É urgente que o projeto familiar comece desde a infância, se aprofunde na juventude, se fortaleça na vida adulta e gere nos pretendentes escolhas conscientes e consistentes em vista da constituição da nova família
Numa ocasião, uma mãe foi chamada pela escola de seu filho para conversar sobre a situação dele: baixo desempenho, comportamento indisciplinado, agressividade nas relações com os pares e professores. Diante da situação, a mãe, depois de ouvir a coordenadora, disse: “Eu não sei mais o que fazer. Por favor, façam vocês alguma coisa por ele”. Esse quadro, não raramente, acontece em nossos dias nas escolas. Os pais, inseguros e frágeis, desejam delegar à escola a missão de educar seus filhos. Mas ela pouco pode realizar sem a ajuda significativa dos pais, que são os responsáveis diretos pela educação.
Essa missão é compartilhada, de certa forma, pela instituição escolar. Porém, a escola dos filhos pode ser sempre escolhida entre tantas outras escolas. Mas a família não. É no seio da família, através dos gestos, da palavra, das vivências cotidianas que se vão forjando o caráter e a personalidade das crianças.
Formação de valores
Educar é ajudar cada filho a crescer como pessoa, o que implica em proporcionar-lhe meios para adquirir e desenvolver as virtudes e os valores essenciais à vida humana, tais como: a sinceridade, a generosidade, a obediência, a honestidade, a coragem e, especialmente, a fé e o amor a Deus e aos outros. É neste chão da fé que a vida encontra seu sentido mais elevado e se enche de grandes significados, que justificam a busca do bem acima de tudo, direcionando o olhar para a conquista das verdadeiras alegrias, aquelas do Céu, da vida eterna.
A família é esta atmosfera que a pessoa necessita para “respirar”, para se expressar, para ser. Entre seus membros deve haver laços de afeto incondicionais, que vão se constituindo em um ambiente propício para que a educação se desenvolva. Os valores que se cultivam no lar irão marcar de forma indelével o homem e a mulher de amanhã.
Nesse contexto, considerando que o ser humano é um ser mimético, ou seja, aprende muito por imitação, é de suma importância que o filho e a filha encontrem no pai e na mãe, respectivamente, referenciais firmados de masculinidade e feminilidade, com seus papéis coerentes e consistentes no exercício próprio da paternidade e da maternidade. A inversão de papéis pode acarretar dificuldades na formação da personalidade dos filhos. É relevante referir que o papel vai muito além da distribuição de tarefas domésticas.
Como educar?
Especialistas sobre o comportamento humano atualmente adotam linhas de pensamento diversas e que, às vezes, divergem ou se confundem. De certa forma, elas também geram inseguranças nos pais quanto à condução da educação dos filhos. Eles se perguntam: por onde ir? Como educar? Quais os valores que se deve priorizar? Que atitudes tomar diante dos desafios inerentes à missão de educar?
Por falta de uma reflexão mais profunda, acontece que muitos se deixam levar por modismos, por novas mentalidades que a mídia vai lançando e afirmando como verdades. O tempo vai passando e com ele os filhos vão crescendo meio que “a reboque” de tudo isso.
É essencial parar para refletir e fazer escolhas que realmente levem ao verdadeiro sentido da vida. Muitas vezes a formação da família tem sido improvisada: se namora, se noiva e se decide casar sem um projeto significativo. Os preparativos para se constituir uma nova família passam pelas exterior idades e nem tanto pela construção desse importante projeto que definirá os rumos aonde queremos chegar.
Até existe em nós uma “boa intenção” de buscar a felicidade, o bem estar dos filhos, mas isso é insuficiente hoje, quando temos uma realidade mundial em que os verdadeiros valores têm sido enfraquecidos, em favor do hedonismo, do individualismo e do relativismo moral e religioso.
Projeto familiar
É urgente que o projeto familiar comece desde a infância, se aprofunde na juventude, se fortaleça na vida adulta e gere nos pretendentes escolhas conscientes e consistentes em vista da constituição da nova família.
Os casais que já começam a espera dos filhos precisam buscar a preparação para educá-los. E a primeira condição para preparar-se adequadamente é a vivência coerente da fé. É neste terreno fecundo de valores autênticos que crescerão os filhos, tornando-se homens e mulheres de bem, equilibrados, fortes e verdadeiramente felizes.
Além desse aspecto, é importante trocar ideias com pais de maior experiência, com especialistas competentes na área, dentro de escolas que trazem uma proposta educativa séria e que saberão também indicar profissionais retos e competentes. Importante é, ainda, a leitura de livros que tratem do assunto numa perspectiva dos valores essenciais à pessoa humana em suas relações.
A Igreja tem feito um esforço muito positivo na tentativa de dar orientação e apoio às famílias. É necessário ir ao encontro dos que trabalham nessa área, e, especialmente, avançar na vivência forte da fé e dos valores cristãos, contando com o auxílio da graça de Deus que não nos faltará, se a ela nos abrirmos. É preciso também oportunizar aos filhos nas diversas faixas etárias a experiência religiosa, através do incentivo à participação em grupos de espiritualidade específicos, de jovens, crianças, adolescentes, adultos, namorados, noivos, entre outros.
Ana Laura Martins
Fonte: Revista Shalom Maná