida na nossa família. “Tampinha”, eu chegava à altura dos ombros dele.
Rindo, ele abaixou-se ligeiramente e eu fiquei na ponta dos pés para lhe impor o Tau. Depois — vá entender! — dedo em riste, — ainda era no tempo em que a gente podia se expressar e se abraçar — meio a apontar para o céu, meio a recomendar seriamente, disse, em bom cearês:
“E olhe, ‘Seu Caba’, trate de ser santo, viu? Trate de ser santo, viu, ‘Seu Caba’ ?!?”
Sabe Deus porque disse isso ao Valdemar Junior, que está no céu, após somente 26 anos por aqui. O fato é que — hoje vejo claramente — a recomendação era totalmente desnecessária. Ser santo era o que ele mais queria.
Hoje, foi seu sepultamento. Naquele estilo antigo, no qual duas pás jogam terra sobre o caixão, em barulho surdo, ritmado, pof… pof… pof… pof… até que, já toda coberta, a madeira desiste de ressoar e lembra, silenciosa:
“És pó e ao pó voltarás!” Outra pá de terra:
“És pó!”
E mais outra, e outra ainda, enterrando, inclemente, o orgulho de quem presta ouvidos:
” És pó! És pó! És pó! És pó!”
Finalmente, postas sobre ela as coroas de flores, entende a terra que é hora de calar-se e abraçar o esquife:
“És pó! Sou pó! Somos pó!” E cala-se.
Do céu, o Juninsh olha os que o amaram em cortejo minguado de pandemia:
“Jesus, consola esse povo. Manda Teu Espírito convencê-los de que estou bem. Maria, enxuga o pranto deles. Mostra que sou feliz, muito feliz!”
“Nos últimos dias de vida, quando ainda não estava sedado, ele sempre dizia que a hora que Deus o quisesse levar estava bem para ele…” Segredo revelado. Interpretado pela Viviane, imediatamente depois, no áudio de agradecimento:
“Ele era missionário… era feliz!”
“A consagração… não é acidental, é essencial”, deu graças o Valdemar em suas Primeiras Promessas. Entendeu tudo. Não se pertencia mais. Na hora que Deus quisesse, seja lá o que quisesse, estava bem para ele.
“Trate de ser santo, ‘Seu Cabra’!” Desperdício de palavras. Valdemar Junior trazia da graça do Batismo, cultivada pela família, o segredo da santidade: “Na hora que Deus quiser…”
Junin, acho que vou rever nosso diálogo. Eu é que me abaixo, agora que você é infinitamente maior e conseguiu ser ainda mais alto. Fico à altura dos seus pés — enormes! — e, com reverência e respeito, o ouço dizer, sorridente, dedo em riste:
“E olhe, Dona Emmir, trate de ser santa, viu, ‘Sua Cabrita’?!?”
Que texto lindo. Que simplicidade e doçura de Emmir. Que homem santo